Um ano cheio de nada!

João Espinho

Há um ano, em 25 de Outubro, tomava posse um novo executivo camarário que prometeu em campanha e em letras garrafais “<i>uma nova equipa, uma nova dinâmica</i>” para uma cidade “<i>com futuro</i>”, assente na “<i>tradição, mudança e modernidade</i>”. Beja terá acreditado nestas promessas ou, se as achou demasiadamente ambiciosas, confiou, pelo menos, nos novos rostos que iriam substituir as esgotadas e decrépitas políticas lideradas pelo anterior executivo.
O debate sobre a cidade, que esteve na génese do programa eleitoral da CDU, terá iludido muitos, principalmente aqueles que nunca haviam tido a oportunidade de se manifestar em sessões públicas sobre o que achavam ser o melhor para a sua terra, sobre aquilo que gostariam de ter no seu bairro ou freguesia. Há um ano, esta estratégia deu os resultados que se conhecem mas cujo impacto futuro, sendo imprevisível, se percebe que nada de novo trará para as gentes da cidade e da região.
O diagnóstico dos males da região está feito e interessava saber como é que a equipa liderada por Francisco Santos iria contornar as dificuldades e pôr em execução um programa estratégico de desenvolvimento, captando investimentos, empresários e travando a desertificação de uma cidade capital de distrito e anunciada como <i>poli-nucleada, dinâmica e cientificamente evoluída</i>.
Como nesta coisa da política os sinais emitidos pelos líderes dão a entender as suas intenções, foi com grande estranheza que se ouviu o anúncio – amplificado por notas de imprensa e repetidas declarações radiofónicas – daquela que seria a primeira obra desta renovada equipa: a reabilitação do parque de estacionamento do Largo dos Duques de Beja. Para quem tanto prometeu, o primeiro sinal pressagiou o que viria a seguir. Basta olhar para a primeira obra anunciada e depressa se verifica que está tudo na mesma, não tendo sido removida uma única pedra da calçada. O mote estava dado: anunciar, prometer, projectar, para depois tudo ficar na mesma.
Poderão os leitores acusar-me de ser injusto nesta avaliação. Aceito. Mas vejamos, então, o que prometeu a CDU para a cidade e a realidade com que nos deparamos.
Naquilo que poderiam ser aspectos basilares para o desenvolvimento da região, desconhece-se a actividade ou mesmo a constituição do propagandeado <b>Conselho Económico e Social</b>. Em sua substituição, o Presidente da Câmara empenhou-se num fortemente partidarizado Movimento BAAL21, que tem concertado ideias, estratégias e reivindicações, não para atrair investimentos, mas sim para…. criticar políticas governamentais. Na área do Turismo – uma das hipóteses em que se pode apostar para desenvolver a região – não se viram nem se ouviram sinais do “<i>eixo de ligação de Beja ao Rio Guadiana</i>” que, na estratégia eleitoral comunista, iria, entre outras ilusões, acasalar a cidade com o mundo rural, criar percursos ecológicos com um complexo turístico de apoio e uma praia fluvial, para além da já velha, de décadas, intenção de recuperar os fortins existentes ao longo do Guadiana. O leitor já ouviu, leu ou sabe de alguma coisa sobre este tema? Eu também não.
Continuemos a olhar para o que nos tem oferecido este ambicioso – em programa eleitoral – executivo bejense.
Tendo declarado a Educação como a maior das prioridades – declaração proficuamente recheada de verbos inconsequentes em comunicados e notas de imprensa – o executivo atrapalhou o início do ano lectivo com o adiamento das obras (a culpa é nossa, que acreditámos que elas iriam estar concluídas já em Setembro) e fez sair da cartola a solução RI3, como se esta não tivesse sido já alvitrada, quando em 2004 se começou a falar nas obras de beneficiação das escolas do ensino básico da cidade. Mas se estes pólos de excelência podem, para já, ficar comprometidos, onde estarão os projectos para a criação de um Monte Pedagógico – mais umas gramas de ruralidade, em que ponto se situam o “Laboratório de Ciência – Viva” e o “Observatório Astronómico”? Não há sinais de vida….
Na cultura – essa menina dos olhos doirados das gestões CDU – tem-se assistido a uma ruptura, calculo que involuntária, com o paradigma de Beja ser “<i>considerada uma das cidades do nosso país onde as dinâmicas culturais mais contribuíram para projectar uma imagem positiva, moderna e de qualidade</i>”. Beja encerra culturalmente durante os meses de Verão, o Pax Júlia vagueia sem se saber que modelo irá adoptar, o Espaço Museológico da Rua do Sembrano é um local de encontros e desencontros da madrugada urbana, a Galeria dos Escudeiros não tem visitas – não tem uma programação sustentada, a Carta Cultural do Concelho vai dar, parece, os seus primeiros passos, perfilhando o protótipo das sessões de esclarecimento da campanha eleitoral, e a Biblioteca de Beja sobrevive de Palavras Andarilhas e de fama acumulada, abandonando o projecto “Rodapé”, única publicação periódica de interesse editada pela autarquia e considerada de excelente qualidade.
Poderia aqui desenrolar mais alguns anúncios – a recuperação do centro histórico, a revitalização do castelo de Beja, a requalificação do Mercado Municipal, os projectos de reabilitação e reordenamento urbano, por exemplo. Mas deixo ficar para as comemorações do segundo aniversário deste executivo camarário.
Até lá, continuaremos com as imagens que nos oferece o Boletim Informativo do Município de Beja: arranjos, pinturas, reforços, demolições, manutenções.
Será mais um ano cheio de … nada!

<p align=’right’><b><i>(crónica igualmente publicada em
<a href=´http://www.pracadarepublicaembeja.net´ target=´_blank´ class=´texto´>http://www.pracadarepublicaembeja.net</a> )</i></b></p>

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