O que seria de Castro Verde sem a mina de Neves-Corvo?
Esta é a pergunta que nos assalta. E como explicamos hoje, nesta edição, há realmente um tempo antes da Somincor e um tempo depois da Somincor.
Castro Verde era um concelho como tantos outros no Alentejo. Agricultura pobre, desertificação humana, falta de recursos públicos, escassez de trabalho. Um quadro doloroso de estagnação e falta de dinâmica. A isto respondia a Câmara Municipal, à sua medida. Sem grandes meios e com limitações. Ainda assim, com capacidade para dar respostas às necessidades básicas.
Se a investigação persistente de geólogos e outros especialistas não tivesse detectado o filão, Castro Verde seria pouco mais do que uma terra depressiva. Às voltas com a monocultura dos cereais. Procurando em desespero respostas para mitigar a fuga dos mais jovens. Tentando inventar alguma coisa capaz de contrariar o seu destino.
Tocado por Midas, o concelho fintou a fatalidade que se adivinhava. Com o início da extracção dos ricos filões de Neves-Corvo, aquela terra nunca mais foi a mesma. O tempo depois da Somincor é, verdadeiramente, um tempo mais próspero e de muitas oportunidades.
Castro Verde ganhou muito com a descoberta da mina. Com a chegada de muitas pessoas. Com o enriquecimento e diversidade do meio social. Com as novas oportunidades de negócio. Com o dinheiro de bons ordenados.
Mas haverá apenas vantagens neste quadro de transformação?
É difícil eleger fragilidades. Muito difícil. Contudo, neste momento de análise a 20 anos de uma mudança “preciosa”, não devemos ignorar os pontos fracos do percurso.
O primeiro está associado à isenção, ofertada por Cavaco Silva, que permitiu à Somincor não pagar impostos nos primeiros cinco anos de actividade. A memória é curta, mas essa isenção, inexplicável e deslocada, impediu o concelho de receber muitos milhões de euros de impostos, através da Derrama lançada anualmente pela autarquia local. Esta será, talvez, a mais incómoda pedra no sapato. E dirão alguns: “Nos anos seguintes têm recebido muito dinheiro”. É verdade. Mas sejamos justos. Castro Verde deveria também ter beneficiado daquilo a que tinha direito. Aquele perdão sem sentido continua a ser uma espinha na garganta de todos.
Noutro enquadramento, devemos salientar a incapacidade reinante para criar alternativas à mina. Neves-Corvo vai esgotar-se e as sequelas vão surgir. Como em São Domingos ou no Lousal. Nestes 20 anos de Somincor, temo-nos cansado de escutar promessas de empenho para encontrar uma dinâmica paralela, que contrarie a monocultura mineira. Há resultados? Não há. O que há são temores incontidos e um desejo profundo para que as prospecções confirmem mais e melhores filões. Para que a mina não morra um dia.
Hoje, orientada pela lógica privada, Neves-Corvo corre dois riscos. Pode ver antecipada a sua vida útil mas, em contrabalanço, também pode ver largamente prolongada a sua duração. Nesta equação de difícil equilíbrio, parece-nos inadiável que haja outra dedicação à causa das alternativas.
Julgamos pouco acertado que seja a própria Somincor a mais empenhada nessa tarefa. O seu contributo é fulcral, mas o motor desse trabalho tem de ser o Estado – através das autarquias e da administração central.
A lógica empresarial privada tem um perfil muito diferente da lógica pública. Para o bem e para o mal. Assim, depois de década e meia a marcar passo, convém que as autoridades reflictam com objectividade e pragmatismo sobre esta questão. Uma coisa muito séria, como se viu um dia lá para os lados de São Domingos.
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