Baltazar, Gaspar e Belchior acabaram de chegar à cidade de Beja com oferendas para o Menino Jesus! A recriação artística dos três “reis magos” é a nova fase do presépio que a Santa Casa da Misericórdia de Beja tem vindo a desenvolver desde 2018, num trabalho que rompe com os “cânones” mais tradicionais e conta com a colaboração de diversos artistas e artesãos locais, sob coordenação artística de Alexandra Santos Rosa.
Na nova fase deste presépio, patente até dia 8 de janeiro no espaço exterior anexo à Igreja de Nossa Senhora da Piedade (antigo hospital da Misericórdia de Beja), Baltazar, Gaspar e Belchior surgem com montadas distintas, cada qual “inspirada” na sua procedência.
“O Rei Belchior, que seria oriundo da Pérsia (atual Irão), vem num leão, que é o animal simbólico dessa zona. Já o Rei Gaspar, oriundo da Índia, vem num elefante. E o Rei Baltazar, oriundo da Arábia Saudita, vem montado no seu camelo”, explica Alexandra Santos Rosa, que contou com a colaboração dos artistas José Francisco e Susana Teixeira para este trabalho.
Além das diferentes (e coloridas) montadas, também os reis magos são distintos na forma e no conceito, num trabalho singular e original dos três artistas que tem deixado bastante impressionados os mais de 600 visitantes que já passaram pela exposição.
“As pessoas quando aqui chegam ficam surpreendidas, porque é um presépio diferente dos presépios tradicionais. É um presépio em que há a fusão da história tradicional com a história que foi criada especificamente para este presépio e isso acaba por surpreender as pessoas”, garante Alexandra Santos Rosa, reconhecendo que nem todas as opiniões são favoráveis ao trabalho realizado.
“Mas às vezes é preciso chocar um bocadinho as pessoas, para que estas consigam ter outra forma de olhar para o mundo e ver as coisas”, contrapõe a coordenadora artística do projeto.
Em 2021 o presépio da Misericórdia de Beja tem uma outra novidade: uma passadeira em mosaicos hidráulicos, que guia os visitantes por todas as fases do projeto, numa espécie de “passadeira alvi-negra”.
“Todas as santas casas da misericórdia do país têm este tipo de pavimento. Como tal, a colocação deste pavimento é uma forma simbólica de unir todas as misericórdias [de Portugal] em torno deste presépio”, justifica Alexandra Santos Rosa, revelando que “num próximo ano” este pavimento “formará uma cruz a meio” do recinto, como forma de “ligação entre o nascimento, a morte e a ressurreição de Jesus”.
A criação do presépio da SCMB arrancou em 2018, num desafio lançado pelo provedor João Paulo Ramôa a Alexandra Santos Rosa, que idealizou um projeto a desenvolver em seis fases, uma por ano e todas recorrendo a artistas e a produtos locais.
No primeiro ano, 2018, foi a própria Alexandra Santos Rosa a conceber a imagem do presépio propriamente dito, instalado numa talha de barro executada pelo oleiro António Mestre. Por sua vez, José Francisco criou a composição central em torno do conjunto, com elementos decorativos de origem vegetalista.
Depois, em 2019, juntaram-se ao presépio bejense as figuras dos santos padroeiros (Santo António, São João e São Pedro), assim como o santo padroeiro da cidade (São Sezinando) e os das suas freguesias urbanas (Santiago Maior, São João Batista, Santíssimo Salvador e Assunção de Nossa Senhora). Os trabalhos foram executados por Alexandra Santos Rosa, Leandro Sidoncha, Paula Salvador, Manuel Carvalho e Sacha Vorontsova.
Em 2020, a terceira fase do presépio foi dedicada ao tema da “Alquimia”, com representações artísticas dos anjos Querubins, Potestades, Serafins, Arcanjo Rafael, Arcanjo Miguel, Arcanjo Gabriel e Anjo da Guarda por intermédio dos artistas José Francisco, Carla Mota, Manuel Carvalho, Paula e Jorge Salvador, Alexandra Santos Rosa e Rita Morais.
O projeto idealizado por Alexandra Santos Rosa prevê mais duas fases, o que, diz a autora, dependerá “sempre da vontade da SCMB em dar continuidade” ao presépio.
Se assim for, para 2022 o objetivo será recriar “as oferendas ao Menino Jesus”, através de “umas figuras que irão unir elementos da região ao próprio presépio”, conclui esta responsável.