Covid-19: A nova vida de velhas profissões!

Covid-19: A nova vida

Era no Mercado Municipal de Aljustrel que António José Pinto passava grande parte dos seus dias. Da sua banca saíam diariamente hortaliças, frutas e legumes para dezenas de clientes, instituições e restaurantes locais, mas a Covid-19 veio alterar tudo. Com as restrições impostas pelas autoridades devido ao alastrar da pandemia, este empresário decidiu “reconfigurar” a sua actividade.
“Fechei a banca no Mercado para evitar que houvesse aqueles ajuntamentos que são normais, e passei a fazer entregas em casa dos meus clientes. Todos têm o meu contacto, ligam-me a fazer a encomenda e durante a tarde eu vou entregar”, revela ao “CA” o proprietário das Frutas Pinto, acrescentando que esta foi a melhor forma de manter o negócio. “Parados é que não podemos ficar”.
António José Pinto é apenas um dos muitos que tiveram de adaptar a sua actividade profissional às novas “regras” da sociedade. Uma sociedade em que as pessoas estão (quase) todas confinadas às quatro paredes de suas casas e em que as saídas à rua são cada vez mais esporádicas. Mas os negócios têm de continuar, ainda que noutro formato ou com cuidados acrescidos, como acontece como a padaria que Luís Palma gere com a esposa e o pai nos Corvatos, concelho de Almodôvar.
“Todos temos que nos adaptar”, admite este empresário, revelando que no caso da Padaria Delícia do Alentejo foi reduzido o horário do seu posto de venda em Almodôvar. “Agora apenas fazemos a venda de pão quente durante a tarde. E na venda ambulante as pessoas têm de respeitar as distâncias e esperar pela sua vez. E nós usamos viseiras, máscaras e luvas”, conta.
É com todas estas precauções que a padaria de Luís Palma vai continuando a funcionar, ainda que as “vendas tenham caído”, sobretudo no Algarve, onde fornecia diversos restaurantes. “Agora só fazemos as ‘voltinhas’ dos montes aqui no concelho e também nalguns locais de Odemira, Ourique, Mértola, Castro Verde, Serpa, Loulé e Salir”.

Aulas e missas à distância
É sobretudo nas actividades que implicam forte contacto entre pessoas que se notam mais as diferenças de funcionamento neste período de pandemia. Que o diga Vítor Encarnação, professor de Inglês e Alemão no Agrupamento de Escolas de Ourique. Sem poder estar com os seus alunos na sala de aula, é através das ferramentas digitais que vai garantindo o seu acompanhamento lectivo. Mas não é a mesma coisa…
“Se na sala de aula, para além do conhecimento, o professor envolve emocionalmente, promove empatias, valoriza atitudes, aprecia solidariedade e esbate diferenças sociais, culturais e económicas, o tele-trabalho não o permite fazer de uma forma eficaz”, afirma o docente ao “CA”. “Mas entre nada fazer ou assumir o meu básico dever profissional de promover os direitos dos alunos à educação, não hesito em escolher a segunda opção. Por isso, até porque os meus direitos fundamentais se mantêm absolutamente intactos, estou a reconfigurar a minha prática de ensino em período de pandemia”, acrescenta.
Desde Março que o acompanhamento dos alunos por parte de Vítor Encarnação “está a ser feito, essencialmente, através de correio electrónico”. Mas agora que o terceiro período acaba de se iniciar arrancaram também as aulas em tele-escola. Um novo tempo, desejavelmente temporário, que na opinião do professor ouriquense “lançam desafios, por vezes, angustiantes”.
“Há pois que arranjar um equilíbrio e não querer alcançar, muito menos obsessivamente, uma normalidade numa situação de perfeita anormalidade”, diz Vítor Encarnação, que se mostra preocupado com a questão da avaliação. “Será fulcral que os conselhos pedagógicos das escolas se pronunciem sobre os critérios de avaliação, pois os que existem foram feitos para a sala de aula, não para uma situação de ensino à distância”.
Do campo da educação para o da fé surgem as mesmas alterações. Com a pandemia encerraram-se as igrejas e momentos de celebração eucarística ou de oração só mesmo através da televisão, da rádio ou, como em Castro Verde, das redes sociais.
“Para quem tinha um ritmo de oração e de vida cristã, isto apanhou-nos a todos de repente. Por isso fui dos primeiros padres da região a fazer celebrações através da Internet, também para poder chegar àquelas pessoas que de maneira nenhuma podem sair de suas casas”, conta o pároco Luís Miguel Fernandes. “Foi a melhor forma de poder ir a Entradas, Castro Verde, São Marcos [da Atabueira] ou Santa Bárbara [de Padrões] sem sair de casa e estarmos unidos em oração, sem colocar em risco a vida de ninguém”.
Ainda assim, Luís Miguel Fernandes reconhece que este momento de excepção tem sido difícil. “Custa celebrar numa igreja vazia, sem fiéis. Mas a nossa fé ultrapassa paredes e fronteiras”, afirma o presbítero.

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Correio Alentejo

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