O Ministério da Agricultura acaba de lançar uma portaria para minimizar os fortes prejuízos que os produtores de porco alentejano, sobretudo no concelho de Ourique, estão a sentir devido à pandemia da Covid-19. Em causa está o facto de os produtores não estarem a conseguir escoar os seus animais da “montanheira” (engorda em montado) deste ano para Espanha, principal mercado do sector, o que causa avultados prejuízos e coloca em risco a sustentabilidade de muitas explorações pecuárias.
Nesse sentido, a medida excepcional de apoio publicada pelo ministério de Maria do Céu Antunes nesta quarta-feira, 18, no âmbito do Programa de Desenvolvimento Rural (PDR) 2020, prevê um pacote de 2,9 milhões de euros para a fileira do porco alentejano.
Em termos práticos, e segundo a portaria consultada pelo “CA”, cada produtor pode receber uma verba de 7.000 euros a fundo perdido para “fazer face ao impacto da crise provocada” pela Covid-19 e “responder aos problemas de liquidez e de fluxos de tesouraria que põem em risco a continuidade das actividades dos agricultores e das pequenas empresas” agrícolas.
“Se não tomássemos medidas urgentes de apoio, corríamos o sério risco de os criadores desistirem e não termos porco alentejano no futuro”, afiança o deputado socialista Pedro do Carmo.
“Dever cumprido”, exclama ao “CA” o deputado do PS eleito por Beja (e também presidente da Comissão Parlamentar de Agricultura e Mar), que nas últimas semanas desenvolveu várias diligências junto do Governo para garantir este apoio para os produtores de porco alentejano de Ourique (e não só).
Segundo adianta Pedro do Carmo, esta medida chega numa altura em que o sector enfrenta “um sério e grave problema” causado pelas dificuldades de escoamento dos animais para Espanha, sendo que corria mesmo o risco de “entrar em colapso”.
“Se não tomássemos medidas urgentes de apoio, corríamos o sério risco de os criadores desistirem e não termos porco alentejano no futuro”, afiança o deputado socialista.
Dependência do mercado espanhol “é brutal”
Em declarações ao “CA”, o presidente da PACOOP Cooperativa de Produtores de Porco Alentejano e Outras Espécies Pecuárias, criada em 2017 pela Associação de Criadores de Porco Alentejano (ACPA), com sede em Ourique, refere que sector tem o seu principal mercado “na indústria espanhola”, para onde vende “90%” da produção.
“A dependência do mercado espanhol é brutal”, observa Nuno Faustino, adiantando que em média são comercializados em vivo 6.000 porcos alentejanos de cerca de meia centena de criadores de Ourique para Espanha, num volume de negócios a rondar os 3,5 milhões de euros.
Estes números caíram drasticamente em 2020, uma vez que pandemia levou à quebra nas vendas de presunto e outros derivados do porco alentejano e, consequentemente, ao cancelamento de encomendas que muitas indústrias espanholas tinham, apesar dos contratos plurianuais em vigor. “A pandemia serve de argumento para deitar qualquer contrato abaixo”, lamenta Nuno Faustino.
Este apoio “vem dar um sinal de que o Estado está preocupado e quer que esta fileira continue”, sublinha Nuno Faustino, presidente da ACPA.
Tudo isto faz com que, de momento, exista um problema “com cerca de 40% dos porcos”, que ainda não foram vendidos para Espanha. “Conseguimos escoar 60% da produção, mas esses com problemas de pagamento”, com algumas indústrias espanholas a querer pagar “em dois anos” e com os preços a caírem “100 a 120 euros por animal”, revela o presidente da PACOOP.
Sem que o mercado nacional tenha capacidade para absorver esta produção, muitos produtores vêem-se sem alternativas no horizonte. “Não temos solução, temos que vender! Não podemos ficar com os animais e cada dia que passa custa cada vez mais dinheiro”, garante Nuno Faustino, acrescentando que esta “é uma situação que, no imediato, traz problemas de liquidez às explorações”.
Esta realidade faz o presidente da PACOOP temer que, hoje em dia, haja “muita gente hoje a equacionar se vai ou não continuar com o porco alentejano”.
Por isso mesmo, Nuno Faustino considera que o apoio agora previsto no âmbito da portaria “é essencial” para “minimizar o défice de liquidez” das explorações. “Mas é tão mais importante no sentido em que vem dar um sinal de que o Estado está preocupado e quer que esta fileira continue”, reforça.
Em paralelo, acrescenta este dirigente, a ACPA está a negociar com algumas instituições bancárias uma linha de crédito para os produtores, para lhes garantir a liquidez necessária.