O que fazer no intervalo de um jogo de futebol para restituir as energias perdidas em quarenta e cinco minutos de refrega, sempre tem preocupado atletas, dirigentes e treinadores.
Aliás, o acerto na escolha do suplemento energético pode muitas vezes fazer a diferença toda. Por uma caloria se ganha, por uma caloria se perde.
Há alguns anos, essas bebidas que dão asas ainda não existiam. Escolher a melhor forma de um jogador se erguer das cinzas, que é como quem diz conseguir jogar mais um bocado da segunda parte depois de já ter dado o berro, passava por mezinhas caseiras ou simples artigos de mercearia: colheradas de mel, pedaços de marmelada, pacotes de açúcar, tabletes de chocolate, maças raineta.
Muitos treinadores, que conseguiam aliar competências técnico-táticas a conhecimentos de nutrição, não pendiam muito para suplementos sólidos, talvez por estes levarem muito tempo a serem assimilados pelo organismo e raramente antes que aparecessem as cãibras e as dores de burro. Acreditavam eles que um suplemento líquido era mais fácil de ingerir e digerir, pois entrava diretamente no sangue e oxigenava mais rapidamente cérebro, músculos e pulmões. Contudo, consideravam esses doutos treinadores que a água era uma bebida demasiado neutra, pouco consistente na luta contra uma estafa de hora e meia mais os descontos, e achavam também que os sumos naturais eram coisa fina, própria de jogos de ténis, de voleibol ou de golf. Enfim, desportos de brincadeira.
Como é fácil de perceber, nem todas as bebidas calóricas estavam em pé de igualdade. Imagine-se que figura faria um homem cansado, desidratado e sem sentir as pernas a beber um medronho da serra! Ou outro a beber um Martini com uma rodela de limão a combater a fraqueza! Ou o avançado cheio de sede a bater penaltis de tinto! Ou o extenuado médio de marcação ligado a um uísque como se este fosse uma garrafa de soro!
Não podia ser, o futebol tem regras e princípios. A necessária restituição de energia teria de ser feita atendendo a valores enraizados na nossa cultura sócio desportiva. O líquido escolhido teria de ter alguma nobreza e um grau de álcool moderado que não tivesse efeitos cerebrais contrários ao que se pretendia em termos de rendimento desportivo e até da mais elementar orientação tática dentro do campo.
Não se sabe se o Vinho do Porto terá sido indicado por algum enólogo ou nutricionista, o que é um facto é que assim que chegávamos aos balneários para os escassos minutos de descanso, a garrafa de Barros, Velhotes ou Ferreira, estava à nossa espera como um tónico para as anemias.
Ansiando por água que nos desse vida e descolasse os lábios, a boca e a garganta, a maior parte de nós não bebia daquela fonte de energia e tradição. Havia três ou quatro, talvez mais supersticiosos, que molhavam os lábios com o néctar da pujança, ficando, no fim de contas, a garrafa quase cheia.
Enquanto nós já ouvíamos as reformulações táticas e nos eram pedidas coisas humanamente impossíveis para a segunda parte, um dos defesas, um moço discreto e silencioso, pegava na garrafa e ia sentar-se num pequeno compartimento. Nesse reservado, tratava do seu cansaço bebendo daquele xarope produzido nas arribas do Douro.
Quem não é para beber não é para jogar, lá diz o velho ditado.
Imaginávamos o líquido, gole a gole, qual fluído medicinal, a percorrer sangue e músculos, a dar-lhes alimento para o resto do suplício, coragem para o choque, força para os pontapés de baliza, concentração para os cortes de carrinho, elevação para as cabeçadas, colocação para as compensações, visão para as desmarcações, vigor para as corridas, hálito para as discussões.
E quando se ouvia o apito do árbitro a chamar as equipas, já a garrafa tinha atingido a qualidade de vasilhame.

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