O canadiano Kenneth Norris cumpre dentro dias um ano enquanto administrador-delegado da Somincor e em entrevista exclusiva ao “CA” fala sobre o presente e o futuro da empresa mineira de Neves-Corvo, no concelho de Castro Verde, com o projecto de expansão do zinco à cabeça. O gestor diz mesmo que “no quadro do actual conhecimento, é possível desde já reconhecer que a actividade da Somincor tem potencial de prolongar a sua actividade para lá do prazo actual de vida da mina”.
Começou há 30 anos a exploração mineira em Neves-Corvo. Que representa este momento para a Somincor?
Estes 30 anos são muito importantes para a Somincor, mas também para o seu accionista desde 2006, a Lundin Mining. Estes 30 anos de actividade mineira são sinónimo de bem-estar social, de qualidade de vida na região e de desenvolvimento. São também 30 anos que formaram uma empresa sólida e que, neste momento, está em transformação. Estamos a transitar para uma mina essencialmente de zinco, o que se tornará claro nos próximos anos. Em termos nacionais, somos também uma empresa importante. Tudo o que produzimos é exportado, pelo que estamos entre os principais exportadores do país.
Sente que, volvidos 30 anos, a Somincor é hoje uma referência no sector em termos mundiais?
A operação de Neves-Corvo está muito comprometida com as boas práticas e as tendências mais actuais do sector em todo o mundo. A segurança é um valor inquestionável para nós e todos os dias trabalhamos orientados para a meta de zero lesões, promovendo um ambiente seguro e uma cultura interna que integre comportamentos seguros como parte da sua identidade. Acresce que continuamente inovamos nos nossos procedimentos, nas tecnologias que utilizamos, contribuindo para a boa saúde e bem-estar dos nossos colaboradores e dando resposta ao nosso compromisso de respeito pelo ambiente e pela biodiversidade. Tal tem implícito o respeito pelas comunidades, pelas suas tradições e pelo seu território. Acreditamos que a Somincor tem criado condições para uma relação mais próxima com a comunidade. Não apenas em acções como o “Open House” ou os “Encontros com as Comunidades”, como, aos poucos, procurando introduzir uma mudança no investimento social que fazemos, que está hoje muito focado em procurar oportunidades que promovam a diversificação económica da região associada à redução de dependência da actividade mineira, a agricultura sustentável, a educação ambiental e a protecção da biodiversidade da região, entre outras. Em 2018, a Somincor e a Fundação Lundin investiram cerca de 650 mil euros na comunidade, destacando-se o Curso de Empreendedorismo e Diversificação Económica em que o Audax/ ISCTE veio até Castro Verde formar empreendedores e pequenos empresários e o desenvolvimento de oportunidades de turismo de natureza na região do Baixo Alentejo.
O ano de 2019 promete ser marcante em Neves-Corvo com o projecto de expansão do zinco (ZEP). Estará tudo pronto nos timings previstos?
Sim, trata-se do maior investimento realizado na operação desde que esta iniciou a sua actividade. Está previsto que os trabalhos de construção estejam concluídos no início de 2020 e que os níveis de produção, em especial de zinco, comecem a aumentar em seguida. Estamos a falar de aumentar para mais do dobro a produção de zinco, ou seja, passar para cerca de 150 mil toneladas/ ano.
Anunciou recentemente que o investimento no ZEP passou dos 260 para os 270 milhões de euros. Porquê?
Foi uma actualização feita em Outubro. Na última semana de Novembro, a Lundin Mining publicou uma nova actualização para 320 milhões de euros. Este facto mostra a importância que o ZEP tem para a Somincor e para a Lundin Mining. Foi, sobretudo, uma performance mais frágil de construção face ao planeado, tanto no fundo como à superfície, que levou à extensão do prazo para a total conclusão de todos os aspectos do projecto. Estamos confiantes que as instalações de superfície e o desenvolvimento de fundo estarão completos e com a produção a aumentar no primeiro trimestre de 2020, com os valores globais de crescimento alcançados no fim desse ano.
Que impacto vai este projecto ter na Somincor (e, consequentemente, na região)?
A Somincor vai conseguir aumentar a produção e, muito importante, a sua produtividade, tornando-se mais competitiva internacionalmente. Enquanto decorrem os trabalhos de construção, o que é já visível, são criados postos de trabalho (em média 350, podendo pontualmente chegar aos 600). A Somincor, num contexto em que exporta toda a sua produção, tem de garantir que se mantém competitiva no mercado internacional. Este factor é essencial para que se mantenha como um agente económico importante em Portugal, e particularmente nesta região, contribuindo para o bem-estar e o desenvolvimento dos cinco municípios mais próximos da sua operação.
No âmbito do projecto ZEP, a Agência Portuguesa do Ambiente (APA) solicitou à Somincor um estudo de viabilidade do prolongamento da vida útil da mina. Apesar de ainda estarmos em 2018, já há dados concretos sobre esta questão?
Importa esclarecer que o Projecto de Expansão do Zinco é um investimento na melhoria de infra-estruturas à superfície e no fundo da mina e não um trabalho de prospecção e pesquisa em si. Por isso, temos afirmado que não é este projecto que pode fazer alterar a vida útil da mina. Em paralelo a este projecto, a Somincor tem uma grande dinâmica nas actividades de avaliação e reconhecimento das reservas disponíveis na sua área de concessão. No quadro do actual conhecimento, é possível desde já reconhecer que a actividade da Somincor tem potencial de prolongar a sua actividade para lá do prazo actual de vida da mina. No entanto, o estudo de viabilidade que se encontra em preparação para responder a esta solicitação da APA irá concretizar de forma mais rigorosa o potencial prolongamento da vida da mina.
