Carlos Beato, ‘capitão de Abril’. “O 25 de Abril valeu a pena!”

Carlos Beato

Carlos Beato esteve ao lado de Salgueiro Maia na madrugada libertadora de 25 de Abril de 1974. Esta semana esteve em Castro Verde, num encontro com jovens, e depois fez ao “CA” um balanço de quase meio século de Democracia em Portugal.

Já recordou por inúmeras vezes, de norte a sul, a madrugada de 25 de abril de 1974, em que saiu de Santarém ao lado de Salgueiro Maia para mudar “o estado a que isto chegou”. Mas deixando de lado o simbolismo desse momento, pergunto-lhe: qual a principal memória que guarda dessas longas horas?

A principal memória que um militar miliciano como eu ainda hoje guarda daquela madrugada libertadora foi que um punhado de jovens – cerca de 200 –, voluntariamente, disseram sim ao grande capitão Salgueiro Maia para participar na operação “Fim do regime”, que devolveu a Liberdade e a Democracia ao nosso povo. Isso é uma coisa que, ainda hoje, passados 50 anos, é algo que me tem feito bem.

Tinha noção, quando partiu da Escola Prática de Cavalaria, em Santarém, do que esse gesto voluntário dos militares estava em vias de concretizar para o país? Havia noção entre vós do potencial alcance e da repercussão que a essa iniciativa poderia ter para Portugal e para os Portugueses?

Não sabíamos ao que íamos, mas sabíamos que íamos pelo ideal da Liberdade, da Democracia e de proporcionar novas oportunidades para o nosso povo. Agora o que íamos encontrar não sabíamos… Mas graças à organização da operação militar, graças à adesão do povo – que desde a primeira hora, quando chegámos a Lisboa, esteve ao nosso lado – e graças ao comando e à liderança desse grande comandante e alentejano que era Salgueiro Maia, desde muito cedo que começámos a sentir que a operação ia correr bem e que, de facto, Portugal ia deixar de ser um país “orgulhosamente só” no contexto internacional. Iríamos passar a ter outras oportunidades, não só de Liberdade e Democracia, mas também de justiça social, de igualdade para todos e de ajudarmos a construir um país mais desenvolvido, onde as pessoas pudessem ser mais felizes. E hoje, passados 50 anos, acho que o 25 de Abril valeu a pena!

Quem pode e deve em todos os momentos estar vigilante para aquilo que mais interessa às pessoas e à sociedade é o povo, porque é o povo que mais ordena e que decide.

Passou esta manhã [de terça-feira, 14] com jovens de Castro Verde. Sente ser cada vez mais essencial explicar às novas gerações por que razão foi o 25 de Abril de 1974 tão importante para Portugal?

Claro que é essencial, porque os jovens vão ser o futuro e, naturalmente, não têm ideia do que se passou. E terem tido a oportunidade de estar aqui com um protagonista dessa madrugada e dessa operação ajuda a terem, na sua mente e nas suas preocupações sociais, económicas e políticas, uma ideia de que o Portugal de hoje não é o Portugal de há 50 anos. Ainda bastante há por fazer, mas por tudo o que foi feito e onde chegámos, os jovens são fundamentais para as nossas terras e para o nosso povo.

Sendo um “capitão de Abril”, como é que encara a possibilidade de nos 50 anos do 25 de Abril, em 2024, podermos vir a ter no Parlamento o reforço de um partido com posições populistas e assumidamente racistas e xenófobas?

Vejo isso com apreensão, mas também devo dizer que isso são coisas do processo democrático e da liberdade. Quem pode e deve em todos os momentos estar vigilante para aquilo que mais interessa às pessoas e à sociedade é o povo, porque é o povo que mais ordena e que decide. Não pode deixar que outros decidam por si! O povo tem de estar atento para que – como se diz no Alentejo – não nos seja servido “gato por lebre”. Por isso, vejo com apreensão [essa possibilidade de crescimento dos partidos populistas], mas a única entidade que pode pôr os “pontos nos is” e os “traços nos tês” em relação ao nosso caminho de Democracia e Liberdade – que deve ser irreversível – é o povo. Porque o povo é – e será sempre – quem mais ordena, como dizia o grande José Afonso!

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