Qualquer coisa de Alentejo

Quinta-feira, 17 Setembro, 2020

Jorge Serafim

contador de histórias

Digamos que depois da obrigatória visitinha à feira regressamos ao aconchego do nosso lar com a estranha sensação de que o evento está cada vez mais temático. Ou por outras, universalmente temático. Não sei se me faço entender no busílis da questão. Talvez acrescentando uma achega… Ora bem, durante o percurso efectuado pelo recinto deparamo-nos nada mais nada menos com: vendedores de filtros que servem para apaziguar as más águas consumidas pelos cidadãos; vendedores de aspiradores de ácaros, brotoeja e tudo o mais que provoque toda a qualidade de rinites no narizote; vendedores de colchões que reduzem à insignificância qualquer gajo que saiba amanhar uns ossinhos, pois garantem eles que, para a coluna não há remédio mais endireitado. A salientar que a crer nas palavras dos promotores do abençoado produto, nem ressonanço nem flatulência se atrevem a ocorrer quando um homem entrega o corpinho a esta qualidade de descanso. Há cadeirões que fazem massagens quase gratuitas, não fosse a carteirinha do consumidor pagar qualquer coisinha a rondar os quatrocentinhos contos de réis. Há mesinhas de cabeceira, sofás, cómodas, camas, armários de cozinha, esquentadores, ares condicionados, loiças sanitárias, caixilhos em alumínio, equipamentos para hotelaria, equipamentos informáticos, equipamentos para equipar outros equipamentos, enfim tudo o que é imprescindível para um gajo se ir governando nesta vida. Mas o mais atractivo é a secção internacional. A secção que universaliza o evento como nunca. Do Paquistão vieram batuques, tecidos e bijuteria. Da Guiné chegaram bijuteria, tecidos e batuques. Os marroquinos trouxeram bijuteria, tecidos e não me recordo se algum batuque. Indios genuínos do norte da América por lá andaram tocando e bailando carregando, literalmente, a tenda às costas. Mais os <i>habitues</i> do Perú, da Bolívia e mais os tipos da genuína caipirinha brasileira. Quanto aos chineses, a verdade é que já não passamos sem eles. Sim também é verdade que lá estiveram as ovelhas da região, as cabras da região, os bois da região, as vacas da região, os vinhos da região, os enchidos da região, o pão da região, os municípios da região, as associações da região e um pavilhão inteiro do NERBE cheio de vasos com flores e estas, francamente, não me pareceram da região, mas mesmo assim, não deixei de sentir: todo o mundo deste mundo e qualquer coisa de Alentejo.

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