Um projecto inovador na dispensa de medicamentos a doentes polimedicados valeu à Farmácia Alentejana, de Castro Verde, o Prémio João Cordeiro 2016. A distinção foi entregue no passado sábado, 15, em Lisboa, pela Associação Nacional de Farmácias (ANF), durante a II Gala Solidária “As Farmácias e a Inclusão Social”, que contou com a presença do ministro da Saúde, Adalberto Campos Fernandes, e de outros responsáveis pelo sector.
“Esta distinção é importante, na medida em que é reconhecido o nosso trabalho. E isto cria-nos um incentivo para continuarmos a dar o nosso melhor em prol da população”, afiança ao “CA” a directora-técnica da Farmácia Alentejana. “Isto também dá notoriedade a Castro Verde no país e mostra que também queremos inovar e melhorar na nossa área”, acrescenta Maria Celeste Caeiro.
O projecto da farmácia castrense premiado pela ANF foi o “Sistema Personalizado de Dispensa de Medicamentos”, cuja experiência-piloto arrancou há três meses, numa parceria com o lar de idosos da Graça de Padrões (Almodôvar) que envolve cerca de meia centena de utentes. O projecto conta com software próprio e permite, através da criação de blisters semanais, a distribuição da medicação aos idosos da instituição em embalagens descartáveis individuais e personalizadas.
“Este projecto surge da necessidade que sentimos de chegar à população mais carenciada, que tem dificuldade na administração da medicação”, revela Maria Celeste Caeiro, garantindo que o “público-alvo” da iniciativa são os doentes polimedicados institucionalizados ou em ambulatório.
“Projecto de aplicação nacional”
De acordo com a farmacêutica, a gestão da medicação nestes utentes é cada vez mais necessária, sobretudo após a entrada dos genéricos no mercado. As pessoas “chegam a ter três embalagens do mesmo produto e tomam das três, sem saberem que estão a tomar a mesma coisa. Há que corrigir estes erros”, advoga Maria Celeste Caeiro.
Mas com o SPDM esse risco desaparece e os doentes poderão fazer a sua medicação de forma correcta, permitindo que esta “seja efectiva”. “Porque o avanço nos resultados da sua terapêutica muitas das vezes não são positivos porque a pessoa não consegue fazer essa gestão”, observa a farmacêutica.
Além do mais, continua a directora-técnica da Farmácia Alentejana, a implementação do projecto permite igualmente uma maior percepção do efeito dos tratamentos, dado que todas as embalagens fornecidas aos utentes são posteriormente recolhidas. “Ficamos a saber se o utente tomou ou não a medicação toda. E podemos junto do utente perceber quais são as dificuldades na toma, se é esquecimento, se são vómitos… As razões podem ser as mais variadas e assim podemos ajudar o médico, ao fazer a prescrição, a ser mais assertivo”, garante.
Maria Celeste Caeiro reconhece que este é um “projecto de aplicação nacional” e que pode contribuir para diminuir os custos em saúde pública, esperando poder estabelecer em breve novas parcerias, seja com outras instituições sociais, seja com o próprio Centro de Saúde de Castro Verde. São os médicos “que poderão mostrar aos doentes qual é a vantagem de terem a medicação toda preparada para cumprirem. Porque muitas das vezes a medicação não resulta porque as pessoas não a conseguem cumprir”, conclui.
Cada utente paga 15 euros
A experiência-piloto do “Sistema Personalizado de Dispensa de Medicamentos” no lar de Graça dos Padrões tem decorrido de forma gratuita, mas a director-técnica da Farmácia Alentejana reconhece que o projecto tem alguns custos, sobretudo ao nível da mão-de-obra e das embalagens cartonadas que são utilizadas para acondicionar a medicação dispensada. Nesse sentido, Maria Celeste Caeiro revela que o projecto poderá vir a ter um custo de 15 euros/mês por pessoa, excluindo o valor dos medicamentos, quando entrar em funcionamento. “Isto tem os seus custos e um dos meus objectivos foi sensibilizar para a necessidade do SNS ter uma atenção para estas situações. O ministro [da Saúde] gostou do projecto e pareceu interessado”, afiança ao “CA”.