Dívidas de 300 mil euros foram o motivo invocado pelo triplo homicida de Beja para assassinar mulher, filha e neta, na noite de 7 para 8 de Fevereiro, cinco dias antes de os cadáveres terem sido encontrados.
Segundo o processo, que está no Ministério Público (MP) de Beja e ao qual a Agência Lusa teve acesso, o arguido, Francisco Esperança, de 59 anos, no primeiro interrogatório judicial, a 15 de Fevereiro, justificou o triplo homicídio com a situação económica que a família vivia.
De acordo com as declarações do arguido, que se suicidou dias depois na prisão, o casal e a filha tinham dívidas perante bancos, fornecedores e outros, "na ordem dos 300 mil euros" e que "não conseguiriam saldar".
Por outro lado, referiu, a filha, de 29 anos, que já tinha tentado o suicídio, "devido a problemas pessoais", era "uma mentirosa compulsiva" e "nunca lhe deu qualquer tipo de alegria, sequer nos estudos".
O arguido indicou ainda que tinha matado a neta, de quatro anos, "porque não teria quem cuidasse dela e iria ter uma vida de sofrimento".
No interrogatório, o arguido disse que cometeu o triplo homicídio em casa, na noite de 7 para 8 de Fevereiro, enquanto as vítimas "dormiam", e esclareceu que utilizou uma catana para assassinar a mulher, de 58 anos, a filha e a neta "por ser um instrumento silencioso".
Francisco Esperança disse ainda que tinha intenção de por fim à própria vida depois dos crimes, o que não conseguiu fazer por "pura cobardia".
O arguido confirmou que no dia 8 de Fevereiro, após ter cometido os crimes, foi ao infantário, que a neta frequentava, e à loja, que tinha com a mulher, informar que a família estaria ausente por algum tempo, para "ter tempo de ganhar coragem para se suicidar".
Francisco Esperança disse também que no dia 8 de Fevereiro foi para Lisboa, onde pernoitou vários dias num hotel, porque não conseguiu ficar em casa, à qual regressou no dia 12 de Fevereiro, um dia antes de ter sido detido e os cadáveres das vítimas terem sido encontrados.
O arguido reconheceu que no dia 13 de Fevereiro, antes de ter sido detido, ensaiou várias tentativas de suicídio com arma de fogo, mas, mais uma vez, não foi capaz de se suicidar.
Segundo o MP, as três vítimas, "enquanto dormiam", foram "surpreendidas" pelo arguido, que lhes "desferiu inúmeros golpes com a catana" na zona do pescoço e da cabeça.
A mulher e a filha "terão tentado defender-se do ataque" do arguido, o que "é consentâneo com as lesões físicas de defesa" (golpes) que tinham nas mãos, refere o MP.
Após os crimes, o arguido ocultou os cadáveres das vítimas em casa "durante mais de quatro dias", período durante o qual se comportou "como se nada se tivesse passado".
No interrogatório, "o arguido não demonstrou qualquer expressão genuína de arrependimento" e os contornos dos crimes demonstram "um total e abominável desprezo pela vida humana", refere a magistrada do MP.
Segundo o juiz de instrução criminal, que participou no interrogatório, os contornos do crime "denotam claramente" que o arguido agiu "com frieza de ânimo" e "reflexão" e persistiu na intenção de matar "por motivo fútil".
Entretanto, a Direcção Geral dos Serviços Prisionais (DGSP) arquivou o inquérito aberto na sequência do suicídio de Francisco Esperança no Estabelecimento Prisional de Lisboa.
De acordo com uma fonte da DGSP, o inquérito foi arquivado por se ter concluído que "não houve acto imputável a qualquer funcionário que pudesse indiciar responsabilidade disciplinar ou outra".
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