Universidade de Évora redescobre planta de café "híbrido de Timor"

Universidade de Évora redescobre

A Universidade de Évora anunciou ter redescoberto a planta original de café do “híbrido de Timor”, identificada nos anos 60 do século passado, mas depois “perdida”, cujos clones permitiram criar variedades resistentes à doença da ferrugem.
“A planta é conhecida desde os anos 60, mas, no período da ocupação indonésia de Timor, perdeu-se todo esse conhecimento e referências”, disse à Agência Lusa Pedro Nogueira, da Universidade de Évora (UÉ).
Esse “exemplar único no mundo”, ou seja, “a planta original do ‘híbrido de Timor’”, foi agora redescoberta, graças a um projecto que envolve os departamentos de Geociências e Economia da UÉ, a Universidade Nacional de Timor Lorosae (UNTL) e o Centro para a Investigação da Ferrugem do Café, em Lisboa. “A UÉ já colabora com Timor desde 2000, em várias áreas de investigação, como a agronomia. Nesse âmbito, iniciamos este projecto em 2009 e conseguimos, este ano, identificar a planta”, resumiu Pedro Nogueira.
Segundo o investigador, o original do “híbrido de Timor” foi encontrado junto a uma aldeia timorense “no meio de uma floresta de café não ordenada, sem qualquer protecção ou referência”.
“Como temos a planta original ainda viva”, apesar de “muito velhinha e com os ramos muito débeis”, o principal objectivo, agora, “é continuar com os estudos” e realizar “novos estudos genéticos” para perceber “mais a sua origem e novos benefícios que possa trazer”, disse.
Outra das prioridades, traçou o investigador português, passa por assegurar a protecção da planta, para que “se mantenha o maior tempo possível em boas condições e tentar que produza novos grãos de café e sementes, para poder ser estudado o seu ADN e a sua evolução”.
“É a planta original que deu origem a todas as sementes híbridas resistentes à ferrugem espalhadas pelo mundo. O primeiro papel que o Governo de Timor deve ter é apoiar a sua preservação”, sublinhou.
Ao mesmo tempo, acrescentou, o exemplar tem importância patrimonial: “O mundo inteiro tem uma dívida para com Timor-Leste e esta planta em especial. O facto de o café se ter podido manter resistente à ferrugem foi devido à descoberta desta planta”, que, assim sendo, “tem valor histórico”.
De acordo com a UÉ, a planta original do “híbrido de Timor” resulta do cruzamento da espécie arábica, com 44 cromossomas e não resistente à ferrugem, com a espécie robusta, com 22 cromossomas e resistente à doença.
“Este cruzamento, improvável, pelo facto de a espécie arábica ter o dobro dos cromossomas da espécie robusta, aconteceu por um acaso da natureza em Timor-Leste”, explica a academia alentejana.
Após ter sido descoberta nos anos 60 do século XX, a planta foi clonada e as novas variedades que originou, resistentes “à principal doença do café”, frisou Pedro Nogueira, permitiram “a melhoria e mesmo a salvação de vastas plantações de café arábica em todo o mundo”.

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Correio Alentejo

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