Perante o desafio do diretor do “CA” de escrever a propósito dos 30 anos da Esdime, que muito me honra e responsabiliza, vou tentar escrever coisas úteis para pistas quanto aos tempos complexos que vivemos para que desenvolvimento e progresso se realizem nos territórios e gentes da nossa região.
E, talvez surpreendentemente, vou aos ensinamentos da(s) história(s), hoje em dia tão abandonados e que muito nos desviam do que deve ser feito nos tempos atuais.
Também porque 30 anos duma organização inovadora como a Esdime já merecem ficar na História e dela tirarmos ensinamentos, mas principalmente porque é obrigatório que saibamos, nós pessoas e organizações, partir da linha e novelo donde vimos, para bem podermos gizar e prosseguir rumos que construam bons futuros.
E como nada nasce do “zero”, vamos aos antecedentes, puxando o fio do novelo.
A Federação das Cooperativas de Produção, onde trabalhava como coordenador do Gabinete de Formação & Desenvolvimento, concluíram que tinham que iniciar uma intervenção nos territórios mais débeis. Em 1986, com entrada na CEE, sabendo que o Fundo Social Europeu financiava a Formação de Agentes de Desenvolvimento, logo se decidiu candidatar-se, o que permitiu formar os primeiros 12 agentes espalhados no país. Entrando no CECOP – Comité Europeu das Cooperativas, foi-me atribuída a responsabilidade de participar ativamente no Departamento de Formação e Desenvolvimento, o que muito me permitiu aprender com os projetos dos parceiros, muito mais experimentados que nós.
E é neste “caldo” que me surge a ideia de conceber um Projeto de Formação para o Desenvolvimento de Micro-Regiões Rurais e logo propondo que fosse implementado em Messejana. Aprovada a ideia, mãos à obra e o projeto é candidato ao FSE, na medida de projetos pioneiros e inovadores, tendo-o defendido em Bruxelas, ficámos convictos que seria aprovado para arrancar em meados de 1988. Avançando em1987 o segundo Curso de Agentes, logo foram selecionados dois jovens de Messejana, que aprendendo fossem trabalhando a bem do projeto.
Longo percurso para que o “Projeto de Messejana” arrancasse em Junho de 1988, até inícios de 1990. E dentro das inúmeras inovações formativas para 100 formandos, dirigidas para o autoemprego, sobressaía como essencial que o projeto levasse à criação duma organização que pegasse no testemunho e o desenvolvesse. E, assim, nasce a Esdime a 18 de fevereiro de 1989. Apenas digo que foi processo que envolveu todos os formandos e dezenas de pessoas de Messejana, tendo a Comissão Instaladora da até então SDM – Sociedade de Desenvolvimento de Messejana envolvido quatro dezenas nas reuniões que semanalmente se reunia, tendo aprovado o nome de Esdime – Empresa de Messejana para o Desenvolvimento Integrado, CRL.
Dados lançados, a Direção, envolvendo os outros órgãos sociais, inicia o debate do que e como nos íamos organizar. Sem livros sobre a matéria, muitas ideias foram lançadas, tendo-se concluído que devíamos ser prudentes e assumirmo-nos como organização que apoiasse técnica e assertivamente ideias de iniciativas individuais ou coletivas que gerassem emprego e progresso. Dai o nosso primeiro lema ser: “Damos luz às vossas ideias!”.
É neste contexto que damos apoio a imensos projetos de micro empresas, cada vez mais em zonas mais alargadas, acompanhando-os até ao seu arranque, tudo apoiado no Programa ILE. Também nesses primeiros tempos fizemos a ronda a todos os municípios do Baixo Alentejo, propondo que se criassem Gabinetes de Apoio ao Desenvolvimento, podendo nós assessorar a sua organização e arranque; ficaram as sementes que mais tarde germinaram, tendo-se logo constituído o de Aljustrel.
Mas em 1993, tendo-se concluído que a anemia nos territórios era forte, decidimos a dar um salto em frente, assumindo-nos também como “motores do desenvolvimento” e, nessa base, tendo vindo a assumir o nome de Agência para o Desenvolvimento Local no Alentejo Sudoeste.
Se fui longo até aqui, porque as ações fundadoras e as menos conhecidas, agora vou tentar ser telegráfico e apenas referir algumas depois realizadas
Programa VALEMA – Valorização da Mulher Alentejana, o primeiro e que, além de se dirigir ao género feminino, permitiu trabalho comunitário em freguesias. Realização no quinto aniversário do primeiro evento público (1994) de colóquio sobre “Formação para o Desenvolvimento Local em Meio Rural”, o qual contou com a participação de mais de 200 agentes e investigadores de todo país.
Candidatura a vasto Programa Quadro de Formação, o primeiro no Alentejo, o qual com pareceres totalmente favoráveis do IEFP regional, foi inexplicavelmente chumbado, quando já tínhamos realizado os necessários investimentos, o que provocou a primeira crise da Esdime. Fruto da nossa denúncia, apoiada por várias organizações regionais, deu origem ao movimento “Baixo Alentejo a Uma Só Voz”, que agrupou todas as organizações sócio-profissionais.
Arranque de intervenções nas escolas e junto dos jovens, nunca antes trabalhada pelas ADLs, o qua fez escola.
Candidatura ao Programa LEADER 2, aprovada e reconhecida como inovadora e eficiente, e que levou a realizarmos as suas novas versões até ao atual DLBC, sempre bem avaliados.
Esdime selecionada, entre seis entidades, para criar um experimental CRVCC, único no Alentejo, o qual veio a evoluir para o Programa “Novas Oportunidades”, que fomos realizando.
Por aqui me fico pelo realizado até ao presente, pois os órgãos diretivos entretanto em funções melhor o poderão descrever e testemunhar.
Deixo para finalizar duas observações: uma referente à nossa intervenção junto de ADLs e e do seu movimento; outra com observações e pistas para o futuro.
Quanto à Esdime com as outras, fomos estando sempre solidários, porque, nessa altura nunca quisemos ser uma ilha no deserto. Já Esdime constituída “exportámos” o projeto para as Alcáçovas, que levou à criação da “Terras Dentro”. E em 1993, fruto da nossa insistência, constitui-se em Aljustrel a Animar, com sede na Esdime, e fomos construindo o sonho de sermos juntos. Mas, nós Alentejanos, de quando em vez gregários e com tanta ADL entretanto criadas, criámos a nossa “Ideia Alentejo”, que nos foi reunindo e juntando pares de anos a fio, para sermos unidos perante os poderes.
Agora, arriscar para responsáveis em exercício, deixar umas dicas sobre meus desejos para os presentes-futuros.
Numa palavra na moda, “sair-se das zonas de conforto”, em que obedecendo sem pestanejar às ordens do Estado Central, saibam, juntando-se a outras ADLs, propor e reivindicar mais liberdade nas intervenções apoiadas e novas medidas e políticas para um real desenvolvimento dos abandonados territórios das baixas densidades, para que aconteça uma coesão territorial no todo nacional.
Será que bebendo nos tempos iniciais, com todas as ressalvas e adaptações, não poderiam inventar outros caminhos, novos parceiros, mais financiadores, diferentes abordagens para os principais reais problemas das comunidades e territórios, para além do género e violência?
Um novo impulso será mais que desejável, o que exigirá protagonistas com espírito de missão e intervenção inovadora e militante, que abram a todos nós janelas de boas esperanças.
Do meu lado, caso entendam, poderão contar com o que souber e poder, desejando novos anos de vidas vivas!
O autor utiliza o
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