No princípio dos anos 80, chegou ao serviço de Medicina II um novo médico estagiário, vindo do Porto, que o director de serviço, dr. Escoval, colocou a trabalhar comigo. Era o Rui Sousa Santos e o início de uma amizade que leva 30 anos.
Findo o estágio no Hospital, optou pela carreira de Medicina Familiar, mas todo o seu valor pessoal e as crescentes responsabilidades que ia tendo no PS, levaram-no a ocupar vários cargos políticos em Lisboa e em Beja, até que há alguns anos voltou ao seu lugar de médico de família, nesta cidade. Por pouco tempo, já que foi nomeado vogal da Administração Regional de Saúde (ARS) do Alentejo, rumando desta vez até Évora.
Até que, no meio das várias conversas que sempre mantivemos, recebi um telefonema do Rui a dizer-me que tinha sido convidado para presidir à administração do Hospital de Beja. Mas não queria aceitar o lugar sem ouvir a opinião dos médicos mais responsáveis, que foi unanimemente positiva. Até porque estávamos a sair da gestão de má memória do Hospital SA e a presença de um médico à frente da administração era para todos nós essencial. E o Rui foi, de facto, o pacificador e aglutinador das várias sensibilidades, o que numa casa com muita gente sempre acontece.
Mas o espírito de missão destes lugares é difícil e comporta riscos e sacrifícios pessoais, profissionais e, acima de tudo, familiares. A unificação do Hospital e dos 14 centros de saúde do distrito, na Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo (ULSBA), tem sido uma tarefa complicada. E a tradição portuguesa sempre foi de contrariar as mudanças! E sempre foi mais de criticar do que colaborar.
Mas o Rui nunca foi dos que desistem de lutar, nem de virar as costas às responsabilidades. Por isso, além de presidente da ULSBA, era o presidente da Concelhia do PS de Beja. E a sua preocupação nas nossas conversas era como motivar todos os colaboradores da ULSBA na construção de uma nova realidade na saúde e fazer uma intervenção política na Concelhia que não cansasse as pessoas, antes fosse ao encontro dum sentimento de esperança que mora sempre nos que acreditam que é sempre possível mudar para melhor.
Este era o combate que o Rui vivia com entusiasmo e a capacidade que lhe reconhecíamos. Que ganhou da maneira mais nobre que só os eleitos são capazes. As muitas centenas de pessoas presentes na sua despedida significaram tudo isso.
O Rui, para além de bom profissional, gostava de ler, gostava de jazz e música clássica, tinha a paixão do Benfica e era um entendido nas novidades informáticas e electrónicas. Foi também um colaborador da primeira hora no projecto do “Correio Alentejo”, um primeiro grito de coragem e de liberdade nesta cidade que foi possível porque as pessoas acreditaram, como acreditaram depois no Jorge Pulido Valente.
E para além de tudo isto, o Rui tinha principalmente a paixão da família. Algumas das nossas conversas foram ao serão, na sua casa, para desfrutar da presença da sua companheira de sempre, a “Micocas”, mãe dos seus dois rapazes alentejanos. Um beijo para esta mulher, que foi sempre o apoio discreto, mas fundamental, na vida de enorme sucesso pessoal e profissional do seu marido.
Com o Fausto Correia e o Rui vejo partir em pouco tempo dois amigos de verdade, que se dedicaram à causa pública com entusiasmo, em detrimento da sua vida pessoal e familiar. Como muitos soldados que dão a vida pela pátria em combate, também estes heróis da causa pública deixam as suas famílias em nome daquilo em que acreditam. E deixam os seus amigos a pensar que esta sociedade cada vez mais materialista e menos humanista tem de saber premiar com justiça, aqueles que, como disse Camões, “por obras valorosas se distinguiram”.
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