Em entrevista exclusiva ao “CA”, o administrador-delegado da Somincor anuncia que o ZEP entrará em produção em Neves-Corvo neste primeiro semestre de 2022. Um projeto que, segundo António Salvador, é “fundamental para a sustentabilidade futura” daquela que é a maior empresa da região.
2022 vai ser, finalmente, o “ano do ZEP” em Neves-Corvo?
Sim, sem dúvida! É com esse objetivo que temos trabalhado arduamente. De facto, depois dos atrasos verificados pela suspensão do projeto em 2020 por causa da pandemia, e depois da recuperação em 2021, 2022 será o ano em que o ZEP iniciará produção.
Quando?
O nosso plano contempla o início da produção alargada de zinco na primeira metade do ano, com o primeiro trimestre como referência. A construção do projeto ficou substancialmente concluída no final de 2021 e deverá incrementar os índices de produção durante o primeiro semestre de 2022.
Em que medida é este projeto decisivo para o futuro da mina de Neves-Corvo?
O projeto é fundamental para a sustentabilidade futura de Neves-Corvo na medida em que permitiu à Somincor construir novas infraestruturas, não só para incrementar a produção de zinco como também potenciar novas áreas de produção subterrâneas. Em virtude do acréscimo de produção de zinco passaremos a ser, cumulativamente, uma referência na produção de zinco na Europa, tal como já somos no cobre. O contributo do nosso setor para a mudança que todos queremos que aconteça é fundamental: a mudança para um modelo de sociedade mais sustentável. Os metais que extraímos com o nosso trabalho tornarão possível a mudança para uma economia de baixo carbono e isso é algo de que todos devemos orgulhar-nos.
Com a entrada em funcionamento do ZEP o quadro de pessoal da Somincor vai aumentar?
Tendo em conta que já nos temos vindo a preparar para esta transição, já contratámos o pessoal adicional necessário para o arranque da ZEP, o que se traduz no facto do nosso número de trabalhadores diretos ser atualmente um dos mais elevados de sempre.
A Somincor prevê, até 2023, fazer prospeção e pesquisa de minério nas áreas onde é atualmente concessionária?
Sim, pretendemos continuar a prospeção de minérios de cobre e zinco nas áreas de concessão onde detemos atualmente direitos de mineração, exploração e investigação. Seja através de sondagens de avaliação subterrâneas, tendo em vista a expansão e conversão de recursos mineiros conhecidos em reservas mineiras economicamente exploráveis, seja também através de sondagens de superfície que possam resultar na descoberta de novas massas minerais ricas em cobre e/ou zinco que possam eventualmente existir no território circundante do depósito de Neves-Corvo. Em 2022, a Somincor planeia realizar um programa de sondagens que, entre o subsolo e a superfície, resulta num total combinado de cerca de 70 km de perfuração, um investimento estimado em cerca de 10 milhões de euros.
Como avalia a prestação da Somincor no ano de 2021?
Foi um ano difícil, mas temos vindo a recuperar gradualmente com base no esforço que todos têm vindo a fazer para atingir os objetivos da nossa empresa. Para além disso, pudemos continuar a operar durante a terceira vaga da pandemia, garantindo ao mesmo tempo que, com base no nosso plano de contingência, a segurança das nossas pessoas e das comunidades foi sempre um valor ao qual demos prioridade máxima. Tudo isto no contexto de progressos de construção significativos para completar o ZEP. Terminámos o ano com uma nota positiva, com o quarto trimestre a ser o mais forte do ano e com vários recordes de segurança e de produção.
Quais as previsões de produção para este ano e para 2023?
Em novembro do ano passado, providenciámos a informação de produção para os próximos três anos de funcionamento. A produção de Neves-Corvo deverá ficar entre 110.000 e 120.000 toneladas de zinco metal e 33.000-38.000 toneladas de cobre metal em 2022. À medida que o ZEP incrementa a sua atividade a produção aumentará para 142.000 a 152.000 toneladas de zinco e de 35.000 a 40.000 toneladas de cobre em 2023.
A pandemia foi um problema ou uma oportunidade para a Somincor?
A pandemia foi para a Somincor, bem como para muitas empresas, um problema que teve, por exemplo, implicação na suspensão do projeto ZEP em março de 2020, assim como na cadeia logística de abastecimento. Tal como muitas indústrias, a pandemia colocou-nos alguns desafios com os quais não contávamos, incluído fortes limitações de recursos humanos e exigentes requisitos para garantir sempre a segurança das nossas pessoas, das suas famílias e das nossas comunidades, mas felizmente conseguimos ultrapassar a maior parte dos obstáculos que esta situação nos colocou.
Em que medida os problemas sentidos no transporte de mercadorias a nível mundial têm afetado a Somincor?
Os problemas no transporte de mercadorias têm impactado principalmente a capacidade da Somincor adquirir os materiais necessários para exercer a sua atividade, sobretudo ao nível de custos e de prazos de entrega.
“O nosso sucesso depende do trabalho de equipa e da cooperação.”
Está em funções há 10 meses, desde abril de 2021. Que balanço faz deste período?
O balanço é positivo, mas com a plena consciência de que ainda podemos melhorar do ponto de vista da segurança e que temos muito para fazer do ponto de vista da produtividade. A Somincor está hoje mais preparada para lidar com os desafios que lhe são colocados e isso resulta em grande parte do esforço coletivo e do empenho que todos os nossos trabalhadores colocaram na execução das suas atividades.
Qual tem sido a sua maior preocupação na gestão da empresa?
Quando aceitei este desafio, cheguei convicto de que podemos melhorar as condições da nossa operação e por isso enfatizei desde o início três princípios: segurança, sustentabilidade e fiabilidade. São um triângulo fundamental para o nosso sucesso e, por isso, reitero a sua importância e penso que todos temos essa orientação. A segurança continuará a estar no centro das nossas preocupações. Trabalhar com segurança é uma condição indispensável para sermos bem sucedidos. E depois temos de ser mais exigentes, connosco e com os que nos rodeiam, e começar o novo ano a declarar tolerância zero à insegurança na nossa operação, mas também nas nossas casas. Temos de ser também mais produtivos para sermos mais sustentáveis e, portanto, sermos uma empresa competitiva no mercado global da extração de metais base e, por conseguinte, merecermos a confiança de todos aqueles que contam connosco.
Sente que se vive, neste momento, um clima de “paz social” na empresa?
Sinto que sim. Numa organização como a Somincor é essencial estarmos todos “a remar para o mesmo lado”, para que a força do grupo possa ser maior do que a soma das partes. O nosso sucesso depende do trabalho de equipa e da cooperação.
Qual o maior desafio que a empresa tem pela frente?
O maior desafio que a empresa tem é elevar o seu nível de competitividade num mercado e num setor que é extremamente volátil e que depende significativamente de variáveis que não controlamos.