Em 16 de Julho, iam exaltados os ânimos com o fracasso aparente da compra da Vivo pela Telefónica, escrevi no “Correio Alentejo” o artigo “O capital não tem pátria” (1):
“Está para durar a novela da oferta da Telefónica para a compra da participação da PT na Vivo, a maior operadora de telecomunicações da América Latina. Chumbada (para já) pelo recurso à golden share que o Estado português detém na PT, a operação está longe do seu termo”. (1)
Sob uma onda condenações de banqueiros, do PSD, do Tribunal Europeu instigado pela Comissão Barroso e face aos arroubos patrioteiros de Sócrates, abordei este “ensaio de um novo Tordesilhas para as telecomunicações da América Latina” e atrevi-me a vaticinar:
“O negócio da Vivo irá terminar com mais uma parceria ibérica. Na fase actual do capitalismo, os diversos sócios estão condenados a disputas e alianças à mesa do conselho de administração da mesma transnacional. Se os EUA e a China se entendem para estancar a crise financeira, o que vale uma guerreia entre a PT e a Telefónica?” (1)
Quinze dias depois, a troca de participações directas e indirectas que a PT e a Telefónica detêm na Oi e na Vivo, pareceu surpreender muita gente. Sendo insuspeito de pertencer ao círculo íntimo de Zeinal Bava, dificilmente poderia ter acertado mais perto da mouche.
A euforia perante este desfecho deixou claro que o patriotismo dos banqueiros, do PS, PSD e CDS se mede em milhares de milhões de euros. E “no final, ganharam todos” – o que, nesta fase do capitalismo global, é meia verdade. A perder ficaram os trabalhadores, e não apenas com esta operação. O cancro começou com as privatização, da PT e não só.
“O PEC acordado com o PSD é a prova de vida do governo Sócrates, cuja firmeza anti-neoliberal vale tanto como o patriotismo de um Ricardo Salgado. E o ministro Teixeira dos Santos não o deixa mentir: na longa lista de privatizações do PEC não há mais lugar para golden shares…” (1)
Após a tempestade financeira de 2008, os Estados nacionalizaram os prejuízos da banca e das bolsas, agravando as suas dívidas soberanas que, agora, colocam vários países e o próprio euro sob o ataque das agências de rating – ou seja, dos mesmos especuladores que provocaram a crise e agora voltam a lucrar com ela.
No rescaldo desta crise, a receita neoliberal é acelerar as fusões de bancos, companhias de aviação, sectores da energia, informática e telecomunicações, privatizações de serviços tradicionalmente públicos, como os correios, a saúde e a educação. O resultado, a maior transnacionalização do capital, vem piorar tudo e semear ventos para tempestades ainda mais devastadoras.
Não é preciso ser bruxo para adivinhar o desfecho de negócios como os da Oi – Vivo. Enterrado o machado desta “guerra do alecrim e da manjerona” entre a PT e a Telefónica, houve logo quem se viesse reclamar mais uns milhões de euros de prémios (livres de impostos, obviamente) para tão brilhantes gestores que “salvaram a honra da pátria” perante o assédio castelhano…
De facto, a crise e o PEC não são para todos!

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A Câmara de Castro Verde vai promover, a partir desta quinta-feira, 1 de maio, a sétima edição do Orçamento Participativo (OP), que terá uma dotação