Corria o ano de 1920 quando nasceram, entre outros, a fadista Amália Rodrigues, o religioso Karol Wojtyla (mais tarde Papa João Paulo II), o diplomata Pérez de Cuéllar ou os escritores Clarice Lispector e Isaac Asimov. Longe dos grandes centros urbanos, na pequena aldeia de Albernoa, no concelho de Beja, nascia também nesse ano António Joaquim Jorge, que no passado dia 8 de outubro celebrou… 104 anos de vida!
“Nunca pensei chegar a esta idade, porque nunca ninguém viveu tanto na família”, conta ao “CA”, sentado à mesa do restaurante Riba Terges, em Trindade, enquanto prova o caldo de umas sopas de tomate, o seu prato favorito e que, quase sempre, come no dia do aniversário.
Oriundo de uma família de seareiros, António trabalhou com o pai até aos 20 anos, altura em que o serviço militar o levou para os Açores. Foi neste arquipélago que passou os quatro anos seguintes, numa altura em que a Europa era devastada por uma guerra cujas marcas ainda hoje se sentem.
Finda a tropa e regressado ao continente voltou à sua terra, trabalhando no campo e, na maior parte do tempo, na construção civil. Constituiu família e hoje fala com notório orgulho da filha – com quem fala todos os dias –, dos dois netos e dos cinco bisnetos.
“Não estou muito falhado, ainda sei dar conta de mim e tenho conhecimento daquilo que faço.”
Apesar dos 104 anos, António ainda vive na própria casa, sozinho, recebendo apenas apoio domiciliário.
“Não estou muito falhado, ainda sei dar conta de mim e tenho conhecimento daquilo que faço”, diz com bom humor.
Os dias são passados em conversas com a vizinhança ou a ver a televisão, sobretudo “o programa do gordo” Fernando Mendes. Mas também sofre muito com o Benfica e vê todos os jogos que passam em sinal aberto.
“A equipa ainda não está muito boa, mas melhorou desde que saiu aquele alemão [Roger Schmitt]”, analisa.
Os 104 anos que leva de vida permitem a António ter uma perspetiva mais ampla de todas as mudanças ocorridas na nossa sociedade. E nesse plano, não tem dúvidas em apontar “a eletricidade e a televisão” como aquilo que mais alterou a nossa maneira de viver.
A nível pessoal, não esquece o dia “em que apareceu em Albernoa uma camioneta da carreira, pela mão do Xico Júlio e do Joaquim Pedro”.
Nesta altura da vida, António reconhece que não pensa “no dia de amanhã”. Apenas quer “aproveitar cada momento” e, daqui a um ano, sentar-se novamente à mesa, em redor de umas sopas de tomate. Muitos parabéns!