O socialista Manuel Alegre considera que as recentes declarações de Paulo Portas mostram que “há uma crise política” dentro da coligação que sustenta o Governo.
“Dá impressão que a coligação não funciona, ou isto é combinado ou não é combinado. É muito estranho que tenham estado num Conselho de Ministros, que tenham aprovado aquelas medidas que são muito gravosas e que, depois, Paulo Portas venha dizer aquilo que disse”, argumentou Manuel Alegre, depois de ter participado no I Fórum "Construir a Mudança", promovido esta segunda-feira, 6, pela candidatura socialista de António José Brito à presidência da Câmara de Castro Verde nas autárquicas deste ano.
Segundo o histórico socialista, esta situação “mostra que há, realmente, uma crise política e que a crise política já está dentro da própria coligação”.
Questionado pela Lusa, o antigo dirigente do PS reagia às declarações do presidente do CDS e ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Paulo Portas, no domingo, 5, sobre as mais recentes medidas de austeridade apresentadas pelo primeiro-ministro, Passos Coelho.
O novo pacote de medidas anunciado por Passos Coelho pretende poupar nas despesas do Estado 4,8 mil milhões de euros, até 2015, mas Manuel Alegre qualificou-o como um “atentado ao Estado social”.
“Atingem o coração do Estado social, como foi dito por alguém”, acusou o também poeta e escritor, afirmando não ter dúvidas de que as medidas vão “atingir profundamente a democracia, tal como ela está consagrada na Constituição”.
“O ataque aos pensionistas é um roubo, porque os pensionistas descontaram toda a vida e aquilo é dinheiro que pertence a cada um deles. Isto é um esbulho”, disse.
Para Alegre, as medidas anunciadas pelo Governo, que constituem um “ataque às funções sociais do Estado”, são “uma maneira de tentar ultrapassar a decisão do Tribunal Constitucional, mas, no fundo, para fazer a mesma coisa”.
Na opinião do antigo dirigente do PS, só há uma “maneira” de sair desta situação: “É dar a palavra ao povo, destituir o Governo, convocar eleições” antecipadas.
“Porque este Governo não tem condições para continuar, sob pena de provocar uma explosão social de consequências incalculáveis”, alertou.
A actuação do executivo “está a pôr em causa o regular funcionamento das instituições” disse ainda Alegre, considerando que se fala “muito em consenso”, mas “o único consenso que há é a recusa destas políticas, a recusa deste Governo”.