A par do ZEP, a Somincor pode, até 2023, fazer prospeção e pesquisa de minério nesta zona. Quais as vossas expectativas?
Sim, esse é, como acabo de explicar, um dos focos do nosso investimento além do ZEP. Em Junho deste ano a Somincor assinou um contrato com o Estado português que lhe permite realizar, potencialmente até 2023, trabalhos de prospecção e pesquisa de depósitos minerais que possam constituir fontes de cobre, zinco e chumbo numa área de 141 Km2 ao redor da actual zona de concessão mineira de Neves-Corvo. Só com este tipo de investimento, com o qual a Somincor está totalmente comprometida, poderão vir a ser encontrados novos depósitos de minério que, face à avaliação das reservas, poderão permitir o alargamento da vida da mina além do que actualmente se prevê.
O final de 2017 e início de 2018 ficaram marcados pela tensão laboral em Neves-Corvo. Essa situação está ultrapassada?
Presentemente temos um ambiente positivo. Para tal, penso que uma comunicação aberta com os nossos colaboradores, que trimestralmente se reúnem com a administração, foi um bom contributo. Os desafios de uma organização que emprega mais de 1.200 trabalhadores directos e mais de 1.000 indiretos são permanentes, mas é reconhecida pelos nossos trabalhadores a extrema relevância social da Somincor.
A Somincor fechou o exercício de 2017 com um resultado acima do obtido em 2016, ainda que a produção tenha diminuído. Quais são as previsões para este ano, que está a terminar?
O que podemos enfatizar é que, após os números registados nos primeiros três trimestres deste ano, revimos em alta as nossas previsões relativamente à produção de cobre e de zinco, passando no primeiro caso para entre 74 mil e 76 mil toneladas e, no caso do zinco, para entre 43 mil e 45 mil toneladas.
Revelou recentemente que a Somincor está a estudar a possibilidade de vir a trabalhar com escolas profissionais da região. Que ideia é esta? O que se pretende com a mesma?
É ainda uma ideia conceptual e é prematuro discuti-la neste momento. Estamos a tentar determinar se e como o poderíamos fazer. Essa resposta foi dada no contexto dos desafios que se colocam à Somincor por estar no interior. O nosso grande desafio é continuar a atrair bons profissionais para a empresa, quadros qualificados. Paralelamente, estamos comprometidos com a contratação local e isso pode tornar-se desafiante, na medida em que necessitamos de conhecimentos especializados e técnicos que, por vezes, são difíceis de encontrar na região. Neste quadro, a importância de potenciais parcerias com instituições de ensino locais é importante. A disponibilidade de formação profissional e técnica é importante. Em simultâneo, queremos trazer mulheres para a nossa força de trabalho, também ao nível operacional. A nossa intenção é que, dentro de quatro anos, 20% da nossa força de trabalho seja composta por mulheres.
Em 2018 a empresa dinamizou um Curso de Empreendedorismo e Diversificação Económica. Esta preocupação com a dinamização da economia local vai manter-se em 2019?
Este é um projecto desenvolvido em parceria com a Fundação Lundin no âmbito da diversificação económica na região. A formação é uma das mais importantes contribuições que podemos dar para atingir esse objectivo. A nossa intenção foi permitir que empreendedores tivessem acesso a formação superior em Castro Verde, orientada por uma instituição de referência nacional como o Audax/ ISCTE, que permitisse redefinir os modelos de gestão das suas empresas ou as suas ideias de negócio, melhorá-los e torná-los sólidos e auto-suficientes. Indubitavelmente, esta é uma contribuição para o desenvolvimento do território e para a fixação de pessoas na região. As mais-valias deste tipo de iniciativa foram claramente identificadas pelos participantes no curso, o que muito nos satisfaz. Os participantes na primeira edição já foram informados de que poderão aceder gratuitamente à Fase II deste programa, que dará resposta ao que os próprios referiram como necessidades: módulos de mentoria, em que possam ter um apoio dedicado no desenvolvimento dos seus planos de negócio e, por outro lado, formação no acesso e concurso a fundos disponíveis a nível nacional e internacional. Uma nova edição, com novos participantes, está a ser desenvolvida com ajustes em relação à primeira. Prevemos continuar a trabalhar com a Fundação Lundin e com outros parceiros neste tipo de projectos em 2019.
Quando serão conhecidas as conclusões sobre o estudo relativo ao impacto da empresa na região? Qual a vossa expectativa sobre o mesmo?
Esperamos ter os resultados finais durante o primeiro trimestre de 2019 e partilhar as conclusões principais nos “Encontros com a Comunidade” e noutras oportunidades de comunicação ao longo do ano.
Cumpridos 30 anos, qual o maior desafio que a Somincor tem pela frente?
Cumpridos 30 anos, o país e o mundo estão muito diferentes. É preciso que continuemos a ser competitivos. Assegurar esta competitividade é o desafio que temos pela frente, e isso implica concentrarmo-nos em ser uma operação de excelência, com bons níveis de segurança dos nossos colaboradores, orientada para a sustentabilidade ambiental das suas práticas e para o respeito das comunidades, além de garantir níveis de produção que cumpram as expectativas do investimento do nosso accionista.