“Decisão de avançar com ampliação do Hospital de Beja foi do PS”

Ricardo Mestre - PS Serpa 2025

Em entrevista, por escrito, ao “CA”, o antigo secretário de Estado da Saúde, Ricardo Mestre, natural de Serpa, passa em revista o trabalho feito pelos governos socialistas na área da Saúde no distrito de Beja, considerando ser importante que o executivo da AD ainda em funções explicasse o atraso no projeto de ampliação do Hospital José Joaquim Fernandes, “com transparência e verdade”. O ex-governante assume ainda que fará parte das listas do PS aos órgãos autárquicos de Serpa nas eleições agendadas para este ano.

Durante os mandatos do anterior Governo, de que fez parte, avançaram as obras dos centros de saúde de Ourique e Vidigueira e foi garantido financiamento para a requalificação do SUB de Castro Verde. Sente que, ao contrário do que afirmam PSD e CDU, o PS deixou “obra feita” nesta área na região?

O último Governo do PS deixou na região mais de 20 milhões de euros de investimentos na área da Saúde. Deixou a Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo (ULSBA) com quase 1.200 profissionais e com um orçamento anual de 140 milhões de euros, um crescimento de 80% face a 2015. Deixou os serviços de Urgência a funcionar sem interrupções, ao contrário do que tem acontecido nos últimos meses. Deixou também vários trabalhos em curso, que foram interrompidos, como o recrutamento de médicos estrangeiros ou a transferência de competências para os municípios na área da saúde. Na sua pergunta destaca a construção dos novos centros de saúde de Vidigueira e Ourique e essas eram duas das maiores ambições da região. Mas muitos outros concelhos beneficiaram de financiamento para a saúde. A requalificação dos Serviços de Urgência de Castro Verde e Moura. O novo edifício em Rio de Moinhos (Aljustrel). A renovação de polos de Saúde em Almodôvar (Rosário, São Barnabé e Semblana), Alvito (Vila Nova da Baronia), Castro Verde (Casével), Ourique (Garvão) e Serpa (Vila Nova de São Bento). O alargamento da Rede de Cuidados Continuados em Ferreiro do Alentejo. A modernização da Unidade de Cuidados Intensivos e do Bloco de Partos, no Hospital de Beja. A instalação do primeiro equipamento de ressonância magnética da região, que era a única do país que não tinha esta resposta, obrigando 5.000 pessoas a deslocarem-se todos os anos a Lisboa ou ao Algarve para aceder a esta tecnologia, essencial para o diagnóstico de doenças graves.

Em que condições deixou o Governo PS o projeto da segunda fase do Hospital José Joaquim Fernandes, em Beja?

A decisão de avançar com a segunda fase do Hospital de Beja foi tomada em 2023, pelo Governo PS. Posteriormente, o conselho de administração da ULSBA fez o seu trabalho técnico e apresentou, dentro do prazo previsto, um projeto moderno e completo, orçado em cerca de 120 milhões de euros, que prevê não só a requalificação e ampliação do hospital, mas também a reorganização de espaços e a criação de mais serviços clínicos em Beja. Apesar de a anterior legislatura ter sido interrompida em março de 2024, foi com satisfação que vi os vários partidos políticos associarem-se ao caminho traçado pelo PS, garantindo a inscrição deste investimento no Orçamento do Estado para 2025. Mas o trabalho efetivo parou, e ainda agora continuamos a aguardar o lançamento dos projetos de arquitetura e engenharia, assim como os concursos para a construção e execução das obras. Era importante que o Governo viesse explicar este atraso, com transparência e verdade, sem se escudar em subterfúgios, ou no “passa culpas” a que nos habituou.

Em que medida é este investimento decisivo para a resposta em cuidados de saúde no distrito de Beja?

É uma intervenção estruturante, que há muito era pedida pelos profissionais e pelas forças vivas da região. Sabemos que modernizar as condições de trabalho ajuda a fixar profissionais, a melhorar os cuidados à população, a evitar deslocações desnecessárias. É por isso que vejo este projeto como uma âncora para o desenvolvimento da ULSBA e para a afirmação do SNS na região, à semelhança do que acontece com o hospital que está a ser contruído em Évora. Acredito que é através da complementaridade e do trabalho em rede, estreitando parcerias e aprofundando convergências, que cada entidade pode cumprir melhor o seu papel no SNS.  

Era importante que o Governo viesse explicar este atraso [no projeto de ampliação do Hospital de Beja], com transparência e verdade, sem se escudar em subterfúgios, ou no “passa culpas” a que nos habituou.

A entrega da gestão do Hospital de São Paulo à Santa Casa da Misericórdia de Serpa (SCMS) tem sido uma boa solução? Porquê?

