José Alberto Guerreiro. “Muito me honra ter sido presidente da Câmara de Odemira”

Foi vereador, vice-presidente e presidente da Câmara de Odemira. Vinte e quatro anos de serviço público recordados por José Alberto Guerreiro em entrevista ao “CA”, já depois de ter sido distinguido com a Medalha de Honra do Município.

Foi distinguido, a 8 de setembro, com a Medalha de Honra do Município de Odemira. O que representou para si esse momento?

Representa, antes de mais, o envelhecimento natural e reflete um percurso de vida muito dedicado à carreira pública. Muito me honra ter desempenhado as funções que desempenhei, quer como vereador quer como presidente da Câmara, em períodos que nem sempre foram fáceis. Recordo-me de ter atravessado períodos muito difíceis quando fui presidente da Câmara, nomeadamente no primeiro mandato, com a terrível crise económica e financeira que me tirou muitas horas de sono e me levou a tantas e tantas reuniões para equilibrar, em cada momento, uma situação que era imprevisível. Depois veio o segundo mandato, em que me senti muito mais realizado. Com a capacidade do município em pleno e reposta, e com a recuperação económica a avizinhar-se, foi possível meter em marcha projetos de grande impacto, designadamente nas respostas sociais, na qualificação do território – e estou a lembrar-me do projeto Polis, que teve uma expressão muito forte nessa altura – e outras intervenções, quer urbanas, quer na rede viária e nas escolas, sempre com especial relevância para aquilo que foram as parcerias. Finalmente, o terceiro mandato, que foi também muito difícil, com o surto pandémico. Ou seja, comecei com uma crise e acabei com outra! Neste caso, foi muito importante a articulação entre entidades. Odemira esteve em destaque nacional pelos problemas e pela diferença que teve nesses problemas e nessa altura foi um trabalho muito sacrificante, com muitas noites sem pregar olho, para tentar perceber como no dia seguinte conseguiria melhorar a condição a que estávamos sujeitos na altura. Os media também nos fizeram muita pressão, porque era um caso com situações de direitos humanos, e foi um período difícil. Mas num período autárquico de 12 anos como presidente, era natural que houvesse momentos de grande acalmia e outros de grande agitação, ainda por cima num território como Odemira.

Foram 24 anos como eleito na Câmara de Odemira, 12 como vereador e vice-presidente e mais 12 como presidente. Foram 24 anos de “espírito de missão”?

Sem dúvida! Quem me conhece sabe que quando visto a camisola por algum projeto entro de “corpo e alma” nessa missão. E nas autarquias fi-lo também! Tive sempre um espírito de grande abertura e de olhar para o intermunicipalismo. Aliás, recordo-me de em 2013 ter a presidência da CIMAL, a presidência das águas e da gestão dos resíduos locais, o que me dava imenso trabalho e era sacrificante. Ainda assim, valeu a pena e penso que foi essa atitude que agora foi reconhecida pela Câmara e pela Assembleia Municipal como sendo meritória desta atribuição [da Medalha de Honra Municipal].

Enquanto presidente da Câmara de Odemira, qual o momento de que mais se orgulha?

Não há nenhum momento de especial destaque, mas se tivesse de destacar um momento de orgulho odemirense diria que foi quando recebemos, há 10 anos, em Tróia, o prémio das “Melhores Praias” para [as praias de] Zambujeira do Mar e [de] Furnas Rio [em Vila Nova de Milfontes]. Foi um momento nacional, de alguma surpresa, mas que encheu de orgulho todos os odemirenses e a mim em particular, porque foi a partir daí que Odemira se projetou muito mais nesse domínio de ser um concelho com uma ótima aptidão, quer ambiental, quer turística. Oxalá que, nos anos que vêm, voltemos a agarrar nessa temática e dar-lhe um novo cunho, porque não podemos perder esse ímpeto de ter um território com esta excelência, um território com esta aptidão, um território onde há lugar para todos. A agricultura é importante, o turismo é importante, os serviços e o próprio domínio social também. Esta diversidade acabou por ser a marca de toda esta construção autárquica dos últimos 24 anos. Assim como o destaque que Odemira conseguiu nestes mandatos de ter sido sempre um município com contas certas e a honrar os seus compromissos.

“O mundo gira tão rápido e as coisas mudam tão rapidamente que não sou capaz de dizer que não voltarei a ter alguma função pública.”

Em 12 anos enfrentou duas crises, como já referiu. Nesta última, relacionada com a Covid-19, sente que o território de Odemira foi injustiçado em termos nacionais, com todo o mediatismo que teve pela negativa?

Estavam em causa situações de direitos humanos e de insalubridade habitacional, que é um problema que não é exclusivo de Odemira. Aliás, o problema nacional está identificado com uma escala cerca de 50 vezes superior àquilo que se falava [de Odemira] na altura e, portanto, percebe-se facilmente que até em grandes cidades como Lisboa ou Porto há imensos problemas desta natureza. Porém, em Odemira – e dadas as circunstâncias da pandemia, da proximidade ao verão e de se tentar evitar que essa propagação se fizesse ao sul – acabaram por montar aquilo a que muitos chamaram um “circo” e tudo isso provocou uma exposição muito mediática, especialmente face ao descontrole das entidades na fiscalização das suas competências. Sempre alertámos e sempre solicitámos reforço de meios e, nesse aspeto, fomos injustiçados.

Em outubro de 2022 cessou funções como autarca e regressou ao setor privado, onde trabalha atualmente. A política ativa é um “capítulo” encerrado na sua vida?

A política municipal é seguramente um capítulo encerrado! Sempre o disse desde o dia em que participei na última Assembleia Municipal e na última reunião do executivo da Câmara e sou pessoa que honra o que diz. Foi um percurso que me honra, que me fez crescer e que me mantém como um cidadão tranquilo pelo dever cumprido. Por isso, não estou disponível para qualquer outra participação [como eleito] municipal. Já fiz o que tinha a fazer e há outras cidadãos com essa competência e essa apetência.

E outros desafios políticos?

Não sei… O mundo gira tão rápido e as coisas mudam tão rapidamente que não sou capaz de dizer que não voltarei a ter alguma função pública. Mas, neste momento, estou empenhado nas minhas funções no setor privado, estou a aprender muito a e a fazer aquilo que é meu dever. Regressei a uma vida profissional para a qual me preparei universitariamente e tem sido um grande desafio e uma grande satisfação.

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