O fim anunciado da “Santa Loucura”, em Castro Verde, chegará com os primeiros raios de sol. Na noite deste sábado, de 23 para 24 de Dezembro, a música vai voltar a ecoar alto por entre as quatro paredes da discoteca decorada à imagem de uma igreja para uma última dança. Já será dia quando a celebração terminar. Para trás ficará uma noite especial e, sobretudo, 24 anos de festas, luzes e sonhos.
“Vai custar um bocadinho, mas esta é uma ideia que tem vindo a ser amadurecida há já algum tempo”, admite ao “CA” José Manuel Canário, o homem que aos 18 anos já sonhava em ter uma discoteca em Castro Verde. Convencer os pais não foi fácil, mas a utopia virou realidade aos 22 anos. “Foi quase uma loucura que acabou por dar resultados. Mas nunca deixou de ser uma loucura”, conta.
A “Santa Loucura” nasceu em Dezembro de 1993. Ao longo dos anos foi crescendo e ganhando fama. Ali se construíram amizades e forjaram amores fortuitos. O seu sucesso levou à ampliação do espaço e à criação, no virar do milénio, do “S Club”. Durante anos os dois levaram multidões até Castro Verde, vindas de todos os pontos do Alentejo e até do Algarve ou de Lisboa. Pela(s) sua(s) pista(s) passaram diversas gerações. Muitos fizeram-no para dançar. Outros tantos para, simplesmente, beberem um copo. Quase todos para conhecerem um espaço que não deixava ninguém indiferente.
“Eu tinha um sonho e consegui fazer aquilo que imaginava. A ‘Santa Loucura’ e, sobretudo, o ‘S Club’ meteu toda a gente em sentido, a questionar como é que existia um espaço destes no Alentejo”, recorda José Manuel Canário. “Passou por aqui muita gente, pessoas de todo o lado. Foi um sonho”, acrescenta.
Um sonho, continua o empresário castrense, que dificilmente será repetível. “Acho que vai ser impossível alguém fazer o que fiz… Primeiro tinha que ter um espírito sonhador, ambicioso e gostar muito disto. Depois seria necessário um investimento enorme. Quem teve a oportunidade e o prazer de usufruir desta casa dificilmente conseguirá repetir isso”.
Os “anos de ouro” dos dois espaços foram, na opinião de José Manuel Canário, igualmente únicos para Castro Verde. “A discoteca movimentava também a noite da vila. Havia uma série de bares na altura. E neste momento vemos que Castro Verde não tem um bar como houve no passado”, justifica.
A vida é feita de ciclos e a existência da “Santa Loucura” e do “S Club” teve os seus altos, mas também os seus baixos. Nos últimos anos a afluência começou a diminuir por motivos vários, da crise económica às restrições sobre o consumo de álcool. Começou a abrir portas apenas uma vez por mês, depois apenas esporadicamente. O fecho surge agora com naturalidade e sem qualquer carga dramática.
“Sinceramente, para mim é pior ver a casa tanto tempo parada. Por isso vamos tentar fazer um projecto que lhe dê nova vida e nova alma. E vou ter muito prazer em ver nascer aqui algo de novo”, sublinha José Manuel Canário, referindo-se ao investimento hoteleiro que pretende realizar no local.
Certo é que depois da noite de sábado a música poderá calar-se para sempre, mas poucos apagarão da memória as estórias por que gerações passaram na “Santa Loucura”. “Houve muitas noites que surpreenderam e que marcaram esta casa… Ficam muito boas memórias”, conclui José Manuel Canário sem deixar de sorrir.
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