“D. José do Patrocínio Dias deixou o perfume de uma vida muito idêntica à de Cristo”

Padre Luís Miguel Fernandes _ CV (2025)

A audácia generosa de um pastor: D. José do Patrocínio Dias – Bispo restaurador da Diocese de Beja (1884-1965) é o título do livro da autoria do padre Luís Miguel Fernandes, pároco em Castro Verde, sobre o bispo que liderou a Diocese de Beja entre 1920 e 1965. Em entrevista ao “CA”, o autor assume que D. José do Patrocínio Dias foi “uma figura ímpar que deve ficar imortalizada para não esquecermos a nossa identidade, a nossa fé e a nossa história”.

Por que razão decidiu escrever um livro sobre D. José do Patrocínio Dias?

Na verdade esta é a segunda edição do meu primeiro livro, resultado na minha dissertação de Mestrado integrado em Teologia, na Universidade Católica, defendida em maio de 2014, portanto há 11 anos atrás, e que se intitulou “D. José do Patrocínio Dias, o homem, o militar e o bispo restaurador da diocese de Beja (1884-1965)”. Em março de 2016 foi publicada pelas Edições Tenacitas e, tendo já esgotado todos os exemplares, em virtude de ser bastante procurada por investigadores e historiadores, conheceu agora, pela Editora Lucerna, esta segunda edição revista, atualizada e aumentada. Portanto, no mesmo sentido, permanecem nesta segunda edição os mesmos motivos que me levaram outrora a realizar este trabalho: a grande admiração que tenho por este bispo, cujos ensinamentos ajudam ainda hoje o meu ministério sacerdotal, já que muita da sua pastoral é útil e adequada às necessidades atuais da Igreja e da Diocese de Beja, assim como os trabalhos de organização e tratamento de documentos do Arquivo Histórico da Diocese de Beja, no decorrer do tempo de formação, que serviram para colocar “à luz do dia” muitas informações inacessíveis e inéditas; e o incentivo e a vontade de muitos em conhecerem a vida, espiritualidade e obra de José do Patrocínio Dias que, longe de cair no esquecimento, continua a atrair tantos estudiosos e curiosos nas suas pesquisas e procuras.

Em que fontes se baseou para esta obra?

A grande preocupação foi realizar todo um labor cientifico-histórico daquilo que já se conhecia, mormente pela obra de J. Gonçalves Serpa, O Bispo-Soldado, de 1957, apurando os factos e colocando-os em maior relação com os diversos contextos. Foram cerca de três anos de estudo, que continuam ainda hoje no sentido de procurar conhecer mais e atualizar a bibliografia, de modo a que esta obra não seja apenas uma biografia crítica e rigorosa da vida e legado do “Bispo Soldado”, mas abra outras portas aos investigadores e historiadores para contextos, factos e figuras da história da Igreja, de Portugal e do Mundo (nomeadamente com a participação portuguesa na I Grande Guerra). Esta obra foi feita com a pesquisa nos seguintes centros inéditos de saber: Arquivo Histórico da Diocese de Beja, Arquivo da Província Portuguesa da Companhia de Jesus-Lisboa, no Arquivo da Província Portuguesa das Irmãs de Santa Doroteia, Arquivo da Universidade de Coimbra, Arquivo Contemporâneo do Ministério das Finanças, Arquivo Histórico-militar, Arquivo do Seminário de Beja e no Arquivo da Congregação Oblatas do Divino Coração-Beja. Para além de contar com cerca de 30 fontes impressas inéditas, com a revisitação a mais de 40 periódicos (jornais, revistas) e também cerca de 130 livros, consultados e referidos em bibliografia – uma pequena biblioteca!

“D. José do Patrocínio Dias não se serviu desta Diocese como trampolim para coisa alguma, mas aceitando o que lhe fora dado como missão, por ela se consumiu inteiramente.”

A pesquisa feita permitiu-lhe chegar a que conclusões sobre a figura de D. José do Patrocínio Dias?

Ao propor-me estudar a figura de D. José do Patrocínio Dias a minha intenção foi demonstrar e dar a conhecer esta personalidade e o seu exemplo, que nesta segunda edição assume como título: “A Audácia generosa de um Pastor”. Na verdade, atendendo aos mais diversos contextos em que se desenrolou a sua vida – todos eles sem dúvida fascinantes e diria até de autêntica aventura – este homem de Deus soube marcar a diferença pela sua generosidade com que, corajosamente, se dispôs a aceitar, contornar e a viver tudo isso à luz do Evangelho. E por isso, por onde passou, deixou o perfume de uma vida muito idêntica à de Cristo, quer nos campos da Flandres, quer nos campos do nosso Alentejo.

Qual o maior contributo deste bispo para a Diocese de Beja?

Porque amava a Cristo e por Ele vivia, amou-nos a nós alentejanos e fez-se – sem dúvida – um de nós. Não se serviu desta Diocese como trampolim para coisa alguma, mas aceitando o que lhe fora dado como missão, por ela se consumiu inteiramente. Beja estava espiritualmente de rastos, inclusivamente até se pensou na sua extinção como Diocese. Não tinha meios, não tinha clero, a luz da fé parecia estar a extinguir-se. E ele aceitou esta frágil herança… Falsa é a premissa de que, onde não há nada, é mais fácil construir. Sabemos bem que um campo que não é lavrado, jamais produzirá qualquer coisa… Precisa primeiro de ser rasgado, lavrado, para depois se semear com proveito e obter o dobro daquilo que foi plantado. O legado do “Bispo Soldado” continua nas suas obras exteriores e estruturais para uma Diocese – que não havia até então – desde a catedral, os seminários, as fundações de apoio aos pobres e de caridade, bairros sociais, creches, jardins de infância, colégios, uma congregação religiosa feminina, a Congregação das Oblatas do Divino Coração, mas, acima de tudo, o seu legado mais profundo e concreto é ter deixado a marca de que amou o nosso Alentejo, contribuindo não só para o seu ressurgimento material, mas também espiritual, despertando todos para a luz da fé e de que a fé é motor de mudança e evolução das sociedades, pois com e em Deus, o Homem dá-se conta da sua própria dignidade. Portanto, este Bispo e “Bispo-Soldado”, fazendo autênticos empreendimentos de eternidade entre nós, é uma figura ímpar que deve ficar imortalizada para não esquecermos a nossa identidade, a nossa fé e a nossa história. E, graças a Deus, há quem esteja ainda atendo e seja sensível a tudo isso! No dia da apresentação da obra, no passado dia 23 de março, mais de uma centena de pessoas se reuniu no Seminário de Beja para recordarem a figura deste bispo e terem nas suas mãos e nos seus lares os contornos da sua vida, a “audácia generosa de um Pastor”.

Onde será possível encontrar este livro à venda?

Em Castro Verde o livro está disponível na Basílica Real e em todas as livrarias físicas e informáticas do país, também na sua versão digital, como a Lucerna, Wook, Bertrand, Fnac, Worten e Almedina.

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