Nestes largos dias em que o Japão tem sido a nossa casa, utilizamos amiudadamente os transportes públicos, nomeadamente comboio e metropolitano. Ainda não tivemos um destes transportes que não chegasse ou partisse na hora aprazada. Depois, mesmo os menos modernos são de um esmero ao nível de equipamentos e da própria manutenção que me tem deixado algo atónito.
Dois pequenos exemplos: as casas de banho destes transportes estão invariavelmente imaculadas e mesmo neste material circulante as tampas das sanitas são das tais cheias de tecnologia e de marcas mundialmente conhecidas, como Toshiba ou Panasonic.
O segundo exemplo que me ocorre é que não existe uma única carruagem grafitada. O que me faz pensar que, em terra de artistas plásticos como é o Japão, estes preferem outras plataformas para fazer representar a sua arte, preservando deste modo um património que afinal é de todos.
Também não existem revisores que venham dentro das carruagens controlar os passageiros, sendo este controlo efectuado única e exclusivamente nas estações e, mesmo assim, de uma forma pouco exigente.
O “comboio-bala” (onde me encontro a escrever) é na verdade um avião sobre carris, tal a velocidade atingida.
Para além da alta velocidade a que se desloca, esta serpente mecânica é de uma comodidade quase ao nível do luxo asiático para meios de transporte. Casas de banho ultra-modernas, com mictórios à parte, sala para fumadores com excelente extração, amplos assentos rebatíveis, espaço entre bancos que nos permite esticar as pernas, wifi, comidas e bebidas em bar ambulante, insonorização do ambiente, ar condicionado e, tudo isto, com uma higiene de quase se poder lamber o que se toca.
Presumo que, com um sistema terrestre de transportes desta rapidez e eficiência, o avião para deslocações internas não seja opção a ponderar.
Os nipónicos são os campeões da cordialidade. Na verdade não estava à espera de tanta surpresa a este nível. São muitos os episódios que me apetece relatar e que me deixaram sem palavras. Enquanto escrevo recordo o episódio do guarda que oferecia origamis no final da informação ou do senhor que nos viu em dúvida sobre que direção tomar e logo se ofereceu para nos guiar o caminho. Só que aí chegados – e falamos de uns bons 10 minutos a andar – reparámos que o senhor voltou para trás. Tinha ido connosco de propósito.
Não existe senhora da limpeza, guarda de estação, informador ou mesmo transeunte ocasional que não tenha o seu mapazinho para oferecer. Hoje, 2 de dezembro, um dos muitos controladores de entradas no metro, ao ser questionado sobre determinada direção, logo nos ofereceu informação escrita por si à mão com um mapa rudimentar, mas que este havia fotocopiado para oferecer a quem deles necessitasse. Ajudar o próximo parece estar inscrito no ADN desta gente.
Se atendermos que este é um país com 126.000.000 de habitantes e com um sistema de transportes assente na linha férrea, não é de estranhar que se torne complicado para o visitante ocasional até porque o japonês (mesmo traduzido!) é muito difícil de memorizar. No entanto, em cada estação ou em cada centro informativo existe sempre alguém que fala um inglês muito aceitável, que nos fornece indicações precisas sem deixar margem para dúvidas, mesmo quando estas ressurgem mais à frente, damos conta de que no fim da linha a informação inicial era a correcta.
(continua…)