A produção de vinha de talha é uma das mais recentes apostas da Adega Cooperativa de Vidigueira, Cuba e Alvito (ACV), projeto que visa preservar as vinhas centenárias que alguns dos seus associados ainda possuem.
O projeto arrancou em 2017, numa altura em que já era possível “certificar vinho de talha como DOC Alentejo”, tendo-se consolidado em 2021, com o lançamento de uma marca própria, o Vidigueira Vinho de Talha DOC, explica ao “CA” o presidente do conselho de administração da instituição, José Miguel D’Almeida.
“Desde que temos este projeto, todas as uvas que recebemos na adega de vinhas centenárias vai para vinho de talha”, adianta.
O gestor diz ainda que, para a Adega, “fazer vinho de talha de uvas comuns não tinha sentido”. Por isso, “decidimos fazer a partir de vinhas centenárias”, acrescenta.
Ao todo, a ACV recebe uvas de um total de 25 parcelas de vinhas centenárias, propriedade de 11 cooperantes, num total de 9,8 hectares onde predominam as castas Antão Vaz, Manteúdo, Larião e Roupeiro, entre outras. A produção permite o enchimento de nove talhas, com cerca de 700 litros de vinho cada que são depois engarrafados.
Segundo José Miguel D’Almeida, as vinhas centenárias são “herdeiras” de “um sistema vitícola antigo” em solos de origem granítica “extremamente pobres”, sem mobilização dos solos, rega ou “padronização” em termos das castas.
O projeto da ACV acaba por ser “um estímulo para que as pessoas não destruam este património”, observa José Miguel D’Almeida, adiantando que, por isso mesmo, a Adega paga melhor a uva proveniente das vinhas centenárias do que a restante uva.
“No geral, pagamos em média a 46 cêntimos o quilo [de uva normal], mas nas vinhas centenárias já vamos, na próxima campanha, para cerca de 82 cêntimos o quilo”, esclarece.
Ainda assim, o presidente da administração da ACV teme que este projeto acabe por ser prejudicado pela venda das vinhas centenárias a outros agentes económicos.
“As vinhas centenárias têm valorizado bastante e agora temos gente que em vez de as querer reestruturar ao abrigo do [programa] Vitis, querem é vendê-las. […] Portanto, o nosso projeto corre o risco de ter falta de vinha”, conclui.