De saída da presidência da ANECRA, o bejense António Chícharo apresenta o balanço dos seus mandatos e faz o retrato (agora menos negro) do sector automóvel no Baixo Alentejo.
De acordo com o empresário de 77 anos, as vendas de carros novos na região estão a aumentar “na casa dos 22/23%”. “E uma das actividades que tiveram um crescimento engraçado foram os automóveis usados. A procura de automóveis usados aumentou um bocadinho”, acrescenta em entrevista ao “CA”.
Acaba de deixar a presidência da ANECRA – Associação Nacional das Empresas do Comércio e da Reparação Automóvel. Que balanço faz dos seus dois mandatos?
Felizmente conseguimos nestes dois anos e meio resolver as coisas e fazer os ajustes necessários para continuarmos o trabalho da ANECRA, que é meritório. Porque nestas alturas as pequenas empresas, tanto da área da reparação como da área da venda, não têm ninguém que defenda os seus interesses e os seus direitos.
Qual foi o maior desafio que enfrentou?
A situação económica da associação, que estava toda desmembrada, com salários em atraso e dívidas a fornecedores. Tivemos de acertar o passo e fazer as correcções necessárias para sairmos dessa situação de incumprimento. Felizmente conseguimos e acertámos as coisas a tempo e horas. Saio de consciência tranquila.
Que retrato faz do mercado automóvel neste momento?
O mercado, desde o final de 2014 até à entrada de 2016, teve um comportamento de crescimento, que ainda se mantém. Se não houver nenhum transtorno, esta situação vai-se manter até final do ano e 2017 arrancará com aumentos de vendas de menor dimensão. Mas penso que os níveis negativos [de vendas] vão estar muito tempo sem bater à nossa porta.
Quanto tem aumentado o volume de vendas no sector?
A nível nacional estamos a falar de 20 e tal por cento.
E no distrito de Beja? O retrato do sector é idêntico?
É mais ou menos a mesma coisa. A nossa zona está a aumentar [as vendas] na casa dos 22/23%. Uma das actividades que tiveram um crescimento engraçado foram os automóveis usados. A procura de automóveis usados aumentou um bocadinho…
À custa das viaturas novas?
Sim, sim… A venda de automóveis usados [no distrito de Beja] aumentou acima de 30%, mas isto é variável de caso para caso. Porque quem tem nesta altura os modelos que os consumidores querem – e o que está agora na moda, além dos carros a diesel, são os SUV e os monovolumes – vende.
O crescimento da actividade agrícola na região têm beneficiado o sector automóvel?
Não. A actividade agrícola não tem grande expressão, porque a maior parte das explorações são espanholas e os fornecimentos de viaturas passam pouco pela mão das empresas que estão aqui montadas. Contudo, a parte da assistência tem tido algum desenvolvimento.
Um dos problemas do sector é a economia paralela, sobretudo causada pelas oficinas “clandestinas”. Esse problema sente-se muito no distrito de Beja?
Com menos significado que na zona Norte ou na periferia de Lisboa. Mas a economia paralela está no país inteiro e tem uma justificação: os altos impostos que caem sobre a actividade do sector. Algumas pessoas com carros de mais idade não estão disponíveis para pagar esses valores e isso faz crescer a economia paralela.
O que retira muita rentabilidade às empresas locais.
Pois claro! Tira rentabilidade e há fuga ao fisco.
Consegue calcular o prejuízo que esta situação causa?
Não se consegue fazer esse cálculo. Conseguimos é saber os clientes que perdemos… Na zona Norte, há empresas que perderam 50% da actividade que tinham.
E no distrito poderemos estar a falar de uma situação semelhante? No seu caso concreto, por exemplo, perdeu clientes devido a estas oficinas “clandestinas”?
Não, porque trabalhamos mais com frotas ou com organizações estabilizadas, que precisam mesmo do pagamento do IVA.
Estes anos de crise levaram muitas empresas do sector no distrito a fechar ou dispensar pessoal?
Claro que sim. Basta ver que há meia dúzia de anos o sector automóvel estava nas mãos de privados e entretanto passou para as mãos dos grandes grupos financeiros. E os grandes grupos financeiros começaram a fechar. Aqui em Beja fecharam meia dúzia de marcas e estão mais uma ou duas para fechar. E quando se fecha uma empresa com 20 ou 30 trabalhadores, alguém perde o emprego… Isso tem continuado.
Estamos a falar de quantas pessoas?
O Centro de Emprego é que deve ter esses números, mas são na casa das centenas. De mecânicos não aparece oferta nenhuma, mas em serviços administrativos e serviços indiferenciados aparece muita gente à procura de trabalho.