Nova presidente das Mulheres Socialistas do Baixo Alentejo “quer cativar mais mulheres” para a política

Marisa Saturnino

Eleita no passado dia 5 de novembro, com 85,6% dos votos, a nova presidente do Departamento Federativo das Mulheres Socialistas do Baixo Alentejo assume que, neste seu mandato, quer “cativar mais mulheres” para a ação política.

“São muitas as que pautam as suas tímidas e curtas intervenções, pela insegurança. Porém, esta situação não pode ser impeditiva de nenhuma mulher participar ativamente na política, nem limitativa do seu papel em qualquer esfera da sociedade”, advoga Marisa Saturnino em entrevista à edição online do “CA”.

A líder das Mulheres Socialistas diz ainda ser “completamente natural” que, nas Autárquicas de 2025, uma mulher venha a presidir a uma das 14 câmaras municipais do distrito de Beja.

Qual a principal prioridade que traça enquanto nova presidente do Departamento Federativo das Mulheres Socialistas do Baixo Alentejo?

Consolidar, diversificar, descentralizar e ampliar o trabalho realizado até agora, através da proximidade, do diálogo permanente e de um reforço da comunicação que deve ser articulada, eficaz e assertiva, com os órgãos concelhios, federativos e nacionais.  Só deste modo será possível cativar mais mulheres e jovens para a participação política, fazendo um planeamento das ações que mais se adequam a cada território, nos vários concelhos do distrito, tendo em conta as principais linhas estratégicas de orientação política, definidas na moção apresentada.

Assume, na sua moção, que a estrutura interna do Departamento está “algo fragilizada”. Que medidas vão ser tomadas para inverter esse quadro e “adequar a organização do partido a um novo ciclo às suas exigências”?

Efetivamente, quando na moção estratégica de orientação política mencionei que a estrutura se encontrava “algo fragilizada”, referia-me ao facto de haver necessidade de uma nova dinâmica, uma vez que a mesma foi comprometida pelo período de pandemia que vivemos, praticamente durante dois anos. Como sabemos, a Covid-19 não se tratou apenas de uma crise sanitária, teve efeitos colaterais muito expressivos, com um impacto muito significativo na economia e nos mercados financeiros, mas sobretudo, na vida das pessoas, afastando-as umas das outras e das suas atividades do quotidiano normal, o que por sua vez, impossibilitou uma participação mais ativa e inviabilizou ações que a estrutura planeava concretizar. Logicamente que, no PS, não somos acríticas. Refletimos sobre as nossas ações, sobre o que foi ou não foi possível fazer e porquê, identificando as adversidades e os constrangimentos e repensando em conjunto, a viabilidade das nossas ações no território, reajustando-as em função daquele que é o nosso foco principal: as pessoas e a região. Só desta forma, encararemos o futuro como o tempo de fazer melhor, sermos mais coesas e de progredirmos em conjunto. Por isso, “adequar a organização do partido a um novo ciclo e às suas exigências” basear-se-á nas principais prioridades que frisei na primeira questão e, também, nesta última premissa.

Que trabalho vai ser feito no sentido de ter mais concelhias das Mulheres Socialistas no distrito de Beja, como propõe na moção?

Quem me conhece, sabe que sou uma mulher dos afetos e das pessoas. Por isso, acredito numa política de proximidade, em que se privilegia o contacto humano, se faz uma escuta ativa dos problemas, se desconstroem pré-conceitos, se dá e acede a informação e, consequentemente, voz e confiança a quem não a tem, através da sua participação, desbloqueando-se recursos, com vista à obtenção dos resultados pretendidos. E esse é um trabalho que muitas vezes é negligenciado, mas tão importante a qualquer organização! Por isso, é tão necessário promover a formação e outras ações que permitam dar mais confiança e segurança às mulheres e consolidar conhecimentos e experiências, que assegurem o envolvimento e participação política das mesmas, numa lógica de maior capacitação e melhor intervenção para a ação. Neste sentido, considero fundamental realizar um trabalho de proximidade e de apoio permanente às atuais coordenadoras concelhias, mas também um trabalho conjunto, que reforce o papel e a ação das Mulheres Socialistas no território, independentemente do órgão ao qual estão associadas. Considero ainda essencial, promover a partilha de experiências e boas práticas com outras concelhias e estruturas, para que através das orientações e contributos da Comissão Nacional das Mulheres Socialistas-ID possamos atingir esse objetivo.

Quem me conhece, sabe que sou uma mulher dos afetos e das pessoas. Por isso, acredito numa política de proximidade, em que se privilegia o contacto humano, se faz uma escuta ativa dos problemas.

Sente que ainda há um longo caminho a percorrer – na região e no país – em matéria de Igualdade de Género? Porquê?

