Diretor-executivo da Olivum. “Tem sido muito descarado o roubo de azeitona”

Em entrevista ao “CA”, o diretor-executivo da Olivum – Associação de Olivicultores do Sul, Gonçalo Almeida Simões, elogia atuação “mais musculada” da GNR e afirma que roubo de azeitona é crime “com várias etapas”, que pode inclusive permitir a chegada de azeite ao mercado etiquetado de forma indevida.

A GNR apreendeu, no último mês, quase 12,5 toneladas de azeitona furtada nos olivais do distrito de Beja. Isto quer dizer que o volume de azeitona roubada na região é ainda maior?

Sim e, aliás, esta é uma situação que se tem repetido reiteradamente ano após ano, não é uma situação nova. A Olivum até chegou a reunir com o Ministério da Administração Interna e a pedir mais atuação da GNR, porque estes furtos têm-se registado no nosso território desde há vários anos a esta parte. E o que se vê agora é uma atuação mais musculada por parte da GNR, com brigadas no terreno – e muito bem! –, porque é disso mesmo que o setor preciso. Estas 12,3 toneladas que foram entretanto recuperadas no último mês revela bem que é um crime recorrente na região que tem de ser punido, porque senão dá a imagem de alguma coisa fácil que outras tentarão fazer.

Estes furtos são significativos, do ponto de vista económico, para os olivicultores?

Com certeza que sim! Isto representa um prejuízo económico grave para qualquer olivicultor. Tem sido muito descarado o roubo de azeitona, porque muitas vezes são indivíduos que entram pelo olival adentro e que roubam ou azeitona já colhida ou são eles próprios fazem a colheita, nomeadamente à varada às próprias árvores. E não só é o prejuízo económico da azeitona roubada, como muitas vezes são pessoas que não têm conhecimentos técnicos para fazer a colheita e que danificam a própria árvore.

Isto é um crime que tem vários agentes e, no fim da cadeia, pode inclusivamente permitir a circulação de azeite embalado com etiquetagem que não corresponde minimamente à realidade.

Disse que estes furtos têm-se registado no território desde há vários anos a esta parte. Mas sentem que estes crimes têm vindo a aumentar nos últimos anos?

Temos que ter em conta duas variáveis a ter em equação. Há a variável furto e nós não temos tido acesso às estatísticas ano após ano relativamente a estas apreensões. E há a variável da comunicação da parte da GNR. Ou seja, o público em geral está finalmente a aperceber-se da gravidade desta situação precisamente porque a GNR – e bem – tem sido mais ágil naquilo que é a sua política de comunicação e tem veiculado, apreensão após apreensão, o que tem conseguido em termos de resultados. Aliás, os comunicados de imprensa não só falam de azeitona furtada, como também de veículos apreendidos e de pessoas detidas, que são depois levadas ao tribunal para serem julgadas.

Entre estes detidos surgem também aqueles que são alegados recetadores da azeitona furtado. A prática da recetação ilegal de azeitona é outro problema que afeta o setor?

Exatamente! Até porque não há vantagem em cometer o crime de roubo de azeitona se não houver já algo acordado com um recetor, que pode ser um intermediário ou, no limite, um lagar. Isto é um crime que tem vários agentes e, no fim da cadeia, pode inclusivamente permitir a circulação de azeite embalado com etiquetagem que não corresponde minimamente à realidade.


Como assim?

Por exemplo, estar etiquetado como azeite virgem extra quando o que está lá dentro pode ser azeite de outra qualidade. Portanto, isto é um crime com várias etapa, que começa no roubo da azeitona, mas que depois passa pela recetação dessa própria azeitona e, no limite, pode passar também pelo embalamento fraudulento do próprio azeite. Isto é realmente mau para o setor, pois temos o processo muito parametrizado e tudo o que seja ir contra este processo é realmente muito mau. É bom que as autoridades estejam a agir, sobretudo este ano, em que haverá ainda mais apetite para o roubo de azeitona, porque é um ano em que há pouco azeite no mercado porque foi pouca a azeitona colhida. Os olivais tradicionais tiveram uma quebra de cerca de 60%, o olival moderno teve uma quebra de 30%, portanto é um facto conhecido há menos azeitona no mercado.

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Correio Alentejo

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