Neste ginásio em Aljustrel, cada pequeno passo é uma grande vitória!

Vera Costa - Ginásio Aljustrel

Carlos Cabeça era um “poço de vida”. Durante anos a fio geriu um afamado restaurante em Aljustrel, que não parava de servir mariscos e carne grelhada à hora de almoço e de jantar. Até que um dia sofreu um acidente vascular cerebral (AVC). E poucas semanas depois… outro. Foi como “chocar contra uma parede”, um travão de mão puxado a alta velocidade!

Estávamos a sair do período de pandemia e Carlos, hoje com 70 anos, viu-se forçado a ficar em casa, com mobilidade reduzida, falta de equilíbrio e a necessidade de se amparar num andarilho sempre que tinha de se deslocar. Mas Carlos prefere não pensar muito nesses dias, mas antes olhar em frente. Foi por isso que, há quase ano, decidiu entrar para o ginásio de Vera Costa, na “vila mineira”, após ver alguns vídeos desta instrutora a trabalhar com outras pessoas com problemas motores.

“Venho aqui de segunda a sexta, faço exercícios em 10 máquinas e já recuperei o equilíbrio que antes não tinha”, conta ao “CA”, reconhecendo que nestes 10 meses ganhou “muita autonomia”. “E liberdade” – “Desde que vim para aqui progredi muito, até já conduzo”, reforça.

“Não terem limites e estarem dispostos a curar-se, voltarem a ter esperança, é fundamental”, conclui Vera Costa

Carlos Cabeça integra o grupo de nove pessoas com mobilidade reduzida que trabalha diariamente no ginásio de Vera Costa. Uns sofreram AVC’s, mas há também quem padeça de Parkinson ou tenha ficado limitado após acidente. A todos eles Vera Costa dedica particular atenção, ajudando à sua recuperação… através do exercício físico.

“Fazemos do ginásio quase um centro de reabilitação, onde todos se juntam, todos se motivam e todos treinam”, nota ao “CA” Vera Costa, 41 anos, licenciada em Desporto e com pós-graduação em Medicina Desportiva e mestrado em Atividade Física e Saúde, estando atualmente a frequentar um doutoramento em Reabilitação na Faculdade de Motricidade Humana (FMH).

Segundo esta técnica, “estas pessoas perderam muita massa muscular e através da musculação elas conseguem ter novamente autonomia”. O exemplo “mais evidente”, diz, é o de David Silva – “Ele chegou aqui sem andar e agora já é autónomo a fazer exercício físico”.

“Já me sinto com mais força nas pernas, para além de já conseguir manter-me mais tempo de pé”, reconhece David Silva

O caso de David Silva, 36 anos, é uma verdadeira história de superação. Natural de Ervidel, este antigo trabalhador na mina de Neves-Corvo sofreu, em setembro de 2021, um grave acidente de viação que quase o deixou tetraplégico.

“Estive dois anos e meio em Lisboa, a fazer fisioterapia para passar o meu dia-a-dia em cadeira de rodas, para ser o mais autónomo possível”, recorda ao “CA”.

De volta a casa, David quis ir mais além e entrou em contacto com Vera Costa, com quem trabalha desde junho de 2024. “Quis desenvolver mais um pouco as minhas aptidões, pois queria ter um pouco mais de força nas pernas, para poder conseguir andar melhor”, conta.

Quase um ano depois, os resultados são notórios. “Já me sinto com mais força nas pernas, para além de já conseguir manter-me mais tempo de pé. Isso também me ajuda no dia-a-dia, seja pela redução de espasmos ou por me ajudar a ter um controlo maior do meu corpo”, diz.

Hélder Larguinho, 67 anos, é outro dos utilizadores deste ginásio em Aljustrel. Este antigo canalizador sofreu, há cerca de dois anos, um AVC hemorrágico que o deixou praticamente sem mobilidade, mas o trabalho desenvolvido desde março com Vera Costa já está a surtir efeito.

“Sinto-me melhor todos os dias”, reconhece ao “CA”, antes de mais uns passos de ponta a ponta do ginásio, amparado pelo andarilho.

“Desde que vim para aqui progredi muito, até já conduzo”, diz Carlos Cabeça

Para Hélder, David e Carlos, cada pequeno passo que dão a mais no ginásio de Vera Costa acaba por ser uma grande conquista para as suas vidas.

“Se as pessoas voltarem a fazer as coisas delas, já é espetacular”, nota a instrutora, destacando o facto deste trabalho ir além do exercício físico. “Estas pessoas passam muito tempo em casa e assim não, estão aqui e convivem uns com os outros”.

Além do mais, “eles ajudam-se muito uns aos outros e isso faz com que todos recuperem”, continua Vera Costa, elogiando a capacidade de nenhum elemento do grupo “meter limites” nos exercícios que faz ou nas metas a que se propõe.

“Não terem limites e estarem dispostos a curar-se, voltarem a ter esperança, é fundamental”, conclui.

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