A uma semana do arranque da FACECO, o presidente da Câmara de Odemira, fala ao “CA” sobre os desafios que se colocam ao futuro do maior concelho do país e explica aquela que tem sido a estratégia seguida em termos de desenvolvimento económico. “Nunca apostámos num único sector e não o queremos fazer. Essa nunca foi a estratégia de Odemira. […] E a crise que vivemos mostrou bem que a aposta na diversidade económica é essencial”, diz José Alberto Guerreiro.
Já são 28 edições de FACECO. Que representa a feira para o concelho de Odemira?
É um momento sempre importante e que acaba por ser, para além de uma montra daquilo que por aqui fazemos de melhor, um ponto de encontro entre os odemirenses. E talvez o aspecto mais relevante seja o de promover economicamente uma série de actividades que são importantes para Odemira e que, neste momento, conseguem fazer negócio. Porque a feira tem esta grande virtude, além de permitir que consigam ter uma melhor noção do que os mercados estão a pedir.
A FACECO é uma feira de cultura e de economia, que mostra o melhor de Odemira. Estamos a falar de um concelho amigo do desenvolvimento económico?
Penso que sim! Quem está nesta vida tenta sempre fazer aquilo que se traduza na criação de emprego e de bem-estar. Obviamente que para que isso aconteça tem de haver crescimento económico, mas ao mesmo tempo esse crescimento tem de ser ajustado às características do território e do tecido empresarial que temos, ou seja, procurar que ele seja sustentável no tempo. Não queremos um crescimento que seja apenas circunstancial, mas um crescimento que se traduza numa melhoria contínua e de forma qualificada da vida dos odemirenses.
A agricultura ainda é o sector com mais peso na economia local ou já foi ultrapassado pelo turismo?
Nos anos passados e mesmo nos anos futuros, devido às características territoriais de Odemira e à sua própria estrutura empresarial, tenderá sempre a ser o sector primário o mais forte. Mas nunca apostámos num único sector e não o queremos fazer. Essa nunca foi a estratégia de Odemira…
“Nunca pôr os ovos todos no mesmo cesto”, como já disse várias vezes.
Exactamente! E a crise que vivemos mostrou bem que a aposta na diversidade económica é essencial. E num concelho com estas características é bem possível fazer uma aposta diferenciadora. Mas é difícil articular todos os sectores, designadamente na nossa faixa costeira, que é onde todos se querem fixar e há uma série de actividades – não só de âmbito agrícola, mas também no turismo – que muitas vezes têm uma convivência difícil. Mas continuamos a apostar nessa diversidade e nessa convivência. E julgo que até será possível tirar partido de algumas sinergias. Julgo que os nossos empresários estão a perceber essa perspectiva de desenvolvimento e vão, com toda a certeza, ajudar-nos nesse processo.
Tem havido evolução nessa questão da compatibilização entre agricultura e turismo?
Alguma, mas não tanto como desejávamos.
Porquê?
Porque, como disse, o crescimento económico que temos tem, em muitos casos, tido como pilar mais forte o sector agro-alimentar, que tem um desenvolvimento de regadio – sobretudo na faixa litoral – e que tem situações difíceis de gerir, designadamente em matéria ambiental e social. São muitos os impactos sociais que temos neste momento pela vinda de tantos trabalhadores estrangeiros para o concelho e não é fácil ter uma resposta imediata. A questão do alojamento é difícil, as questões do acesso aos serviços básicos como a Saúde e outros é também difícil, as nossas acessibilidades sofrem muito mais…
Perante este quadro, que tem feito a Câmara Municipal?
Temos insistido nestas matérias com o Governo da República, para que possamos vir a ter melhores acessibilidades, melhores serviços de apoio ao emprego e à saúde e outras… Não tem sido fácil! Mas estamos a trabalhar no sentido de vir a ter uma delegação do Centro de Emprego em Odemira, porque não é aceitável termos apenas esta serviço apenas uma vez por semana. Por isso, posso dizer-lhe em primeira mão que muito brevemente iremos ter a possibilidade de ter um Serviço de Emprego em Odemira. Por outro lado, estou também em condições de anunciar que iremos ter um reforço de pessoal no Serviço de Finanças em Odemira, depois de várias reuniões que tenho tido e de tantas dificuldades por que tem passado este serviço.
Relativamente às acessibilidades, continua a afirmar que Odemira tem a pior rede de estradas nacionais do litoral de Portugal?
Não tenho muitas dúvidas disso! Conheço bem todo o litoral do país e há até zonas do litoral que são servidas por mais que uma auto-estrada, apara além das redes complementares. E Odemira nem uma ligação directa a um IC tem! Ainda há anos apresentou-se em Odemira o programa ‘Aproximar Odemira’, mas o certo é que [o concelho de] Odemira continua afastado porque esse programa nunca foi concretizado.
Além da requalificação da rede de estradas nacionais que passa no concelho – e são várias –, o que falta de novo em Odemira nesta matéria?
Seria essencial ligar, de uma vez por todas, Sines ao Algarve por Odemira. Obviamente que este investimento pode ser faseado, pois compreendemos que há zonas que têm alguma sensibilidade. E não faz sentido nenhuma que não tenhamos um acesso melhorado e mais rápido de Odemira ao IC1, que nos ligue a Beja. Continua a ser a nossa sede distrital e estamos a uma hora e 15 minutos – no mínimo – de Beja, onde as nossas grávidas continuam a ser assistidas e onde há vários serviços que utilizamos. E estamos cada vez mais desesperados com o arranjo da EN 120, designadamente no troço entre Odemira e São Luís, que não tem a mínima qualidade para ser estrada nacional. E por outro lado, temos a EN 266, que liga São Martinho das Amoreiras ao limite sul do concelho com o Algarve. São eixos rodoviários que servem a nossa actividade económica e que têm muito tráfego.
No caso da ligação Sines-Algarve por Odemira, que tipo de estrada exige? Um IC, um IP…
O formato de IC serve-nos perfeitamente e, em certos casos, até coincidir com a própria estrada nacional.