De frente para as obras que vão decorrendo no IP2, Marco Batista vê a vida andar para trás a cada dia que passa. Este empresário de 39 anos é o gerente da estação de serviço existente em Entradas, mesmo junto à estrada, que em breve deverá ficar apenas acessível no sentido Sul-Norte. Tudo porque a intervenção da Infra-estruturas de Portugal (IP) no Itinerário Principal 2, no âmbito da subconcessão rodoviária do Baixo Alentejo, visa impedir o acesso à vila através daquele entroncamento por parte de quem circula no sentido Norte-Sul. Quem quiser ir a Entradas ou à bomba de gasolina, só mesmo entrando no cruzamento existente centenas de metros adiante.
“Esta situação vai prejudicar o nosso negócio em cerca de 70 a 80%. Grande parte dos nossos clientes circulam no sentido Norte-Sul e agora vamos ver como será… Ou fechamos ou haverá despedimentos”, admite ao “CA” Marco Batista, lembrando que a estação de serviço está no local há 13 anos e representa um investimento de quase um milhão de euros numa pequena localidade no interior do país.
“Fomos apanhados de surpresa com as obras”, continua o empresário, que até enviou uma carta ao deputado do PS eleito por Beja, Pedro do Carmo, a denunciar a situação. O documento já chegou às mãos do secretário de Estado das Infra-estruturas, Guilherme W. d’Oliveira Martins, e do presidente da IP, António Laranjo, mas Marco Batista não acredita num “volte-face”.
“Não tenho muita esperança”, afirma o empresário, que ainda assim propõe uma solução. “Já que houve contestação a um viaduto no cruzamento a sul, que o fizessem aqui. Acho que era uma boa opção, pois servia a estação de serviço e a população. E há espaço para isso!”
Transtornos na agricultura
A conclusão das obras de requalificação do IP2 na zona de Entradas não está a causar “mossa” apenas nas bombas de gasolina da vila. Também os agricultores sentiram na “pele” os transtornos causados pelo encerramento, em Outubro passado, de todos os acessos aos caminhos agrícolas através do itinerário principal.
“Para ir a determinadas propriedades temos de andar mais quilómetros. No caso do Monte do Seixo, tenho de ir no sentido de Albernoa e voltar para trás. Especialmente na época de Inverno, pois na Primavera-Verão as ribeiras não vão cheias e temos outros acessos. Mas no Inverno, quando há necessidade, temos de andar o dobro ou mais dos quilómetros que era normal fazer-se”, assinala Carlos Contreiras, de 60 anos.
Além do mais, continua este agricultor, a Infra-estruturas de Portugal “devia primeiro ter arranjado as alternativas e só posteriormente fechar as entradas para o IP2”. “Assim estamos atados de pés e mãos”, diz, numa opinião partilhada pelo também agricultor Carlos Paulino, 58 anos. “Neste caso, a carroça andou à frente dos bois. E isso põe as pessoas em dificuldades, pois não se podem governar como se governavam habitualmente. Não tem lógica nenhuma”, afirma.
Para estes dois agricultores de Entradas, toda esta situação prejudica (e muito) a agricultura local. “As pessoas vêm-se limitadas”, observa Carlos Paulino. E para Carlos Contreiras, tudo poderia ter ficado resolvido aquando da construção do IP2, ainda na década de 90 do século passado. “Na altura pensou-se que se ia economizar muito dinheiro alargando as pontes existentes, mas foi o contrário: as pontes ficaram muito mais caras e nós ficámos sem acessos. Caso contrário, este problema estava resolvido”, conclui.