O presidente da Associação de Agricultores do Campo Branco está preocupado com o futuro do sector na região, dado o impasse actual em redor do Plano Zonal.
Em entrevista ao “CA”, José da Luz Pereira afirma mesmo que o Plano Zonal”sofreu um retrocesso neste novo quadro comunitário”, em parte devido à perda de autonomia da sua estrutura local de apoio.
“Por outro lado, esgotou-se o ‘pacote’ financeiro destinado às medidas agro-ambientais praticamente no primeiro ano e há cerca de 200 milhões de euros sem cabimento orçamental e o anterior Governo [PSD/CDS] garantiu que ia buscar esse dinheiro ao Orçamento de Estado. Por via disto, o Plano Zonal de Castro Verde, que nunca teve problemas de contenção financeira, regista agora um retrocesso. Foi andar para trás”, acrescenta o dirigente.
Regista-se que há cada vez mais jovens a trabalhar na agricultura. Isso também está a acontecer no Campo Branco?
Há muitos agricultores idosos e em idade de reforma há muitos anos. Nós estamos preocupados há muito tempo com essa tendência mas, desde há algum tempo para cá, temos vindo a verificar um certo rejuvenescimento que, naturalmente, nos deixa satisfeitos. Há novos projectos e uma maior dinâmica que são positivos para a nossa região.
Isso tem-se reflectido no quadro associativo?
Também! Os números, particularmente no efectivo pecuário, que em muitas regiões tem vindo a decrescer de acentuado. Na nossa região, não só se manteve como tem uma tendência ligeira para aumentar os efectivos. Isso é sinal de que há algum interesse de novos agricultores que querem continuar a trabalhar e esses agricultores são sobretudo jovens.
Isso também contraria um pouco aquela ideia de que o sequeiro não é muito atraente.
A vinda de jovens para agricultura também teve muito a ver com o estado do país. Muitos vieram das grandes cidades para fazerem agricultura porque não tinham alternativas. De qualquer modo, no caso do sequeiro, uma exploração com alguma dimensão e bem escalonada e bom maneio, dá para as pessoas viverem.
Também há boas oportunidades no sequeiro?
Claro, claro! Mas também tem de haver uma política nesse sentido. Não se pode deixar as pessoas investirem e apostarem e, depois de algum tempo, não conseguirem afirmar as suas explorações porque deixam de haver incentivos. Tem que haver um programa de apoio a estes jovens e não se pode permitir que tirem o seu curso e depois largá-los. Tal como no regadio, tem de haver apoios para as zonas do sequeiro e tem de haver uma politica de apoio a este sector.
Falemos do actual quadro comunitário de apoio: o envelope financeiro que está disponível é satisfatório ou tem constrangimentos?
Eu acho que tem constrangimentos e, segundo dizem, o “pacote” [financeiro] praticamente ficou esgotado no primeiro ano. Quanto a mim isso é uma política errada porque o “pacote” deveria ser escalonado durante os anos da sua vigência [até 2020], de modo a dar oportunidades a toda a gente. Poderá ter acontecido que os grandes investimentos levaram de uma vez todo o dinheiro que havia para ajudar os agricultores. Isso vai prejudicar os pequenos investimentos, onde nós estávamos empenhados e tínhamos esperança. Isso é grave e o sequeiro fica prejudicado.
Mas isso é um dado adquirido?
Como lhe digo, há muita falta de informação nesta matéria. Mas temos informações que grande parte dos investimentos estão comprometidos nas áreas regadas e não no sequeiro. Nós estávamos, por exemplo, à espera dos concursos para os pequenos investimentos até 25 mil euros, com financiamento de 50%, que muito iriam contribuir para a modernização das pequenas explorações agrícolas. Aquilo que sabemos é que esse “envelope” está próximo do esgotamento e isso é uma política errada, na nossa opinião. E quem permitiu esta situação devia ter calendarizado no tempo a apresentação e aprovação destes projectos e, até este momento, isso não tem funcionado.
No Campo Branco, um dos grandes “segredos” da sustentabilidade de muitas explorações tem sido o Apoio Zonal e as agro-ambientais. Está tranquilo com a estabilidade destas áreas?
As coisas no Plano Zonal neste programa [Portugal 2020] complicaram-se bastante. Até aqui, o Plano Zonal de Castro Verde era uma medida agro-ambiental separada de todas as outras e, no actual quadro, foi tudo metido no mesmo saco e já estão aí os primeiros problemas. [No passado] Nunca houve falta de dinheiro mas, muitas vezes, não havia candidaturas. Neste momento, temos candidaturas e não temos dinheiro. O plano sofreu um retrocesso neste novo quadro comunitário. Desde logo porque a estrutura local de apoio [ELA] deixou de ser a de Castro Verde para passar a ser do Baixo Alentejo e, desde logo, há nesta alteração uma perda de autonomia. Por outro lado, esgotou-se o “pacote” financeiro destinado às medidas agro-ambientais praticamente no primeiro ano e há cerca de 200 milhões de euros sem cabimento orçamental e o anterior Governo [PSD/CDS] garantiu que ia buscar esse dinheiro ao Orçamento de Estado. Por via disto, o Plano Zonal de Castro Verde, que nunca teve problemas de contenção financeira, regista agora um retrocesso. Foi andar para trás.
Preocupa-o as consequências que esta situação pode ter no projecto das “planícies” de Castro Verde?
Preocupa-me muito e vejo que com alguma apreensão que haja outras entidades que deveriam ter-se preocupado e não se preocuparam.
Está a falar de quem?
Não vou enunciar ninguém, mas julgo que deveria ter havido uma reacção conjunta de várias entidades contra esta situação que foi criada. Faltou essa reacção e ninguém falou disso. Teve a Associação de Agricultores de “levantar a lebre”, como costuma dizer-se. E vejo isto com um desgosto profundo, na medida em que tivemos um trabalho intenso para erguer este projecto quando ninguém falava sequer em agro-ambientais e agora toda a gente quer ter projectos destes.
Parece muito preocupado. Teme que o projecto de Castro Verde, sempre tão elogiado, possa ser posto em causa?
Não direi tanto isso, mas será uma medida agro-ambiental igual a todas as outras. Perde um bocadinho aquele factor distintivo que tinha e é bom lembrar que o Plano Zonal [de Castro Verde] serviu muitas vezes de “bandeira” a Portugal quando precisou de apresentar o modelo de um projecto agro-ambiental.
Qual a expectiva com Capoulas Santos?
Para mim é a pessoa que em Portugal tem o maior conhecimento político da agricultura portuguesa. Já tive oportunidade de trabalhar com ele várias vezes e conheço-o há muitos anos. Sei que é uma pessoa que vai trabalhar em conjunto com os agricultores e certamente vai ser um bom ministro.
O que espera do ano agrícola?
Há uma grande expectativa na parte vegetal porque temos vivido um ano sem chuva muito intensa. Choveu o suficiente e no tempo próprio. As coisas estiveram complicadas a meio de Dezembro mas, depois, melhoraram. Há agora uma grande expectativa porque, até ao momento, houve um consumo de tudo o que havia em armazém, desde as palhas às forragens e aos cereais. Portanto, havia uma grande apreensão que 2016 voltasse a ser hostil mas, como choveu, embora não tenha sido muito, estamos agora muito esperançados que a “Primavera não nos venha a faltar”, como se costuma dizer! Por outro lado, estamos preocupados porque as ribeiras não correm e isso pode trazer alguma falta de água nas barragens e nas charcas durante o Verão. Mas na parte vegetal as coisas deixam-nos animados e com esperança.