Beja debate falta de médicos no interior

Beja debate falta

As razões porque é difícil atrair médicos para o Baixo Alentejo e para todo interior do país são objectivas e estão bem identificadas: condições de trabalho nem sempre são atractivas, instalações muitas vezes degradadas, equipamentos obsoletos ou em falta e sobrecarga de trabalho pela falta de profissionais, para não falar da distância dos grandes centros.
O “diagnóstico” é feito pelo presidente do Conselho Sub-Regional de Beja da Ordem dos Médicos, Pedro Vasconcelos, a poucos dias da realização de um debate em Beja sobre “A saúde e o interior: necessidades e desafios”, que decorrerá esta terça, 29, na Biblioteca Municipal, com a participação do bastonário da Ordem dos Médicos e do presidente da ARS do Alentejo.
No quadro de dificuldades para atrair mais profissionais, Pedro Vasconcelos explica ao “CA” que “é difícil” para a Ordem dos Médicos precisar o número de médicos necessários para dotarem o distrito da globalidade de cuidados de saúde desejados – “Teria que se saber, em termos de organização de serviços e por cada especialidade, as necessidades actuais para uma cobertura adequada”, esclarece.
Seja como for, o dirigente da Ordem dos Médicos admite ter “a noção clara de que continuam a faltar” especialistas de medicina geral e familiar porque, segundo explica, “muitos centros de saúde têm a trabalhar neles” médicos que “não são realmente especialistas”.
A par disso, garante Pedro Vasconcelos, faltam especialidades hospitalares em cirurgia, pediatria, obstetrícia/ginecologia, cardiologia, urologia, otorrinolaringologia, e anestesiologia. E, por outro lado, há especialidades “que não existem e deveriam estar presentes” no distrito de Beja, como a dermatologia, estomatologia, gastroenterologia e endocrinologia.
Mas Pedro Vasconcelos não fica por aqui e garante que, “tão mau quanto a falta de especialistas, é a perda de idoneidade formativa para futuros especialistas”. E dá exemplos: “É o caso da radiologia, pela falta de adequados meios (nomeadamente a ressonância magnética), o que impede a presença de internos que, no futuro, aqui se poderiam radicar”.
Alterar este quadro de dificuldades passa, na óptica do responsável, por alterar condições de trabalho que nem sempre são atractivas. Mas não só! Pedro Vasconcelos aceita que estar no interior é mais complicado porque no litoral “é mais favorável a oferta comercial, lúdica, cultural e de habitação”.
E há questões que não se colocam (no litoral), como “a dificuldade de concertadamente os médicos encontrarem colocação também para os cônjuges” ou até a crescente “diminuição ou mesmo retirada de serviços de proximidade”.
“Em suma, há uma falta de reconhecimento prático dessas dificuldades, que devia levar à existência de medidas de discriminação positiva para quem optasse por se fixar no interior”, destaca o dirigente da Ordem dos Médicos, que não se coíbe de identificar algumas dessas medidas.
“Uma remuneração realmente apelativa podia também contribuir para atrair quadros, aliás não só médicos”, afirma Pedro Vasconcelos, que associa a esse factor o já referido reforço da oferta comercial, lúdica, cultural e de habitação.
“Veja-se como a habitação, o comércio, a restauração são em regra mais caros por cá do que no litoral ou veja-se quanto se gasta quando um filho tem que rumar para o ensino superior de uma outra cidade, onde há que lhe providenciar uma segunda habitação. Facilmente se percebe do que estamos a falar”, elucida o médico.

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