O que me parece essencial é que o Hospital de Serpa esteja integrado no SNS, para que todas as pessoas tenham acesso aos serviços, sem encargos financeiros associados. É fundamental também que funcione em estreita articulação com a ULSBA e que tenha autonomia estratégica para ajudar a resolver as listas de espera de outras unidades do SNS, nomeadamente a Sul do país. Recordo que a decisão de entregar a gestão do Hospital de Serpa à SCMS foi tomada em 2015, por um Governo PSD/CDS, para um horizonte de 10 anos, e que a tarefa de gerir um hospital é muito exigente para uma Santa Casa da Misericórdia. A partir do final de 2022, a dois anos do término do contrato, e perante as dificuldades que a SCMS apresentava, com o encerramento intermitente do serviço de Urgência e atrasos no pagamento a funcionários e fornecedores, era necessário apoiar a instituição e criar condições para que esta cumprisse os serviços contratados com o SNS. Foram então tomadas três medidas principais: financiar o Bloco Operatório com recurso a fundos comunitário, recorrer ao Fundo de Socorro da Segurança Social, e profissionalizar a gestão do Hospital, através da União das Misericórdias Portuguesas. O plano foi sendo cumprido até março de 2024, com a concretização dos financiamentos e com a reabertura do serviço de Urgência, mas a profissionalização da gestão continua a tardar, apesar do atual Governo já ter renovado o contrato com a SCMS por mais 10 anos.

Como vê o impasse criado em torno do futuro Hospital Central do Alentejo?

O que está a acontecer com este processo é só mais uma consequência do desnorte e da instabilidade que caracteriza o atual Ministério da Saúde. Aos relatos públicos que já conhecíamos sobre a inação do Governo, sobre a falta de comunicação com os agentes locais ou sobre os litígios com o empreiteiro, junta-se agora a renúncia ao cargo do conselho de administração da ULS Alentejo Central, alegando que as orientações que recebem da tutela colidem com a lei e afastando responsabilidades sobre atrasos e custos adicionais do novo Hospital.  Este caso é um bom exemplo de que governar é mais do que aproveitar o trabalho feito por outros e inaugurar obra feita. Governar é trabalhar para encontrar soluções. É tomar decisões difíceis. É resolver problemas complexos. Sinceramente, o que espero é que tudo isto seja rapidamente ultrapassado e que o novo Hospital em Évora seja concluído em breve.

Tenho a consciência de que há hoje um forte desejo de mudança em Serpa e é por isso que decidi participar no projeto político que o PS vai apresentar aos órgãos autárquicos do concelho.

O seu nome tem sido colocado como possibilidade de avançar como candidato do PS à Câmara de Serpa. Admite essa possibilidade?

Tenho muito orgulho nas minhas raízes. Em ter nascido e crescido em Serpa. Em ser baixo-alentejano. Foi aqui que criei os alicerces do meu percurso de vida e é aqui que mantenho muitos dos meus familiares, amigos e conhecidos de sempre. Na vida pública não há nada mais gratificante do que trabalhar para servir os nossos e quem me conhece sabe da minha disponível para contribuir para a minha terra. Tenho a consciência de que há hoje um forte desejo de mudança em Serpa e é por isso que decidi participar no projeto político que o PS vai apresentar aos órgãos autárquicos do concelho, integrando uma equipa que reúne militantes, simpatizantes e várias personalidades da sociedade civil. Uma equipa constituída por gente de qualidade, com provas dadas em várias áreas da sociedade e com disponibilidade para governar o concelho nos próximos 12 anos, de forma positiva, focada no futuro, numa atitude que contrasta com a posição daqueles que apenas querem perpetuar o presente, ou acertar contas com o passado. Eu serei um elemento desta equipa, posicionando-me onde considero que o meu contributo será mais útil ao concelho.

Como olha para a realidade do concelho, sempre gerido por coligações lideradas pelo PCP?

O concelho de Serpa tem um potencial enorme, que resulta das características do sua gente, da qualidade dos seus produtos, da sua localização, da sua história. Um potencial muitas vezes desaproveitado por opções políticas locais que continuam amarradas a princípios e valores ultrapassados, formando uma barreira ideológica que limita o desenvolvimento do território. Basta falar com as pessoas de Serpa e rapidamente percebemos que faltam incentivos locais à valorização profissional, à iniciativa empresarial, à oferta de serviços públicos de proximidade, à inovação, ao associativismo. Falta energia e ambição no poder local. Falta um rumo e uma visão de futuro! O caso mais impressionante é a requalificação da Escola Secundária de Serpa, onde a preocupação da autarquia sempre foi a delimitação de responsabilidade entre o poder local e o central, e nunca a convergências de vontades para reabilitar a escola. Qual tem sido o resultado? As obras tardam em sair do papel, as instalações continuam a degradar-se e as condições de trabalho são cada vez mais precárias. E quem perde com isso? Alunos, famílias, pessoal docente e não docente, toda a comunidade escolar. Isso é inadmissível, em pleno século XXI. Uma liderança PS nos órgãos autárquicos de Serpa já teria requalificado a Escola Secundária, como aconteceu em Castro Verde, que há uns anos estava na mesma situação, mas que hoje tem o seu problema resolvido.

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