Poucas vezes nos apercebemos do enorme contributo para a qualidade de vida que constitui o facto de vivermos numa cidade de pequena/média dimensão. O simples facto de, em qualquer ponto da cidade, estarmos a cinco minutos de qualquer outro destino é algo de cuja importância só nos apercebemos quando temos que atravessar uma cidade como Lisboa. A qualidade de vida em cidades da dimensão de Beja pode ser, assim se saiba fomentá-lo, um “must” no aumento da capacidade de atracção de população nova, acima de tudo de população qualificada. Mas há um componente dessa qualidade de vida que é cada vez mais importante e que faz cada vez mais a diferença, até porque ultrapassa em muito a visão meramente instrumental que prevalece, ainda, em muita gente com responsabilidades autárquicas – falo, claro da actividade cultural, da capacidade de se tornarem interessantes e estimulantes dias e noites da vida em comunidade.
A questão ultrapassa, em muito, dimensões urbanas e espectros político-partidários. Tem muito mais a ver com capacidades e quereres, visões e saberes. Tem a ver com ideias claras, com capacidade de planear a prazo, com visão de investimento no futuro. Beja é, infelizmente, um exemplo acabado do que escrevo, pela negativa. É uma cidade ensimesmada, triste, virada para dentro numa zona do país onde é natural que se viva da casa para fora. Beja, à noite ou ao fim-de-semana, parece o deserto. Não tem esplanadas, perdeu-se o hábito, que existiu, do encontro para o café depois do jantar ou para o copo mais tardio, desapareceram os lugares para a conversa saborosa, às horas em que ela é possível na vida de quem trabalha. As esplanadas podem e devem ser ponto de aglutinação e de partida para a vivência e fruição colectiva do espaço urbano. Um exemplo mais: nessa intervenção urbana, incompreensível em algumas das suas finalidades e de tristes resultados (considero que com uma única excepção), chamada Polis, foi gasto dinheiro na recuperação de um espaço entre a rua do Sembrano e a rua Capitão João Francisco de Sousa, algures pelas bandas onde existiu a esplanada do cine-teatro Vista Alegre. O espaço lá está, com uma entrada em túnel a partir da rua do Sembrano e acesso fechado desde a outra rua. Abandonado, em degradação acelerada. No entanto, se para tal houvesse engenho e arte, poderia ser um ponto de encontro da cidade, um espaço de fruição, local de espectáculos. A cidade agradeceria e o centro histórico ainda mais.
É que só o Pax Julia não chega. Com uma programação com altos e baixos inevitáveis, já proporcionou excelentes espectáculos (recordo, em especial, um memorável concerto de Rodrigo Leão e um grupo argentino de tango com uma excelente cantora). Mas a peregrina ideia de fechar o cine-teatro para férias, com todo o direito que os seus funcionários têm às mesmas, não cabe na maioria das cabeças: é exactamente na altura de festivais, de iniciativas que atraem turistas, que se fecha a principal sala de espectáculos da cidade? Não se percebe a necessidade de criar iniciativas culturais que projectem o nome da cidade e da região? Não se percebe que, com as perspectivas de possibilidade de crescimento que se avizinham, a área cultural é de importância fundamental?
Se nos metermos no carro e percorrermos cerca de 20 quilómetros temos o exemplo acabado do contrário. Uma política cultural inteligente, aberta, capaz de perceber que o essencial é muito mais importante que o acessório. Iniciativas múltiplas, festivais, encontros de culturas. E o que vem atrás: bons restaurantes, gente nas ruas, ambiente de festa. Espaços bem recuperados e activos, numa pequena cidade que, dentro de dois ou três séculos, saberá gabar as opções urbanísticas actuais, de modo idêntico ao que hoje gabamos a beleza da parte velha da cidade. Não admira que comece a haver famílias que decidem mudar-se de armas e bagagens para Serpa e não me surpreenderá se a área urbana da cidade apresentar um crescimento populacional significativo nos próximos anos.
Questionar este estado de coisas não é querer ser incómodo. É gostar da terra onde se vive e ter pena de a ver assim. É ter vontade de contribuir para a inevitável mudança. É, também, lamentar falta de inteligência, de visão e alguma soberba. Pouquinha, que os tempos estão de crise.
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