Portugas

Quinta-feira, 17 Setembro, 2020

Hugo Lança Silva

professor do ensino superior

Eu sei que não é simpática a premissa, mas o mais grave problema de Portugal são os portugueses, um estranho povo incapaz de se governar e deixar governar! A forma como cultivamos a maledicência, o boato e a calúnia são quase ternurentos, não fosse o pequeno detalhe de ser patético! Porque a mesquinhez e a inveja, apesar de características fundamentais da portugalidade, não deixam por isso de ser ridículas!
Os jornais, as televisões, as rádios e a Internet enchem-nos a paciência com o brocardo da crise, incapazes de perceberem o essencial, que pior que a crise do deficit ou das finanças públicas, pior que a crise na economia produtiva, que ainda pior que a praga do desemprego e da miséria, a mais grave crise que abala o nosso Pais é a crise de valores, de honra e ética!
Estas palavras azedas, não se escondem sequer numa qualquer constatação recente, num qualquer pseudo-facto que me tenha libertado um espasmo pessimista: encontram sustentação numa análise ao que se vai dissertando e vomitando por aí!
Dentro de cada português esconde-se um génio, um exímio especialista em assuntos gerais, alguém cujo extremo talento apenas não foi reconhecido por culpa de qualquer outra pessoa; para quem tem dúvidas do que fica escrito, basta ver os verdadeiros tratados de filosofia e política que quotidianamente são recitados em cafés e tascos das nossas cidades, vilas e aldeias! Poderá algum leitor mais desatento, arguir que o portuga lida com prazer sensual com a corrupção, não cometendo a insensatez de votar em alguém apenas pela singela razão de que é corrupto encartado, que adora pedir e oferecer “cunhas” que cospe no chão, joga todos os tipos de lixo na rua, que é incapaz de ser pontual, mas é magnífico na arte da gazeta, mas, todas essas qualidades são meras idiossincrasias que não afastam o essencial: dentro de cada português esconde-se um génio incompreendido! Infinitivamente melhor do que qualquer outra pessoa, com excepção dele próprio!
E é por isso mesmo que o tuga é exímio em criticar todos os outros: especialmente os políticos, que convenhamos, são sempre um alvo acessível! Ou quem tem uma vida mais confortável com a nossa, porque estamos absolutamente convictos que aquilo que os outros têm, são coisas que por direito deviam ser nossas!
O que ajuda a explicar muitas coisas! E uma delas é muito preocupante: cada vez mais, os portugueses mais valorosos, aqueles que com mérito e muito esforço constroem carreiras profissionais, fogem dos lugares políticos, abrindo verdadeiras avenidas onde desfilam incompetentes! Porque se é verdade que muitos afirmamos que não nos importam o que os outros dizem de nós, temos ciência que a frase é uma falácia e que ninguém gosta de ver o seu nome enxovalhado em praça pública, quase sempre por uma corja de corajosos que se esconde no anonimato ou de penumbra de ninguém saber quem são!
Já o escrevi no passado, volto a fazê-lo hoje, com a certeza certa que o irei repetir no amanhã: agora mais do que nunca, Portugal precisa de pessoas competentes e credíveis, com coragem para traçar um rumo para uma nação confusa e perdida: o drama é que em Portugal ter credibilidade é uma impossibilidade natural…

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