Apesar de soalheiros, os primeiros dias de 2022 estão a deixar desesperados os agricultores baixo-alentejanos. A seca está a agravar-se em todo o território e a “crónica” falta de chuva está a ter pesados reflexos na produção agrícola e na pecuária, assim como na rentabilidade das explorações.
“A situação de seca está a prejudicar as culturas e as pastagens. A situação é deveras preocupante”, desabafa ao “CA” o presidente da Associação de Agricultores do Campo Branco (AACB), José da Luz Pereira.
Nesta área, que abrange os concelhos de Castro Verde e Almodôvar e parte dos municípios de Aljustrel, Mértola e Ourique, impera o sequeiro e a pecuária extensiva. A falta de chuva tem vindo a agudizar problemas há muito sentidos entre os agricultores locais.
“Com o tempo seco e vento, a situação tem-se vindo a agravar, porque não há humidade e nada favorece o desenvolvimento das plantas, pelo contrário”, alerta José da Luz Pereira, considerando que podem estar “em causa” as produções de cereais de Outono-Inverno, mas também as futuras pastagens para alimentação do gado.
“Desde setembro [de 2021] que os animais estão a ser alimentados ‘à mão’, ou seja, a comer concentrados, rações, fenos, silagens ou palha, o que por norma só acontecia a partir desta altura. Mas as rações estão a subir de preço todos os dias e as palhas e os fenos estão praticamente esgotadas nas explorações”, acrescenta.
Tudo isto faz pairar uma enorme nuvem de dúvidas sobre o futuro próximo no Campo Branco. “Nesta altura não se pode dizer nada, é uma incógnita total. Mas se continuar assim sem chover por mais tempo, podemos correr o risco” de vir a ter um ano “de produção zero”, reconhece José da Luz Pereira.
Este cenário leva o presidente da AACB a pedir que sejam “tomadas medidas” para uma situação “que se verifica nas áreas de sequeiro do Alentejo, mas também nas Beiras e por aí acima”.
“É uma situação bastante alarmante e que nos traz muito preocupados. É o futuro da nossa agricultura que está em questão. Se a terra não dá, é muito difícil produzir e alimentar os animais”, remata.
“Se continuar assim sem chover por mais tempo, podemos correr o risco” de vir a ter um ano “de produção zero”, reconhece José da Luz Pereira.
Mas não se pense que a seca causa apenas problemas a regiões de sequeiro, como o Campo Branco. A poucos quilómetros de distância, na área de influência do Roxo, que abrange sobretudo o concelho de Aljustrel e onde predomina o olival e o amendoal, a falta de chuva também causa enormes “dores de cabeça” aos agricultores, que se vêm forçados a ter de gastar mais dinheiro para garantir água nas suas culturas.
“Se não chover, toda a água” para a agricultura no Roxo em 2022 “virá de Alqueva”, afiança ao “CA” António Parreira, presidente da Associação de Beneficiários do Roxo (ABRoxo).
De acordo com este responsável, a albufeira do Roxo vai necessitar de “36 milhões de metros cúbicos de água, contando já com as perdas”, para a agricultura em 2022, tendo apenas disponível um volume útil de cerca de seis milhões de metros cúbicos, o que corresponde a apenas 6,6% da sua capacidade total.
Por isso mesmo, “quando preparámos o nosso orçamento para este ano tivemos de prever que toda a água que consumíamos vinha de Alqueva”, o que “representa um custo acima de um milhão de euros”, que terá de ser imputado aos agricultores, diz António Parreira, para logo acrescentar: “Se tem chovido, não tínhamos este custo”.
Para o presidente da ABRoxo, esta realidade é fruto das alterações climáticas, que é preciso combater. Como? “A resposta é fazermos mais armazenamento de água”, advoga António Parreira, sustentando que “70% da água da bacia do Sado vai para o mar”.
Por isso, “temos de fazer urgentemente um programa para armazenar mais água, com novas albufeiras. Todos nós queremos proteger o ambiente e combater as alterações climáticas. E para isso, o primeiro passo é armazenar água. Porque sem água não há vida”, conclui.
“Se não chover, toda a água” para a agricultura no Roxo em 2022 “virá de Alqueva”, afiança António Parreira.