“Mulheres dos Campos do Sul” para ver no Museu da Ruralidade

Museu da Ruralidade - exposição Mulheres dos Campos do Sul

A realidade das mulheres trabalhadoras rurais do Alentejo entre a I República e o pós-25 de Abril é dada a conhecer numa exposição que vai estar patente até final de maio no Museu da Ruralidade, em Entradas, concelho de Castro Verde.

A mostra, intitulada “Mulheres dos Campos do Sul – I República, Estado Novo e Revolução de Abril”, integra o programa comemorativo dos 50 Anos do 25 de Abril em Castro Verde, organizado pela Câmara Municipal, e foi organizada por Constantino Piçarra, diretor daquele museu, a partir da imprensa da época e de outras fontes.

“A intenção é contar a história da realidade das mulheres trabalhadoras rurais em três períodos da história do século XX”, indica Constantino Piçarra ao “CA”.

Segundo este responsável, “o trabalho sobre mundo rural incide, sobretudo, sobre os trabalhadores rurais e como os grandes protagonistas são os homens”, porque “o papel e a situação das mulheres aparece ofuscada nesses trabalhos”.

A exposição revela assim que, ao longo dos três períodos históricos abordados, “houve mudanças” na condição das mulheres que trabalhavam no campo, “mas o que ressalta de uma forma muito visível e muito consistente são elementos de continuidade”.

Por exemplo, indica, “o período da I República, sendo um regime democrático de tipo liberal, não tratou muito bem as mulheres e não lhes deu direito a voto”. “E, em relação às mulheres do campo, atravessaram a I República numa situação de subalternidade”, acrescenta.

Depois, durante o Estado Novo, “este processo ainda se acentua mais e de uma forma insidiosa”, observou o diretor do Museu da Ruralidade. “Toda a ideologia do Estado Novo vai no sentido em que situação da mulher é cuidar do marido, estar em casa e tratar dos filhos, não no mundo do trabalho”, reforça Constantino Piçarra.

Por fim, no pós-25 de Abril, “as mulheres ganharam o espaço público e estão nas manifestações em defesa da reforma agrária”. “Contudo, não estão nos sindicatos, não são delegadas sindicais, não estão nas comissões de trabalhadores das herdades, não fazem parte das direções das unidades coletivas de produção e cooperativas e a sua participação nas assembleias-gerais é completamente residual”, afirma.

Por tudo isto, conclui Constantino Piçarra, “há uma continuidade ao longo dos primeiros 80 anos no século XX e essa continuidade é a subalternidade das mulheres do campo”.

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