Das memórias que tenho das vivências da minha infância e adolescência, sempre me lembro de tempos de dificuldades. Muitas. O meu pai teve que emigrar para França, à semelhança de muitos outros portugueses que, pura e simplesmente, estavam à rasca.
Convivi, de perto, com os problemas com que a família se confrontava e devo confessar que, apesar da pouca idade e da inerente sensação de impotência para ajudar a ultrapassá-los, me senti, muitas vezes, talvez por isso, à rasca.
Cresci, sabendo o valor do dinheiro e a sua importância para a subsistência da família, sem exigir nada e dando valor a tudo. Mesmo quando o tudo era muito pouco.
Quando casei não tinha casa, nem pai rico, pelo que não pude ir ao Banco contrair empréstimo para compra de casa própria e tive, como tantos outros jovens casais, de alugar casa. E, devo confessar que, quando mais tarde, tive que contrair encargos para comprar a minha casa, foram muitas as ocasiões em que, sempre que surgia uma despesa extra, me via à rasca para conseguir satisfazer esse encargo, obrigando a uma ainda maior contenção das despesas familiares.
Isto tudo para dizer que, como grande parte das pessoas da minha geração, sabemos, por um saber de experiência feito, o que é viver à rasca. Clarificando, nesse tempo, não fomos surpreendidos pelas faltas, pela escassez. Porque sempre as tivemos.
No próximo dia 12, a geração dos meus filhos e dos filhos dos meus amigos parece que vai para a rua protestar. Porque está à rasca.
Têm formação superior mas, muitos, não têm emprego ou têm emprego precário (contratos a prazo ou recibos verdes). Estão, por isso, à rasca.
E porque não têm empregos, não constituem família e vão ficando em casa dos pais. Que, como bons pais, cumprem a sua obrigação e os vão sustentando. Mas, para além do essencial, do obrigatório, ainda lhes compram o telemóvel e pagam o respectivo encargo mensal, quase sempre exagerado. Pagam a carta de condução, compram o carro e pagam o consumo do combustível. Dão, mensal ou semanalmente, a mesada para as idas ao café, ao bar, à discoteca. Compram a roupa (de marca), os ténis (da moda). Quando conseguem, ainda pagam as férias e os fins de ano, em grupo, com os amigos. Compram os Cds, os computadores, os Ipods e os Ipads. Compram. Pagam. Compram. Pagam. E para que os filhos não se sintam à rasca, como eles se sentiram na sua infância e juventude, são eles, os pais, que começam a ficar, outra vez, à rasca.
No próximo dia 12 a geração dos meus filhos e dos filhos dos meus amigos parece que vai para a rua protestar. Porque está à rasca.
E os pais desses filhos, que estão à rasca, começam a pensar se não deveriam, também, juntar-se a eles, uma vez que estão à rasca há muito mais tempo do que eles e se esta manifestação é para resolver os problemas de quem está à rasca, o melhor, mesmo, é irmos todos, o país inteiro, governados e governantes, porque, afinal, estamos todos à rasca. Uns porque não têm emprego. Outros porque têm emprego mas são mal pagos. Uns porque ganham melhor mas sofreram cortes nos salários. Outros, porque ganham bem mas queriam ganhar mais. Uns porque não têm dinheiro para pagar aos seus empregados. Outros, porque têm dinheiro mas acham que devem investir na empresa e não pagar mais aos seus empregados. Uns, porque acham que já pagam muitos impostos. Outros, porque acham que os impostos que se pagam não chegam para aguentar o país. Que está à rasca.
Por uma vez, parece que estamos todos na mesma. Ou seja, à rasca. Só não me parece que esta igualdade seja lá grande coisa…Ou será que pode vir a ser?
Mas que parva que eu sou…!
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