Antigo deputado e destacado militante do PCP em Beja, Rodeia Machado assume em entrevista ao “CA” que o bom momento nacional do PS acabou por prejudicar a CDU nas Autárquicas 2017. Mas não esconde surpresa por algumas derrotas no distrito, nomeadamente em Castro Verde. “Não era para mim admissível que a CDU perdesse uma câmara nestas condições”, confidencia.
A que se deveu o “descalabro” da CDU no distrito de Beja nas eleições Autárquicas 2017?
Em cima do joelho nunca se conseguirá fazer uma leitura exacta dessa situação. A leitura tem de ser feita com continuidade e no tempo, para se perceber o que esteve em causa: se foram os candidatos, se foram os projectos ou se foram ambas as coisas. Em meu entender, há também alguns momentos particulares a nível da própria situação nacional. O PS estava numa fase de enchimento, que atrai o voto de muitos indecisos e de muitas pessoas que às vezes não votam nesse partido. Creio que esse foi um factor muito marcado nestas eleições, daí que isto não tenha acontecido apenas no distrito de Beja mas também em Almada ou no Barreiro, onde a CDU perdeu a presidência de câmaras onde era inimaginável isso acontecer. Para mim o dado mais simbólico dessa situação, além de Beja, foi Castro Verde, onde nunca pensei que a CDU poderia sair derrotada numas eleições desta natureza.
O que o levava a ter essa convicção?
Porque o projecto da CDU em Castro Verde foi sempre muito forte, muito capaz e conhecia bem o homem [Francisco Duarte] que estava à frente dos destinos [da Câmara]. Conheço-o bem, conheço a sua capacidade e a sua intervenção. E conheço todo o projecto que subjaz à sua filosofia e maneira de estar na vida. Por isso [a vitória do PS] foi surpreendente! Não era para mim admissível que a CDU perdesse uma câmara nestas condições.
Sente que a “geringonça” beneficiou o PS em detrimento da CDU?
Não faço essa leitura! A leitura que faço é a situação em alta em que o PS estava ajudou a ter um resultado desta natureza. E há situações pontuais em câmaras que a CDU perdeu em que umas terão tido que ver com a mudança de candidato, pelo facto de os presidentes já terem três mandatos. E outras não são exactamente por isso… E também não são pelo projecto! Então há qualquer coisa que é mais que o projecto, que o homem ou a mulher que estava à frente… É uma série de fenómenos, com a gravosidade para nós – CDU – de o PS estar em alta e atrair muitos votos de cidadãos indecisos.
À luz destes resultados, sente serem necessárias mudanças na estrutura dirigente da DORBE do PCP?
Vamos ver… O problema não é de pessoas, é de políticas. E é preciso encontrar políticas alternativas e trabalhar muito, porque os votos da CDU não são por inerência. São votos “cavados” na perspectiva do trabalho, da competência e de uma série de situações que, naturalmente, quando se descuram um pouco levam a resultados negativos.