Foi num final de tarde quente no passado mês de Julho que José Duarte Albino, de 92 anos, se despediu da presidência da administração da Caixa Agrícola de Aljustrel e Almodôvar.
O momento foi simples e discreto, à imagem do homem que ao longo de 55 anos liderou esta instituição bancária, ajudando-a crescer e a tornar-se num dos bancos de referência na região e dentro do próprio grupo Crédito Agrícola em Portugal. Cinco décadas e meia de dedicação que José Duarte Albino resume com orgulho. Pelo que fez, mas, sobretudo, pelo que ajudou a construir.
“Sempre acreditei no futuro e nunca, nem mesmo nos momentos difíceis, procurei voltar costas às dificuldades, mas sim arregaçar as mangas e jogar-me ao trabalho. Não estou arrependido de ser assim e penso que deixei a minha marca” nas associações em que fui dirigente, sintetiza José Duarte Albino na longa conversa que manteve com o “CA”.
José Duarte Albino chegou à presidência da então Caixa Agrícola de Aljustrel em 1964. Tinha 37 anos e era médico veterinário e agricultor, trabalhando em várias explorações agro-pecuárias da região. A instituição tinha sido fundada em 1911 pelo seu avô, Manuel Joaquim Brando, mas a sua chegada à presidência foi um tanto ou quanto inesperada. “Foi o antigo presidente que tinha de ir para Lisboa e convocou uma Assembleia Geral [para eleger nova direcção]. Mais tarde foram dizer-me que tinha sido eleito. Ou seja, não forcei a entrada para aqui, fui posto aqui!”, recorda a sorrir.
À época a Caixa Agrícola de Aljustrel era, na prática, um balcão da Caixa Geral de Depósitos, contando apenas com dois funcionários: o gerente e uma sobrinha sua. Esta foi a realidade da instituição ao longo de mais duas décadas. Em 1983, começou uma nova era, tendo-se reformado os dois funcionários, aos quais a Caixa concedeu um complemento de reforma, em virtude dos seus salários serem baixos. Nessa altura entraram novos funcionários e iniciou-se um processo de desenvolvimento da Caixa, que a colocou em condições de absorver a ex-Caixa de Almodôvar, por fusão, em 1993, dando origem à Caixa Agrícola de Aljustrel e Almodôvar.
“A Caixa de Almodôvar estava em pré-falência, com cerca de 700 mil contos de resultados transitados negativos. Ou seja, era um pequeno negócio que tinha uma grande dívida. A Caixa Central foi insistindo e fizemos a fusão. E o Fundo de Garantia [do Crédito Agrícola] colocou cá 500 mil contos, em que nós não pagávamos juros durante cinco anos. E nesses cinco anos pagámos esses 500 mil contos”, frisa José Duarte Albino.
O processo de fusão com Almodôvar levou os associados da Caixa Agrícola de Aljustrel a exigir que José Duarte Albino não deixasse a presidência durante esses cinco anos. Era nele que confiavam e assim continuou a ser ao longo dos anos vindouros, em que a nova organização e a “expansão territorial” se revelaram “um bom negócio” para a instituição.
A “revolução cultural”
Os anos continuaram a passar-se, sempre com a Caixa de Aljustrel e Almodôvar a crescer. Começaram a surgir os balcões fora da sede de concelho e também se deu a entrada no mercado de Castro Verde. Até que em 2004, na sequência de um processo de fiscalização e acompanhamento da Caixa Central, foi necessário mudar o paradigma interno até então vigente. José Duarte Albino classifica essa fase como sendo a “‘Revolução Cultural’ da Caixa”, um período que coincidiu com a entrada de Orlando Felicíssimo para a administração (hoje é o presidente, tendo sucedido já este ano ao próprio José Duarte Albino) e com a aposta na formação dos colaboradores.
“Demos uma volta de 180 graus à Caixa! Porque sempre acreditei – embora a minha idade já fosse adiantada – que as coisas estão sempre a evoluir e que passamos a ser velhos quando não acreditamos no futuro”, vinca José Duarte Albino.
Uma visão, continua, que fez a Caixa de Aljustrel e Almodôvar preparar-se desde logo para as cada vez maiores exigências impostas pela supervisão do Banco de Portugal (BdP) e pela EBA (European Banking Authority). “Há quatro ou cinco anos recebemos uma carta em que informava dos novos requisitos exigidos para os futuros órgãos sociais das instituições financeiras, bem com para os titulares de funções essenciais. Uma das exigências era a formação académica para quem viesse a ser candidato a esses lugares. Houve muitas Caixas que não acreditaram que isso fosse para ser posto em prática, por tradição, por serem bancos cooperativos… Mas a lei é para todos! E nós seguimos à risca as instruções do BdP”, diz.
Aos 92 anos José Duarte Albino entendeu ser a hora de deixar o cargo de presidente da Caixa de Aljustrel e Almodôvar. Não se recandidatou às eleições do passado mês de Março e em Julho, após a tomada de posse da nova administração, foi nomeado com um cargo honorífico vitalício.
“Tenho confiança plena nos actuais dirigentes e temos hoje colaboradores com muita formação. Portanto, acho que a Caixa tem futuro e tenho certeza que vai continuar a seguir as linhas que tem seguido”, afiança José Duarte Albino, para quem os 55 anos passados na Caixa de Aljustrel e Almodôvar foram, no plano pessoal, uma experiência muito rica. “Foi enriquecedor por me ter permitido trabalhar numa área que não era a minha e porque sempre acreditei no futuro. Porque passamos a ser velhos quando dizemos que no passado é que era bom. Quando isso acontece é sinal de velhice”, conclui.