O panorama jornalístico português, na sua vertente editorial de nível nacional, é riquíssimo em títulos desportivos, de escândalos e de leitura cor-de-rosa, mas paupérrimo em publicações denominadas “sérias” ou generalistas. Neste campo há dois jornais de referência: o diário “Público” e o semanário “Expresso”.
Este último título está a viver uma nova etapa nos seus 33 anos de existência, no intuito de competir com o novel jornal nacional “Sol”, que apareceu no mercado com a intenção declarada de ocupar o lugar do “Expresso” na escolha dos leitores de semanários.
O recém-nascido semanário português (tetraneto deste “Soberania do Povo”, que o antecedeu em cerca de 130 anos) criou expectativas com a ideia anunciada de que iria ser um jornal diferente de tudo quanto, no género, é conhecido.
Era a conversa habitual dos promotores de produtos novos, obedecendo à efusiva intenção dos seus criadores que sempre imaginam o seu projecto excelente! Mesmo tendo consciência de que assim era, perante tal anúncio — e até porque o projecto não partia de novatos cheios de sonhos, mas de quem tem idade e experiência para saber o que diz e o que faz —, fiquei curioso. Tanto mais pelo facto de eu ser profissional do sector: fui gráfico e ilustrador n’“O Primeiro de Janeiro” e no “Jornal de Notícias”, e criei o grafismo de várias publicações de imprensa, entre as quais se contam o vespertino “Notícias da Tarde” e o jornal desportivo “O Jogo” (primeira fase).
Como profissional fiquei com imensa curiosidade perante a propagandeada inovação gráfica que iria transformar aquele novo título numa coisa nunca vista, diferente de tudo quanto é jornal, inovador sobre todos os prismas. Algo que não seria deste mundo, pensei! Se o futuro das publicações jornalísticas é o tecnológico jornal digital; se este novo título aparece como uma ponte entre a actual e a futura forma daquilo que consideramos ser um jornal… que raio de imagem haveria de ter para ser tão diferente e inovador?!… Seria impresso em papel comestível, como já em tempos se fez com cuecas de senhora? Teria chips dissimulados nas fibras do papel para transmitirem movimento às fotografias? Teria som? … Cheiro, que não o da tinta tipográfica, mas, de aromas diversos identificadores dos conteúdos?!
O que é um “jornal diferente”? Terá a última página na primeira, e a primeira na última? Lê-se ao contrário? A fazer o pino, ou como os árabes, que lêem da direita para a esquerda?
Fiquei ansioso para ver o novo jornal e reservei-o no meu quiosque do costume, não fosse ele esgotar e, em vez de ver o “Sol”, ficasse a ver navios. Aquela maravilha tecnológica do jornal com cheiro, som e movimento, não era para perder por nada deste mundo!
Quando, finalmente, e com curiosa sofreguidão, toquei no “Sol”, senti o mesmo que sinto apalpando o “Destake”! Era de papel… de jornal…, constatei. Virei as páginas, uma após outra: cheiravam inebriantemente à familiar tinta de impressão tipográfica, à mistura com o aroma próprio do papel específico da imprensa. Tinham títulos, textos, fotos inanimadas (faltava-lhes o tal efeito dos milagrosos microchips por inventar!), caixilhos, negativos, fundos com tramas… Tudo soluções gráficas usadas por todos os criativos da área, incluindo-me no lote deles desde o tempo em que criei grafismos!
Os textos obedeciam ao esquema técnico da construção de notícias, e a sumidade opinativa chamada Marcelo Rebelo de Sousa ficou aquém do que seria de esperar (culpa sua por nos ter habituado a melhor). O seu diário quase íntimo, e a sua ida ao “Garrett” do Estoril com o Francisquinho que não gosta de bolos, talvez seja óptima conversa para manter com uma qualquer tia da linha, mas não para artigo de jornal nacional e de referência!
As semelhanças entre os dois semanários são muitas, desde logo pela forma e pelo género. Por isso o novo projecto resultou num “Sol Expresso”! Reconheço que tem um aspecto limpo e que está bem conseguido. (Haveria de ser melhor?! …).
A expectativa que apontava para algo superior só foi razoavelmente satisfeita no grafismo do título: uma escrita gestual (já ensaiada pelo “Crime”) que mesmo assim podia ser melhor conseguida; aquela onda (ou lago? Ou montanha? …) não me convence.
O espanto que eu guardei para ser consumido no momento da observação do primeiro “Sol”, tornei-o a guardar em boa medida porque o produto não pedia o seu total consumo.
Espantar-me-ei, sim, se dentro de meia dúzia de meses o “Sol” mantiver a tiragem em níveis que vaticinem um futuro risonho para a viabilidade económica do produto, neste país onde ler é um luxo e a vontade de o fazer uma dádiva da Natureza, que foi tão avara em semear o gene do gosto pelas letras e pela informação de qualidade no cérebro dos meus compatriotas!

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