“AACB presta grande apoio no Campo Branco”

“AACB presta grande apoio no Campo Branco”

Foi há 30 anos que nasceu a Associação de Agricultores do Campo Branco. Três décadas depois, o presidente (e também fundador e sócio nº 1 da instituição) considera que o balanço do trabalho feito é mais que positivo. "Esta Associação presta um grande apoio aos nossos agricultores e esse apoio não se ficou só pelas ajudas comunitárias: temos vários serviços que são mais-valias para os nossos associados, desde a sanidade às agro-ambientais, a recepção de candidaturas ou o apoio técnico", diz José da Luz Pereira em entrevista ao "CA".

Trinta anos após a sua fundação, qual o maior contributo da Associação de Agricultores do Campo Branco (AACB) para a agricultura da região?
Devido à entrada de Portugal na CEE os agricultores iam receber ajudas comunitárias e, para tal, teriam de cumprir determinadas regras. E para cumprir essas regras tenham que ser apoiados por uma organização. Ora não havendo nada aqui na região do Campo Branco, no final dos anos 80 começámos a delinear criar uma organização. Este foi o principal objectivo na criação da AACB. Portanto, esta associação nasce por não haver nenhuma organização que pudesse aglutinar os agricultores para poderem ter ajudas comunitárias e tirar partido das mais-valias da nossa entrada na CEE.

Sente que AACB tem cumprido o seu papel nestes 30 anos?
Em pleno! Esta Associação presta um grande apoio aos nossos agricultores e esse apoio não se ficou só pelas ajudas comunitárias. Hoje temos vários serviços que são mais-valias para os nossos associados, desde a sanidade às agro-ambientais, a recepção de candidaturas, o apoio técnico… Temos também tido um grande trabalho na questão do abastecimento de água à pecuária da nossa zona, foram criadas imensas infra-estruturas e os agricultores – por intermédio de apoios nacionais e comunitários – adquiriram muitos meios de extracção de água. Hoje este é um problema que está em grande parte resolvido.

Foi um dos fundadores da Associação e é hoje o sócio nº 1. Imaginava que, 30 anos depois, a AACB seria o que é hoje?
Tínhamos noção que havia espaço para andar. E foi o que se fez! Temos estando sempre na ‘linha da frente’ na resolução de problemas.

Nestes 30 anos, qual o momento mais decisivo para a AACB?
No princípio dos Anos 90 tivemos três factores que foram importantes e primordiais. Primeiro conseguimos garantir a criação do Agrupamento de Defesa Sanitária (ADS) do Campo Branco, que na altura tinha muita oposição. Mas graças ao empenhamento do engenheiro João Luís Figueira, que era à época sub-director regional de Agricultura, conseguiu-se a criação do ADS, que foi um marco importante. Depois a criação do Plano Zonal de Castro Verde, que foi a primeira medida agro-ambiental a nível da CEE em que entraram agricultores e ambientalistas. Era uma medida mal-vista na altura, inclusive pelas restantes zonas do país, por verem ligados o ambiente com a agricultura, mas hoje já há um plafond muito grande para as medidas agro-ambientais e não chega. Veja-se bem a evolução que isto teve! E aí a AACB teve um papel fundamental, porque ‘contra ventos e marés’ fez esse acordo. Ainda nos primeiros anos da Associação tivemos um problema de seca e conseguimos uma ajuda muito importante para o combater, com subvenções a fundo perdido para agricultores e produtores, além da dinamização – por parte da associação – de um projecto que permitiu a construção de várias infra-estruturas para captação de água e a compra de várias cisternas. Ou seja, nos primeiros cinco anos de existência da AACB foram dados passos muito importantes e decisivos para os dias de hoje.

O Plano Zonal foi criado em 1995. Foi um momento determinante para a manutenção da actividade na região?
Foi importante, foi! Na altura foi bastante significativo, porque tinha acabado o período áureo dos cereais de sequeiro e as explorações começavam a ter dificuldades financeiras. A vinda do Plano Zonal foi bastante importante e permitiu uma transição entre esse período final dos cereais de sequeiro, em que houve uma quebra grande no rendimento das explorações.

Estamos em pleno processo de negociação da PAC pós-2020. Que futuro perspectiva para o Plano Zonal?
Estou convencido que o Plano Zonal e as agro-ambientais na generalidade vão continuar. Com cada vez mais zonas com explorações intensivas, é necessário existirem zonas naturais que possam permitir alguma ‘respiração’, digamos assim. E então acho que estas regiões que não têm a possibilidade de ter a médio-prazo regadio têm de ser apoiadas, porque senão a desertificação humana – que já tem aqui algum relevo – vai acentuar-se muito seriamente.

Ser agricultor no Campo Branco ainda é uma actividade rentável?
É muito difícil, pois como em tudo na vida houve um aumento considerável dos custos dos factores de produção. É certo que nestes últimos anos os preços dos animais [para abate] têm tido alguma estabilidade, mas de qualquer maneira os preços ainda estão baixos tendo em conta os custos dos factores de produção. E hoje praticamente ninguém faz cereais para comercializar, apenas para consumo próprio das explorações. Porque estar a fazer cereais para vender é inviável! Este ano agrícola, mais do que nunca, está a sentir-se isso: as explorações de grande área estão a reduzir drasticamente a produção de cereais.

Já afirmou, em diversas ocasiões anteriores, que o envelhecimento dos agricultores e produtores é o maior problema do sector nesta região do Campo Branco. Os últimos tempos não têm trazido uma inversão desse quadro?
Neste momento nota-se mais gente nova a ficar na agricultura, mas ainda há muitas explorações em que não há quem continue o trabalho. Daí uma grande preocupação da nossa parte. Tem de aparecer gente nova para continuar a fazer agricultura.

Trinta anos depois, que desafios se colocam à AACB?
A AACB está na chamada ‘velocidade de cruzeiro’, ou seja, estamos a fazer aquilo que podemos fazer. E se continuarmos a prestar toda esta colaboração e serviços aos nossos associados já é muito bom, quer no apoio técnico às candidaturas, na prestação de serviços de sanidade animal e profilaxia… Tudo isso é essencial para a vida dos agricultores. É o que estamos a fazer e é o que vamos continuar a fazer! O que não quer dizer que não possa surgir qualquer novo projecto para servir para a região. E vamos continuar a fazer valer os nossos direitos junto do Ministério [da Agricultura], porque não podemos ser abandonados.

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Correio Alentejo

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