Do livro do tempo gosto das páginas sobre o Outono. Sabem-me a terra e a rábanos às rodelas com vinho branco. Gosto de molhar o meu dedo indicador na chuva e folhear os dias um a um. Gosto de os desembrulhar das madrugadas, incertos, arbitrários, umas vezes limpos, outras vezes maculados de nuvens. A lã das nuvens é tão bonita e às vezes adorava ser um pastor de nuvens vadias para as juntar no céu para que elas chovessem muito. Que me perdoe quem não gosta de chuva, mas a chuva é a lã que veste a terra nua e a aconchega.
O Outono. Essa intermitência do azul, esse descanso do sol, as reticências do calor, a rendição do restolho, a ausência das andorinhas, a suspensão do pó, a interrupção das melancias. São as folhas que caem, a claridade que mirra, o frio que se acende, as noites que crescem, os casacos que voltam a habitar os corpos, os pássaros que se calam mais. Mas toda esta morte dá vida. Há um conforto na ruína das árvores porque os homens e as mulheres também são de emoções caducas. Precisam de mudar, de descer à terra, de morrer na terra, de ser lavrados, rasgados, pelas charruas da vida, de renascer na terra, de correr água sobre eles, de caírem bolotas e orvalho sobre eles, de correrem lebres e coelhos sobre eles. Para depois despontarem esperançosos outra vez.
E quando, numa outra página lá mais à frente, o frio se soltar pelas portas abertas do tempo, os homens e as mulheres hão-de acender as lareiras para terem um sol de azinho dentro de casa.

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