Tili Tonse

Sandra Serra

Apanhou-me a mensagem SMS que todos os meses me recorda a data limite de entrega desta crónica, na Finlândia. É a segunda vez que tal facto acontece, o que me levou a pensar que talvez não fosse uma mera coincidência, mas a providência a pedir-me que contasse o que fazia na Ostrobotnia entre saunas a 105 graus seguidas de braçadas em lagos “leite de pássaro” e noite que nunca mais acaba. Talvez não, talvez fosse mesmo só uma coincidência, mas o certo é que percorrendo a Europa entre aeroportos de voos <i>low cost</i>, o meu caderninho de apontamentos, só conseguia ganhar vida com considerações sobre Tili Tonse, palavra em Nyanja, dialecto da Zâmbia, que significa traduzido à letra “estamos todos juntos” e que, e embora pareça agora demasiado confuso, foi a razão da minha visita aos país dos grandes lagos.
Tili Tonse é um projecto-piloto de cooperação Norte-Sul entre a Finlândia e a Zâmbia, financiado pela CIMO – Centro para a Mobilidade Internacional, e que explora métodos e práticas culturais com vista a um desenvolvimento sustentável. Em Seinäjoki, ou mais propriamente na Universidade de Ciências Aplicadas de Seinäjoki (que na verdade é um politécnico, mas que a Finlândia optou por denominar desta forma. É a tal valorização do ensino politécnico que, em Portugal, tentamos insistentemente e não conseguimos e a qual na Finlândia nem sequer é questionável), reuniram–se alunos e professores do Ensino Superior da Zâmbia e da Finlândia, aos quais se juntaram alunos da Lituânia e um professor português (Marco Ferreira, da Baal 17). “Todos juntos”, alunos e professores de cursos tais como Artes Performativas, <i>Cultural Managment </i>ou Serviço Social, estudaram, exploraram, descobriram e aplicaram técnicas de Drama Participativo, com vista, em última instância, à construção de um mundo melhor. Coisas modernas, dir-me-ão. Não, infelizmente são coisas antigas como a intolerância, a falta de confiança ou o desconhecimento do outro, que encaminham o mundo para a falta de diálogo e cooperação.
Num dos últimos dias do projecto Tili Tonse decorreu uma sessão do que se chama <i>Future Workshop</i> (<i>Workshop </i>do Futuro). Todos juntos, alunos de diferentes países, credos, tradições e culturas, procuraram os constrangimentos e as possíveis soluções para a realização dos seus objectivos. No fim, sentados numa roda, Insaka, dá a palavra a cada um nós. Insaka Walippo, todos ouvem em silêncio e em tolerância o que cada pessoa tem a dizer, enquanto simbolicamente passa uma vela, a chama brilhante do futuro. E ali, naquela sala de aula do moderníssimo edifício de FRAMI (FRAMI e o sistema de educação finlandês daria tema para outra crónica. Deixo só a curiosidade de que neste local, FRAMI, incubadora do Politécnico e de empresas e pertença do Estado e da autarquia local, os alunos trabalham em conjunto com as empresas, sendo que algumas delas patrocinam os próprios cursos. Isto sim são modernices), 20 pessoas totalmente diferentes construíram um mundo melhor. E cada uma delas, de volta ao seu país, à sua localidade, ao seu canto no mundo, levou consigo essa chama. A de que é possível ajudarmos a nossa terra e o mundo, e que, nesse caminho, o papel da cultura, na sua definição mais lata que implica os valores, os costumes e as tradições, é decisivo é imperativo, assim como a certeza de que a utilização de métodos de Drama pode suportar o desenvolvimento e diálogo entre diferentes sectores e culturas.

<b>PS: </b>A Seinäjoki University of Applied Sciences tem parcerias estabelecidas com 120 instituições na Europa, incluindo Portugal, e mais de 20 noutros continentes. Que bela ideia para o futuro seria o estabelecimento de uma parceria com o Instituto Politécnico de Beja.

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