Redistribuir a riqueza

Quinta-feira, 17 Setembro, 2020

Jorge Pulido Valente

É hoje bem claro para todos que o paradigma em que assentou o modelo de desenvolvimento da sociedade capitalista moderna está em crise profunda, se não mesmo esgotado. Crescer com base apenas no aumento da produção para o consumo pelo consumo, não é sustentável nem do ponto de vista económico nem ambiental.
Por outro lado, a visão da esquerda anticapitalista de que o cidadão tem todos os direitos, cujos custos devem ser assegurados pelo Estado, e cada vez menos deveres também é insustentável e tem efeitos perversos. Na verdade, o que resultou desse modelo irresponsável da esquerda foi o aumento brutal das despesas do Estado através do alargamento de serviços gratuitos, mesmo a quem deles não necessitava, porque os podia pagar, criando, no fundo, uma (des)igualdade social e uma insustentabilidade financeira. E fê-lo recorrendo, por um lado ao crédito, endividando-se inconscientemente é, por outro, aos impostos sobre o trabalho da classe média e não dos que mais ganham, nomeadamente o sector financeiro e os seus principais agentes especuladores.
O Estado se, por um lado, seguiu um modelo de esquerda marxista no que respeita à atribuição de direitos igualitários independentemente do rendimento, por outro, comprometeu-se com o capitalismo financeiro especulativo ao não exigir nem cobrar o contributo do mesmo para alimentar o sistema, do que resultou o crescimento escandaloso das fortunas dos ricos e muito ricos. Ao ponto de, agora, alguns virem declarar que esta situação é injusta e “oferecerendo-se” para pagarem mais impostos…
Todo este sistema alimentou e engordou artificialmente até à obesidade não só muitos dos que, agora, perante a factura dos injustificáveis empréstimos ameaçam com a fuga de capitais virtuais, como, também, aqueles que tinham lugares de grande responsabilidade no sistema financeiro (e por isso eram pagos principescamente) e tomavam as decisões de emprestar. Alguns dos investimentos (sobre)avaliados em milhões para concessão de empréstimos com condições excepcionais revelam-se agora verdadeiros elefantes brancos que não geraram os resultados prometidos em termos de criação de riqueza e postos de trabalho.
Portugal e a Grécia são os exemplos mais gritantes deste modelo perverso e artificial.
Como é que em países tão pobres e de tão baixa produtividade como estes é possível e aceitável haver empresas privadas, públicas e público-privadas com lucros e salários de gestores impensáveis e até ofensivos?
Perante este quadro e tamanha crise, o Estado tem que necessariamente assumir com determinação o papel, sobretudo, de regulador e, ainda mais, de redistribuidor da riqueza.
Por que não, por exemplo, nivelar consumos e ajustar salários através de vários mecanismos de redistribuição da riqueza, nomeadamente novos impostos e taxas que incidam sobre quem ganha ou obtém lucros acima de determinados patamares e, portanto, mais pode pagar?
Se os muito ricos deixarem de ser tão ricos para que os pobres deixem de ser tão pobres, virá algum mal ao mundo? Não seremos todos mais felizes?

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