Quando cheguei ao Hospital de Beja em 1970, tu eras o director do Serviço de Urgência. Todos lembramos as tuas escalas de banco, com uns círculos achinesados, onde colocavas os médicos de serviço com aquele teu jeito oriental, de sorriso permanente e alargado, e olhos semi-fechados. Eras também com a Maria José, tua mulher, os Internistas de referência da Medicina do dr. Brito Lança. Todo o Hospital ainda hoje recorda com carinho o dia em que o “mestre” aguardava por ti para mais uma visita aos doentes, e o dr. Belarmino te foi descobrir numa enfermaria junto dos doentes, que era onde tu estavas sempre, anunciando alto e bom som que tinha encontrado o dr. Mao Tsé Tung. Tu eras o “chinês” dos diabetes, especialidade médica que desenvolveste no nosso hospital e estendeste aos centros de saúde. Obra que o distrito de Beja e milhares de doentes te ficam a dever. E que o dr. Loff Barreto, outro dos teus grandes amigos, tão bem soube e quis continuar até hoje.
De facto, todos gostavam de ti. Doentes, médicos e enfermeiros. Foi com naturalidade que nos tornámos colegas leais, amigos e cúmplices para tantas coisas. Onde estás, certamente que te lembras das nossas idas anuais a Espanha, onde acompanhávamos o dr. Brito Lança, com as nossas mulheres, a congressos médicos. Os piqueniques que fazíamos pelo caminho. As horas de brincadeira a bordo da tua Toyota, onde cabíamos todos. A construção de uma amizade que perdurou.
Depois foste até Macau com a Maria José, onde ficaste alguns anos e foste nomeado director geral de Saúde. Fui-te lá visitar com o Manuel Matias e recebeste-nos com a amizade e simplicidade de sempre. Ali percebemos que apesar do amor que tinhas à tua terra, vocês iam voltar para Beja, como realmente aconteceu.
Regressaste para a nossa Medicina, dirigida pelo dr. Loff. Com o mesmo entusiasmo de sempre, o mesmo carinho pelos doentes, e um capital de saber acumulado, tão útil na formação dos médicos mais novos. Até que vocês decidiram reformar-se, rumando até à agricultura, e deixando um vazio difícil de preencher no hospital.
Decidi, por isso, com o apoio da actual administração do hospital, convidar-vos para regressar ao trabalho que vocês sempre mais gostaram de fazer. Ajudar e tratar doentes. Falámos sobre isso há poucas semanas, num jantar em minha casa, naqueles encontros de amizade que sempre mantivemos. Como estavas bem disposto e radiante por voltar aos teus doentes diabéticos! Tu que ouvias mais do que falavas, e que ajudaste tantos doentes a vencer as suas doenças, não merecias que a notícia que nos trouxeram poucos dias depois fosse verdadeira. Já nos tinhas deixado por duas vezes e assim não vale. Nem tu sabes que dias antes tinha encontrado a Maria José e a D. Anita Brito Lança, e tínhamos combinado um jantar para recordar os tempos de Espanha. Foi tudo rápido demais até receber da Maria José a notícia de que “o nosso querido amigo, amor e companheiro da minha vida”, tinha partido.
Estejas onde estiveres, não te vamos esquecer e vamos com certeza juntar-nos todos outra vez. Porque como escreveu o dr. Covas Lima, eras um homem bom e dedicado aos doentes. Que o nosso hospital vai certamente recordar, e na altura própria fazer-te justiça. Como também não te esqueceram os médicos mais velhos que fizeram o Hospital de Beja e mais uma vez estiveram presentes, numa solidariedade que só eles sabem, desde o dr. Escoval ao dr. Lebre, dr.Rabaça, dr.Covas Lima, dr.Lemos. Também todos aqueles que fazem o hospital actual não quiseram deixar de estar presentes.
Como sabes, a morte tem sempre o lado triste da perda física daqueles de quem gostámos. Mas também tem o mérito e orgulho daqueles que deixaram o seu exemplo e a sua obra numa vida dedicada à comunidade e à família. É isso que vamos recordar em ti, mantendo a amizade com um bem precioso que deixaste connosco. A tua Maria José.
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