Os resultados das legislativas de 5 de Junho traduziram-se numa grande deslocação à direita e, como tal, por uma derrota da esquerda. E, à esquerda, a maior derrota eleitoral foi do Bloco, que viu reduzida a metade a votação e a representação parlamentar obtida em 2009.
Em nome da Coordenadora Distrital de Beja do BE, quero assumir esta derrota com clareza e com a autoridade de quem, nas sucessivas vitórias que vimos obtendo desde as legislativas de 1999, nunca se pôs em bicos de pés e sempre afirmou que a criação do Bloco era apenas o primeiro passo de um processo de recomposição da esquerda, também no Alentejo.
Esta derrota tem ainda maior significado porque o PSD conseguiu eleger, ao fim de muitos anos, um deputado por Beja; e o próprio CDS ultrapassou a votação do Bloco no distrito.
Quero deixar claro que a nossa derrota eleitoral de 5 de Junho, em linha com os resultados nacionais, nada teve a ver com o bom desempenho do cabeça de lista, Dinis Cortes, a nossa primeira escolha desde que foram convocadas as eleições antecipadas.
Quero ainda saudar a votação da CDU que, embora com uma ligeira baixa no distrito, resistiu bem, manteve o seu deputado por Beja e elegeu mais um deputado de esquerda pelo Algarve, juntando-se à minha camarada Cecília Honório.
Dito isto, quero expressar a minha firme convicção de que o Bloco, no país e no Alentejo, está preparado para reagir com perspicácia política e nervos de aço à derrota eleitoral. Fizemos o que tínhamos que fazer e realizámos uma boa campanha, com várias presenças de Francisco Louçã: na OVIBEJA, na chegada a Beja de automotora, no Festival Islâmico de Mértola e no comício de Castro Verde, onde o Bloco consolidou uma votação acima dos 8%.
Sabíamos que enfrentávamos uma conjuntura muito difícil. Em 2009, para o povo de esquerda tratava-se de castigar Sócrates e de retirar a maioria absoluta ao PS, com o PSD de Manuela Ferreira Leite derrotado à partida. Em 2011, a miragem do “empate técnico” entre PS e PSD, alimentada pelas sondagens, levou muitos eleitores a optar em vão pelo “mal menor”.
Em todo o caso, com um “núcleo duro” bloquista acima dos 5%, com oito deputados e uma votação praticamente igual às das legislativas e presidenciais de 2005, o Bloco está pronto para enfrentar a direita no governo e para novas convergências à esquerda, enquanto o PS será uma oposição manietada pelo acordo com a troika, associado ao PSD e CDS.
Prontos para o combate à política de direita, queremos deixar claro que a melhor solução foi (é sempre) devolver a palavra ao povo. Se continuássemos a afundar-nos no pântano político, daí a uns tempos haveria um autêntico tsunami da direita… E virou-se a página Sócrates, que não deixa saudades a ninguém, como se verá até no próximo Congresso do PS.
<b>O dia seguinte</b>
Na campanha eleitoral foi apenas aflorada a ponta do iceberg do memorando de entendimento com a troika. O que está para vir é bem pior: congelamento de salários e pensões; recessão já anunciada para os próximos dois anos; aumento brutal do desemprego e cortes no respectivo subsídio; mais impostos sobre os rendimentos do trabalho e pensões; continuação do regabofe fiscal para a banca, que se vai financiar a juros baixos para praticar taxas de usura.
A privatização da Águas de Portugal, dos CTT e das linhas suburbanas da CP e da REFER, entre outras, vão acelerar a desertificação do interior. Até a democracia local está risco, com cortes cegos de autarquias: segundo o critério aplicado na Grécia, dos actuais 14 municípios do distrito de Beja só subsistiriam Beja, Odemira, Serpa e Moura!
O resultado destas medidas está à vista na Grécia e na Irlanda. É tempo de resistirmos e exigirmos desde já a renegociação da dívida, se não nos queremos ver (ainda mais) gregos… A propósito, recomendo vivamente o filme em http://www.debtocracy.gr/indexen.html.