Os recentes surtos de maus cheiros em Sines preocupam o município, que está a procurar identificar possíveis empresas responsáveis, mas algumas unidades instaladas na zona negaram à agência Lusa estar a afectar a qualidade do ar.
O presidente do município, Manuel Coelho, eleito por um movimento independente, manifestou ser sua "convicção" que os maus cheiros que se têm feito sentir, com maior intensidade no último mês e meio, "são provenientes, não tanto das chaminés, mas dos sistemas de efluentes industriais".
Um dos focos de poluição, admitiu, poderá estar "em bacias de retenção de algumas empresas", como a Petrogal, pelo que serão feitas "verificações" junto das mesmas.
Contactada pela Lusa, fonte oficial da Galp Energia, grupo ao qual pertence a refinaria, disse estar "disponível para colaborar, com todas as entidades, nas diferentes acções que visem melhorar a envolvente ambiental".
Contudo, a fonte esclareceu que a empresa dispõe de procedimentos que visam garantir que "os cheiros fiquem contidos nas fronteiras da instalação industrial".
O autarca de Sines disse acreditar ainda que é na "rede de transporte dos efluentes das empresas" para a Estação de Tratamento de Águas Residuais (ETAR), gerida pela empresa pública Águas de Santo André (AdSA), que podem estar os maiores problemas.
Conforme denunciou, as caixas de reunião na zona industrial "não têm os devidos sistemas de protecção para evitar a saída contínua de gases", estando as deficiências de funcionamento da ETAR identificadas e reconhecidas, pelo menos, há seis anos.
Numa reunião em Abril de 2005, lembrou Manuel Coelho, a administração da AdSA anunciava para breve as intervenções necessárias, mas, "até hoje, nada foi feito".
Também contactada pela Lusa, a administração da AdSA declarou não ter "qualquer indício de que os maus cheiros sejam provenientes das actividades" da empresa.
Ainda assim, acrescentou a empresa, "o único órgão e local que merece alguma preocupação é a caixa de reunião da Barbuda, para onde confluem todos os efluentes da zona industrial, bem como uma parte dos esgotos de Sines".
Neste órgão “funciona um sistema de desodorização que poderá já não ser suficiente, face aos actuais volumes que por aí passam”, reconheceu.
“A Câmara Municipal de Sines, no último ano, sem qualquer aviso prévio e ao contrário do que está regulamentado nesta matéria, passou a enviar-nos praticamente o dobro do caudal de águas residuais domésticas, mantendo-se neste efluente um alto teor de escamas de peixe", pode ler-se no documento enviado à Lusa.
Ao nível da "prevenção", Manuel Coelho afirmou ter intenção de "pressionar" a AICEP Global Parques (AGP), entidade gestora da Zona Industrial Ligeira de Sines (ZILS), a "instalar o programa de monitorização [ambiental] que está plasmado no plano de urbanização".
Em nota enviada à Lusa, Francisco Sá, presidente da AGP, esclareceu que a empresa já elaborou o Plano de Monitorização Ambiental para a ZILS, em articulação com o município, a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) e a Administração da Região Hidrográfica (ARH) do Alentejo.
"O plano foi entregue a estas entidades a 15 de Novembro de 2010 para análise técnica, assim como para definição da forma da sua implementação e gestão", disse o administrador, acrescentando que se prevê que "esta análise esteja concluída até final do corrente ano".
A par com a "incúria das empresas", o autarca de Sines apontou também o dedo à "ausência" do Ministério do Ambiente, que é "quem tem poderes para agir" nesta área, aguardando a marcação de uma reunião com a ministra Assunção Cristas.
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