No passado domingo o comboio Intercidades retomou as viagens para Lisboa, mas só a partir de Évora, porque de Beja, quem quis viajar teve de o fazer numa composição dos anos 40 do século passado, embora a CP argumente que foi modernizada e que até possibilita que se possa ligar o computador. Ou seja, apresentam um nível de conforto equivalente aos comboios Intercidades.
Considero inadmissível que a CP esgrima argumentos deste teor, tentando convencer os que foram espoliados de um bem legítimo que é determinante para a qualidade de vida dos cidadãos baixo-alentejanos, que ficam a ganhar com a perda.
Infelizmente, este é o resultado de anos de omissão por parte de quem tinha obrigação de intervir a tempo e horas para que não se caísse no facto consumado. Mas, mais uma vez, o povo voltou à rua para fazer aquilo que competia, em primeiro lugar, aos seus representantes.
Quando abrimos os olhos, a decisão já estava tomada. Beja deixara de ter importância política e económica para justificar do mesmo que Évora passou a beneficiar, legitimamente e de pleno direito, sem qualquer ponta de hipocrisia ou de bairrismo serôdio.
Agora corremos todos atrás do prejuízo e eu de um pensamento de Camões: aquilo que aconteceu no domingo, o de podermos chegar a Lisboa por via férrea, é, na realidade, um contentamento descontente. Descontente por sabermos que se confirmava a subalternização de Beja. Um contentamento porque, apesar de tudo, ficámos com uma espécie de prémio de consolação. Alguns dos que me estão a ler sabem, certamente, que desempenho funções de deputado do PSD pelo círculo de Beja. Logo, a obrigação é mais que evidente. Ou faço a diferença ou sou igual aos outros que antes de mim desempenharam iguais funções.
Não me assusta a comparação. Não receio as expectativas que possam estar criadas por uma razão simples, que fica escrita preto no branco. Fui eleito deputado numa região que foi sangrada até ao tutano durante décadas de maioria PS e PCP, o primeiro mantendo responsabilidades de governação durante cerca de metade do nosso tempo democrático e o segundo porque manteve durante quase duas décadas uma forte hegemonia na região, a nível do Poder Local.
Pois bem, foi durante a gestão socialista a nível central e a gestão comunista e socialista a nível regional que o comboio Intercidades daqui se foi.
Durante anos assistiu-se à electrificação do ramal que liga a Évora e de Beja nem um piu se ouviu sobre a eventualidade de também a via férrea que nos serve poder vir a ser contemplada.
Como atrás disse, vamos ter de correr atrás do prejuízo, fazendo uma paragem na aplicação do paradigma socialista de substituir a via férrea pela construção desenfreada, diria esquizofrénica, de auto-estradas.
Não é apenas política a função de trazer de novo o Intercidades até Beja. Somos nós, enquanto cidadãos de pleno direito, que até elegemos o poder instituído, lembram-se?, que temos de exigir a prestação de contas que nos é devida.
Acabou o tempo de pensar que eles (os políticos) é que sabem. É a perversão do poder em democracia e o resultado está à vista. Fomos sempre prejudicados.
Nem vale a pena dizer que (os políticos) são todos iguais. Eles são o que deixarem que eles sejam.
Sei com o que me comprometi durante a última campanha eleitoral. Tudo fazer para que seja elaborado um projecto de electrificação da via férrea entre Casa Branca e Beja. É por aqui que passa a satisfação da vontade dos baixo-alentejanos e a compensação do esforço de todos aqueles que no movimento “Beja Merece” continuam a fazer o papel da água mole em pedra dura. Tanto dá até que… vai resultar.
Quem não aparece esquece. Por isso é bom lembrar que a luta não terminou. Quero acreditar que o esforço e a abnegação de Florival Baiôa e do Jorge Serafim têm de ter continuidade. A luta não é apenas deles. É de todos nós. É uma das minhas lutas em São Bento. Está aqui dito e escrito, preto no branco.
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