A pequena Matilde, de apenas nove anos, é a primeira a dar o mote. Já conhece bem as rimas iniciais da “Laranja da China” e, por isso, canta sem engasgos a moda, sendo rapidamente seguida por mais de seis dezenas de pequenas vozes, com alguns risos e olhares de espanto pelo meio. “Muito bem meninos, muito bem”, exclama no fim o ensaiador José Diogo Bento.
Foram assim os primeiros minutos de ensaio do novo Grupo Coral Infantil de Ourique, que se juntou pela primeira vez na segunda-feira, 30, ao final da tarde, no Centro de Convívio da vila. Uma iniciativa da Câmara Municipal para dar sequência à Oficina de Cante que promove nas escolas do 1º ciclo do concelho e que conta com a participação de 63 crianças dos cinco aos 12 anos.
“Obviamente que sabíamos que íamos ter muitos inscritos, porque os miúdos manifestam diariamente, na Oficina de Cante, este gosto, mas 63 [crianças inscritas] surpreendeu-nos”, reconhece ao “CA” o vice-presidente da autarquia, Pedro Camacho.
Ao leme do novo grupo surge José Diogo Bento, 28 anos, músico profissional, cantador alentejano, ensaiador de grupos corais e formador de cante alentejano, que já integrou vários projetos musicais.
“Atenção que estes ensaios são muito importantes para criarmos o nosso reportório”, pede ele aos pequenos “cantadores do futuro”, que o escutam com muita atenção já depois de interpretada nova moda, desta feita a tradicional “Castelo de Beja”. “Na escola é para aprender, mas aqui é uma preparação para convites e eventuais saídas. Por isso concentração máxima”, alerta.
“Queremos criar um público e que estas crianças saibam e tenham noção da importância do cante alentejano no passado, no presente e também no futuro”, diz o ensaiador José Diogo Bento.
Já são quase oito da noite quando os elementos do novo Grupo Coral Infantil de Ourique regressam a casa. “Para primeiro ensaio não foi mau, até porque isto não é novidade nenhuma para eles. O que tem de diferente é ser a preparação para a atuação”, diz José Diogo Bento ao “CA”.
Para o ensaiador, este projeto é um “desafio bom”, até porque permite criar “algo diferente no Alentejo, que faz muita falta” ao cante às vozes que foi considerado património imaterial da Humanidade pela UNESCO em 2014.
Mas acima de tudo, diz, “queremos criar um público e que estas crianças saibam e tenham noção da importância do cante alentejano no passado, no presente e também no futuro”. “Tenho a certeza que vamos fazer a diferença no concelho e um pouco por todo o Alentejo”, acrescenta.
O ensaiador mostra-se igualmente agradado com o número de crianças inscritas no grupo cora. “Estamos a falar de mais de metade dos alunos do 1º ciclo que existem no concelho de Ourique. E estão neste grupo porque quiseram, porque gostam de cantar, porque se sentem bem quando cantam e gostam de aprender”, afiança.
O projeto está ainda em fase embrionária, mas a “estreia” já está prevista: será em março, em plena Feira do Porco Alentejano. “É o melhor palco e a melhor altura para que as crianças se possam mostrar aos pais, à população de Ourique e não só. Para que todos percebam que em Ourique canta-se e está-se a aprender o cante alentejano!”, conclui José Diogo Bento.