Ainda há um longo caminho a percorrer, sim, e isso está bem presente nas desigualdades e discriminações que ainda hoje, persistem. Refiro-me, naturalmente, a aspetos como a normalização social de violências e desigualdades que não passam unicamente pela violência doméstica, mas pelo acesso ao mundo do trabalho, pelas disparidades salariais entre homens e mulheres, ao facto das mulheres  ainda estarem em minoria em cargos políticos e de liderança, o que – paralelamente – coincide com o seu papel familiar e social, que não é remunerado, num mundo em constante mutação, cada vez mais global e competitivo e onde lhes é exigido mais trabalho. Refiro-me também, e especificamente às mulheres integradas em meios mais rurais, onde ainda existe uma distinção muito forte entre o papel da mulher e o do homem, com prejuízos enormes para quem é do sexo feminino e casos limitativos dos seus direitos, até. Contudo, é preciso começar por algum lado, pelo que acredito e congratulo-me por esse caminho já ter sido iniciado pelo Partido Socialista, enquanto pioneiro, em matéria de igualdade, tendo demonstrado claramente essa preocupação como uma das suas principais bandeiras. Nesse sentido, considero que na estrutura federativa caber-nos-á a nós, mulheres, o dever de sermos mais unidas e contribuir para fazer a diferença, num processo a médio prazo que se pretende transformador e positivo, através do contributo de quem o lidera, mas também de quem o integra. Só desta forma teremos para uma sociedade mais justa e equilibrada, para que um dia a igualdade seja uma realidade efetiva. Penso também que é necessário apostar em áreas como a educação e a prevenção primária, para a concretização desse objetivo coletivo. Precisamos de ir mais além, de políticas que se façam a partir da base, nas comunidades, nos locais, nas autarquias. Em suma, de políticas públicas intersectoriais e transversais, e não apenas daquelas que vêm de cima para baixo, pois só através da conjugação de esforços, será possível inverter esta ordem social, que se tem mantido quase intacta, ao longo dos anos, e provocar mudanças neste âmbito. Só assim teremos uma região agregadora que consolide as políticas já existentes nesta matéria, enquanto elemento enriquecedor das comunidades com uma verdadeira evolução positiva e humanista.

Como se pode (e deve) trazer mais mulheres para a ação política?

Tal como é do conhecimento geral, muitas vezes as mulheres não têm uma intervenção mais assídua na vida política pela dificuldade em conciliar vários papéis, bem como pelo medo de falhar. São muitas as que pautam as suas tímidas e curtas intervenções, pela insegurança. Porém, esta situação não pode ser impeditiva de nenhuma mulher participar ativamente na política, nem limitativa do seu papel em qualquer esfera da sociedade. É necessário agir e cooperar em igualdade, para que nenhuma mulher fique excluída do seu direito de participação cívica, política, continuando a intensificar a formação, promover ações que assegurem o envolvimento e participação efetiva das mulheres. É essencial, envolver as mulheres nos processos eleitorais, mantê-las permanentemente atualizadas e promover momentos comuns de divulgação e partilha de informação de carácter relevante, em fóruns onde se possa refletir criticamente e em conjunto, esclarecer dúvidas, colocar questões, trocar experiências e boas práticas. Todos estes instrumentos de suporte à ação são uma mais-valia na sua atividade cívica e política, e fomentam uma participação mais ativa e segura.

[PS é] um partido que tem sido pioneiro em matéria de igualdade de género, envolvimento e participação política ativa das mulheres.

Nunca uma mulher liderou uma câmara municipal no distrito de Beja. Sente que há condições, no seio do PS, para tal acontecer em 2025?

O Partido Socialista é um partido plural, que tem na sua génese a democracia e a Liberdade e onde naturalmente, cabem todos e todas. Logo, é completamente natural que isso possa suceder em qualquer concelho do distrito. Recordo que nas últimas eleições Autárquicas [em 2021] o PS apresentou uma candidata à Câmara Municipal de Cuba, o que quer dizer que, dentro do PS do Baixo Alentejo, em 2021, já havia espaço para que tal pudesse acontecer, neste território. Não obstante, o PS já tem várias mulheres autarcas que são uma referência a nível nacional, presidentes de Assembleia Municipal (em Beja também temos uma mulher), uma mulher a presidir à Associação Nacional de Municípios e o primeiro Governo em Portugal que tem mais ministras do que ministros.  E não podia ser de outra maneira, sobretudo se atendermos ao facto de que se tratar de um partido que tem sido pioneiro em matéria de igualdade de género, envolvimento e participação política ativa das mulheres.

A título pessoal, que representa este desafio de liderar o Departamento Federativo das Mulheres Socialistas do Baixo Alentejo?

Acima de tudo é motivo de orgulho e por isso, representa uma grande honra. Trata-se de uma oportunidade pela confiança que o partido e as militantes do PS do Baixo Alentejo, depositaram na minha pessoa, para liderar um grupo de mulheres empenhadas, motivadas e capazes, que em conjunto, pretendem desenvolver um trabalho cívico e político sério, em prol das pessoas e da região. Certamente que será uma aprendizagem constante e, simultaneamente, uma enorme responsabilidade que, tendo em conta o atual contexto socioeconómico, significa estar à altura deste compromisso ético-político e dos desafios que se colocarão no próximo biénio, aproveitando as oportunidades e enfrentando as ameaças, sempre com o mesmo espírito e zelo.  Será um desafio que exigirá um grande esforço acrescido da minha parte, bem como, de toadas aquelas que integrarão este grande projeto comum, o que requererá muita conciliação, lucidez, sensatez e convergência, mas também muita entrega, trabalho e energia. Representa também um grande desafio à gestão do meu tempo, pelas funções que desempenho atualmente na Câmara Municipal de Beja, mas ao qual estou convicta que saberei responder positivamente, pela motivação e vontade de fazer acontecer que, sem dúvida,  se sobrepõem à grande carga burocrática e  a outros compromissos institucionais  a que tenho que responder diariamente, permitindo-me olhar para esta liderança com a mesma humildade, espírito de dever e compromisso público, e simultaneamente com a confiança,  de poder contar com uma  excelente equipa para o fazer. Por último, constituirá sempre uma oportunidade de crescimento pessoal e humano, bem como de desenvolvimento de competências políticas.

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