Teatro em São Teotónio e Odemira para refletir em palco sobre os sem-abrigo

Teatro - 'Um Milhão +1'

Quem são os sem-abrigo? O que sentem? Como chegaram a essa condição? Estas são algumas das questões que a peça “Um Milhão + 1” pretende levantar entre todos aqueles que forem assistir a este espetáculo de teatro poético e visual, que vai estrear no próximo fim-de-semana, dias 17 e 18, no concelho de Odemira.

Criada a partir de uma ideia original por José Torres (o popular palhaço Enano), que também interpreta, a peça tem direção e encenação de Sérgio Fernandes, do Teatro Só, e pretende “colocar em cena um assunto que para a maioria das pessoas não interessa nada”.

“Aliás, quando encontramos um sem-abrigo na rua, fazemos conta que não o vemos”, diz ao “CA” José Torres.

O objetivo, diz, é que os espectadores, “ao verem o espetáculo, se emocionem e depois, quando encontrem um sem-abrigo, o vejam com outra sensibilidade, pois um sem-abrigo não é uma pessoa invisível e sem emoções”.

“Isto pode acontecer a qualquer um de nós: ficar sem habitação e sermos despejados para a rua. Como está a acontecer com muitos cidadãos e com muitos imigrantes que estão a vir para cá e não têm habitação e ficam na rua”, observa.

A ideia de “Um Milhão + 1” há muito que estava na cabeça de José Torres, que é formado na área da Ação Social pela Universidade de Sevilha (Espanha) e que desde novo “despertou” para esta temática.

“Venho de uma cidade [Jerez de la Frontera, em Espanha] onde vivia com esta realidade de muito perto. Via essas pessoas a morar na rua, a transitar, e ficava sempre curioso”, conta.

“Quando encontramos um sem-abrigo na rua, fazemos conta que não o vemos”, diz José Torres, que criou a peça e interpreta

A preparação da peça começou no verão de 2023 e, desde então, José Torres contactou diversas associações de apoio a sem-abrigo, para se inteirar desta realidade e assim ter uma melhor perceção da mensagem a transmitir.

“Reuni muita informação sobre o universo das pessoas em condição de sem-abrigo, o que me serviu de base para partilhar com o encenador como poderíamos colocar esta questão em palco, sem cairmos em clichés”, diz.

O resultado final é a peça “Um Milhão + 1”, que vai estrear às 21h00 de 17 de fevereiro (sábado), na sede da Sociedade Recreativa São Teotoniense, em São Teotónio, sendo depois apresentada no dia seguinte, pelas 15h30, na zona ribeirinha de Odemira.

Financiado pela Câmara de Odemira, o espetáculo conta também com as colaborações de André Duarte (música), Ana Baleia (figurinos e cenografia), Fábio Mestrinho (vídeo e fotografia), José Falcão (apoio técnico) e Sugo (design gráfico).

Com esta produção, José Torres assume que se atira para “uma piscina sem água”, entrando num “universo” completamente distinto daquele a que está acostumado enquanto Palhaço Enano. “Acaba por ser um espetáculo muito frágil, poético e visual, onde os espetadores vão fazer uma viagem connosco ao longo da degradação pelo tempo de um sem-abrigo”, diz.

A estreia em São Teotónio e Odemira será apenas “um aquecimento”, garante José Torres, que ambiciona manter a peça “durante cinco ou 10 anos”.

“Quero apresentar este espetáculo a pessoas em condição de sem-abrigo e sensibilizar a cidadania para este problema”, afiança, revelando já estar, nesse sentido, em contacto com associações portuguesas e de Espanha, República e Eslováquia para levar até lá a produção”, conclui.

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